Em sua quarta encarnação, a série A Era do Gelo entra no beco sem saída que aflige boa parte das séries animadas que, como ela, tiveram início na década passada: a falta de ideias.

Ainda que as aventuras de Sid, Manny e Diego nunca tenham sido rivais sérias para as produções da Pixar (Toy Story, Os Incríveis, Procurando Nemo) ou a saga do ogro Shrek, elas sempre estiveram acima dos demais competidores (Madagascar, Happy Feet), graças às tramas bem-cuidadas, aos personagens carismáticos e, claro, às hilárias intervenções do esquilo Scrat. Esses elementos ainda estão presentes, mas, em A Era do Gelo 4, fica a sensação de que já se viu esse filme antes – e muitas vezes.

Tome o roteiro, por exemplo: um terremoto separa o mamute Manny de sua esposa, Ellie, e da filha, Amora. Junto aos amigos, a preguiça Sid e o tigre dentes-de-sabre Diego, ele cruza os mares e enfrenta vários perigos no retorno para casa.

Alguns de vocês sacaram logo: é a história da Odisseia, de Homero, com o mamute no lugar do herói grego Ulisses. Há várias outras referências ao clássico ao longo da trama, algumas delas muito divertidas – o trecho das sereias, por exemplo, é impagável.

Mas essa não deixa de ser uma história batida, e as novidades inseridas para tentar arejá-la não são, também, das mais originais: surge uma avó para Sid, tão biruta quanto o próprio; Diego também ganha um par romântico, a tigresa Shira, que vive um conflito entre a lealdade ao antigo patrão, o malvado capitão Entranha, vilão do filme, e o trio central; e Manny agora tem de lidar com os anseios de sua filha adolescente, que quer poder sair para curtir as festas e paquerar os garotos.

Tem ou não tem cara de repeteco?

É uma pena que os simpáticos personagens de A Era do Gelo se vejam confinados a essas soluções medíocres e a situações requentadas de outros filmes da série. Acredito que a falha não esteja relacionada à saída do diretor brasileiro Carlos Saldanha, responsável pelos episódios anteriores da saga.

Steve Martino assinou o longa Horton e o Mundo dos Quem?, e Thurmeier vem atuando como co-diretor da série desde o primeiro filme: certamente não são dois iniciantes, que caíram de pára-quedas na produção. E o filme anterior, A Era do Gelo 3, dirigido por Saldanha, já incorria em erros semelhantes.

Ao menos, o visual concebido pela equipe de animação é impecável: efeitos de iluminação, textura e uma paleta de cores vibrante certamente irão atrair e hipnotizar o olhar da garotada. E as aparições de Scrat continuam engraçadíssimas e no ponto, emprestando ritmo ao filme sempre que ele parece que não vai não sair do lugar.

Mas é fato: ou A Era do Gelo e congêneres buscam logo uma saída para fugir às fórmulas cansadas, ou Manny, Sid, Diego e Scrat podem ficar, literalmente – ahá! –, na geladeira.

Nota: 7,0