Sentir os acordes da sanfona nos primeiros segundos traz indícios do que veremos adiante. A melodia sofrida com a ternura ingênua vinda do instrumento típico do Nordeste brasileiro criam a atmosfera sendo a tela escura um convite para se jogar nesse universo. Logo em seguida, vemos a origem da música e um cenário duro de mata seca, muito sol dando espaço para um velório de bebê. Seja bem-vindo a “A História da Eternidade”.

Filme de estreia de Camilo Cavalcante como diretor, produção mescla três histórias rodadas em algum ponto do sertão de Pernambuco: um sanfoneiro cego tenta conquistar o coração de uma mãe em luto, a avó recebe a visita do neto vindo de São Paulo e uma adolescente encantada pelo tio enquanto insiste para conhecer o mar mesmo sem a autorização do rígido pai.

Todas as figuras presentes em “A História da Eternidade” são dominadas pela frustração de sonhos perdidos: a mãe vê toda a expectativa de construção da própria família ruir após a perda do bebê, a avó vive a nostalgia de uma época em que estava rodeada dos familiares, o artista sonha no dia em que poderá viver e ser respeitado pelo próprio trabalho, a jovem moça quer apenas conhecer o mar, enquanto o pai dela ainda não compreende a fuga da esposa. Se a vida parece caminhar para a não concretização dos desejos, resta apenas à imaginação suplantar essas ausências ou se entregar à dor seja pela música ou o luto.

As tensões, entretanto, continuam por ali e incomodam a todos. O caldeirão explode no clímax do filme conduzido com brilhantismo por Cavalcante. Remetendo ao já clássico longa de Paul Thomas Anderson, “Magnólia”, o cineasta brasileiro deixa a chuva cair forte no sertão para escancarar todos os segredos e desejos represados. Sexo e violência se misturam em quinze minutos impactantes de catarse.

Seja pelas atuações excelentes de atrizes veteranas como Marcelia Cartaxo e Zezita Matos e a novata Débora Ingrid ou pelo roteiro com doses de Guimarães Rosa, e claro, a sequência com Irandhir Santos cantando “Fala”, “A História da Eternidade” se mostra como um dos mais belos e importantes filmes brasileiros dos últimos anos.

NOTA: 9,0