Estamos vivendo uma era de universos compartilhados no cinema, cada estúdio tem um ou tem o intuito de possuir algum. A Marvel sacramentou o seu bancado pela Disney, que possui ainda “Star Wars”. Já a Warner com “Animais Fantásticos” expande a mitologia de Harry Potter e com esse “A Freira” quem diria, cria e fortalece mais uma série de franquias compartilhadas com “Invocação do Mal”, que já possui o derivado daquela boneca, a “Annabelle”.

Não é à toa que James Wan (criador desse universo), possui carta branca do estúdio e tem até uma promessa de franquia de super-herói para chamar de seu: o “Aquaman” será lançado em Dezembro. São filmes geralmente de baixo orçamento que trazem um retorno muito rápido. Quem não deve gostar muito disso é a Universal: o estúdio tentou criar o seu universo com os monstros clássicos e viu a aposta cair com o tropeço do Tom Cruise correndo em “A Múmia”.

Esse ano fomos agraciados por bons exemplares do gênero de terror, como “Hereditário”, e até mesmo outra franquia de Wan ganhou um filme razoável, “Sobrenatural”. Mas a verdade mesmo é que sem a mão do seu criador, “A Freira” é um filme bem do seu decepcionante e, como diria um amigo, “clichezento”.

Vamos à história: um mistério permeia um convento localizado no meio do nada – uma freira se enforca e um padre e uma noviça são enviados para investigar o ocorrido. Ao chegarem no local, percebem que existe algo de estranho e vão precisar enfrentar uma entidade maligna.

Não é de se surpreender o roteiro raso que nem um pires. A aparição da criatura em “Invocação do Mal” é tão pequena que, com certeza, não foi capaz de criar um arco dramático suficiente para gerar um filme solo, algo evidente em “A Freira”.

Aliás, clichê poderia ser o sobrenome do diretor Corin Hardy: ele não tem vergonha de abusar da muleta nem na narrativa e muito menos na maneira como ele a conduz. Os sustos são completamente previsíveis do início ao fim, valendo-se do alto volume do som da sala para pegar algum espectador mais distraído.

Deixo até uma lista de clichês básicos de “A Freira”:

  1. corvos (o que é um filme de terror sem eles?);

  2. fumacinha no chão indicando perigo;

  3. vultos passando;

  4. rádio ligando sozinho (este só perder para o clichê do carro enguiçado);

  5. ranger de portas (rapaz da edição de som fica feliz nesta hora);

  6. lençóis velhos esvoaçando;

  7. criança amaldiçoada (você achou mesmo que não teria?).

Se dar para elogiar algo em “A Freira” é a concepção visual e o design de produção ,porém, os personagens são ruins de dar dó. O primeiro é um padre (Demián Bichir) com um trauma, a outra uma freira confusa (Thaissa Farmiga) com sua missão e o terceiro um rapaz (Jonas Bloquet) que, para mim, é maluco. Primeiro que crush nenhum no mundo me faria pisar naquele convento, ainda mais uma freira, fora que ele precisa treinar melhor o timing dele com as piadas. Os alívios cômicos são poucos e não possuem a menor graça, principalmente ,por não encaixarem muito bem com os momentos onde estão inseridos.

Agora o que falar da criatura? A maquiagem é realmente impressionante e o diretor, pelo menos, demonstra saber como utilizar elementos religiosos para criar atmosfera. O hábito passeando sem rosto em um corredor pode vir até gerar certo temor. Mas, ao fim do terceiro ato, o diretor parece não saber o que fazer com a criatura, que passa boa parte empurrando e rugindo para suas vítimas – teve até um momento que eu pensei que as freiras iriam sair na mão.

“A Freira”, no fim das contas, se mostrou uma oportunidade perdida, de manter uma certa qualidade de uma cinessérie que já tem uma legião de fãs. Uma pena que James Wan volte a dar um pouco mais de atenção para sua cria.