Western é um filme que subverte expectativas ressignificando signos do faroeste. Distante do velho oeste americano, a história é ambientada na fronteira entre Bulgária e Grécia, que serve de potente local para a trama, com todas as reminiscências que essa região da Europa traz por conta de seu passado de conflitos bélicos e políticos. Quando uma pequena cidade do local recebe a vinda de operários alemães para a construção de uma hidrelétrica, essas heranças retornam, manifestando-se na conturbada relação que os forasteiros passam a ter com as pessoas do local. Na condução da trama está Meinhard (Meinhard Neumann), um dos trabalhadores da obra. Homem calado, solitário, que lida com demônios interiores por conta de acontecimentos do passado durante conflitos armados.

Ou seja, forasteiros chegam a um local desconhecido, que eles consideram selvagem, buscam se impor através de uma postura não-diplomática, são mal recebidos pelos nativos, a tensão entre os lados está presente ininterruptamente, e valores como honra e companheirismo fazem parte das relações do protagonista. Os elementos do gênero estão aqui, só que numa outra roupagem, mais objetiva, contemporânea, e conduzidos por uma mulher, a diretora Valeska Grisebach, que transita com segurança por este gênero que se notabilizou como um dos mais masculinos do cinema.

O ritmo cadenciado exige paciência na primeira hora. A falta de uma estrutura narrativa que crie pontos de virada, ou se utilize das conhecidas artimanhas de construção de roteiro, dão espaço a uma trama quase não-narrativa de acontecimentos que se alternam entre o banal e a explosão iminente, que demonstram segurança da direção em relação ao que se quer dizer com o filme, sem forçar a mão na temática ou no estilo.

Grisebach estabelece a rotina do local, e como ela é alterada pela chegada dos alemães, a natureza deste serviço, e como Meinhard se relaciona com os desconhecidos: seus colegas de trabalho, e os nativos da aldeia. Conforme os personagens ganham tempo de tela, e conhecemos melhor suas características, o andamento lento ganha outro viés, mais humano e complexo, mostrando aqueles homens como figuras que vão além de serem apenas a reprodução caricatural do local de onde nasceram.

Para espectadores menos pacientes, Western pode parecer um filme monótono, em que nada acontece, mas a tensão nessa conturbada relação entre os alemães com eles mesmos e com os moradores é suave, mas contínua. Ainda que os conflitos mais evidentes estejam todos presentes na trama, Grisebach parece ter mais interesse nas entrelinhas, nas relações humanas mais elementares que Meinhard estabelece, e do quanto isso subverte (ou não) os estereótipos ali postos. Isso fica colocado de maneira satisfatória no tempo de tela que o filme dedica a relação dele com Wanko e com o cavalo branco que encontra pela região, por exemplo.

Contando com um elenco formado por não-atores, o filme possui rostos  desconhecidos que trazem um diferencial admirável à produção. Acreditamos intuitivamente que todas aquelas pessoas de fato são daquele lugar, ou são operários da hidrelétrica, e que suas linguagens corporais são coerentes com o ambiente e com as situações postas. Sem dúvida o destaque é o protagonista, Meinhard Neumann, que cria uma figura calada, observadora, que varia entre a gentileza e uma violência iminente de maneira gradual. É o tipo de atuação de silêncios e olhares, em que a direção está mais interessada em estabelecer uma presença do que qualquer outra coisa, e isso realmente é o suficiente.

Se não é dos filmes mais marcantes do ano, certamente está entre os que valem a pena ser descobertos por conta da sua capacidade de subverter o gênero no qual se encaixa.