“Selección Natural” não é só o primeiro grande projeto de websérie na Colômbia, mas uma produção audiovisual que quer quebrar tabus, ao romper com o discurso tradicional da televisão no país, oferecer qualidade cinematográfica na rede e debater a homofobia.

“Somos os novos do panorama, é a primeira grande produção que assumimos juntos, e decidimos inovar em muitas coisas”, disse à Agência Efe o produtor geral, Pedro Luis Mendoza.

A série tem o selo da Helena Films, uma produtora audiovisual que pretende manter uma característica multidisciplinar, embora foque na concepção, no desenvolvimento e na realização de experiências através da linguagem audiovisual, digital e interativa.

O grupo de amigos que iniciou a websérie se conheceu enquanto estudava cinema na Universidade Nacional da Colômbia, instituição da qual saíram algumas das grandes pérolas da sétima arte no país, como Ciro Guerra, autor de “O Abraço da Serpente”.

A Helena Films, em cujo canal do YouTube o trabalho pode ser visto, aposta no talento jovem e formou um grupo de trabalho “comprometido e que assume o risco” de se movimentar por uma causa, como aconteceu em “Selección Natural”.

Nesta primeira grande aposta, a produção usou o cinema policial como fórmula para mergulhar em conceitos complexos como o cinismo ético, a dupla moral – especialmente na política – e a homofobia e a transfobia.

O ponto de partida é o misterioso assassinato de uma drag queen, Madorilyn Crawford. O crime desperta uma discussão na sociedade, a começar pelo próprio promotor do caso.

“Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência”, disse Mendoza, com um sorriso nos lábios.

“Esperamos gerar polêmica. há conteúdos em redes sociais de gente em problemas com política, Deus ou a família. A série não é só feita para quem possa estar de acordo, mas para quem não esteja, quem é conservador, transfóbico, homofóbico e acredita na família tradicional”, acrescentou.

Por isso, ele afirma que espera “iniciar um debate profundo” que acredita que ocorrerá de maneira orgânica.

A série, que tem um novo capítulo a cada terça-feira, deveria parecer uma quimera no início em um país no qual obter financiamento para um produto audiovisual de qualidade é quase impossível.

Graças ao compromisso do grupo e ao trabalho constante, foi possível enxugar o orçamento por episódio a US$ 20 mil, aproximadamente metade do que custa à indústria local em média.

Para Mendoza, “seria impossível” uma televisão colombiana embarcar em um projeto como “Selección Natural”, já que “seus conteúdos têm outro enfoque”, e a série, com capítulos de dez minutos em sua primeira temporada, “não é para crianças”.

“Tem um ponto de vista e põe o dedo na ferida. Digamos que esse é o objetivo, incomodar não por incomodar, mas por dizer algo. Parte da aposta era isso: não queríamos uma história fácil, mas apostar em algo diferente”, explicou.

da Agência EFE