Famosa por sua trajetória na animação, a Walt Disney Animation Studios tornou-se muito mais do que seu nome sugere. Hoje, ela faz parte do complexo de empresas administrado pela The Walt Disney Company, a qual junto de outras subsidiárias, produz conteúdos comercializados com o selo da empresa majoritária. Com a aquisição de outras corporações, o estúdio passou a possuir recursos necessários para inovar suas produções, entretanto, o custo destas técnicas e o próprio mercado cinematográfico foram fatores preponderantes para que o retorno financeiro também se tornasse um importante elemento na idealização destas obras. Assim, estas associações possibilitaram a expansão do universo animado no cinema para longas metragens em live-action.

Tratando-se de uma denominação comum para jogos e filmes, o termo live-action implica em ações realizadas por pessoas reais, característica que o estúdio não pensou como algo contraditório às animações, mas sim, como um complemento para suas produções. Assim, na década de 1990, a Disney passou a apresentar filmes com atores reais a partir de histórias já vistas em suas próprias animações, porém aquele parecia não ser o momento certo para o gênero, sendo deixado de lado até 2010, quando uma nova era de live-actions foi iniciada.

Entre altos e baixos ao longo dos anos, a consolidação esperada neste ramo finalmente surge. Prova disto foi a grande repercussão em torno dos teasers das atrações futuras “Dumbo”, “Aladim” e “Rei Leão”, sendo que a última tornou-se a segunda melhor estreia de um trailer na internet, com 224.6 milhões de visualizações em apenas um dia, ficando atrás apenas da prévia de “Vingadores: Guerra Infinita”.

Além das ambições de mercado, a nova tendência adotada pela Disney também mostra muito sobre sua relação com o público infanto-juvenil, seu principal consumidor. Com a presença de smartphones e tantas outras novidades tecnológicas, a nova geração não assiste um clássico como “A Branca de Neve e os Sete Anões”, de 1937, igual ao antigo consumidor. Assim, uma renovação de técnicas e narrativas também foi inserida na nova fase pela qual o estúdio passa, principalmente quando os erros e críticas anteriores podem ser avaliados e compensados em uma nova versão das mesmas histórias.


Agora Vai
 

Para analisar quais mudanças pretendidas pelas novas produções e caminhos a serem seguidos, é preciso olhar para iniciativas anteriores. Neste sentido, a década de 1990 apresentou os primeiros live-actions da Disney com obras como

“O Livro da Selva” e “Inspetor Buginganga” sem grande sucesso. Porém, a a repercussão e bilheteria de “101 Dálmatas”, lançado em 1996, mostrou o potencial a ser explorado neste caminho. A aposta, entretanto, levou um baque com a chegada da continuação do longa estrelado por Glenn Close: US$183,6 milhões em bilheteria, valor inferior aos US$320,6 milhões conseguidos pela obra anterior. O resultado levou a Disney a dar um tempo nestas produções, deixando o live-action apenas para a televisão. Somente nesta década, a proposta de rever os clássicos foi recuperada pelo estúdio.

O primeiro filme a marcar esta nova fase da live-action foi “Alice no País das Maravilhas”. A bilheteria excelente – US$ 1 bilhão ao redor do planeta – ajuda a esconder uma história sem inovação. Se “O Aprendiz de Feiticeiro” deu um susto, o sucesso de público e crítica de “Malévola” deixou o caminho livre para que outros clássicos fossem revisitados por novas produções.

As princesas da Disney surfaram na nova onda: “Cinderela” e “A Bela e a Fera” foram as apostas do estúdio, sendo a segunda campeã de bilheteria até então com US$ 1,264 bilhões arrecadados ao redor do mundo. O longa estrelado por Emma Watson, aliás, marcou a tendência de apresentar remakes em live-action como elemento principal.

O próprio diretor e CEO da companhia Disney, Robert Iger, destacou ano passado durante evento em uma universidade dos Estados Unidos, a importância do filme. “Em uma semana, “A Bela e a Fera” alcançou uma bilheteria maior a que o filme original conseguiu durante todo tempo de exibição”, afirmou Iger. Na mesma ocasião, o executivo também enfatizou como característica primordial para o sucesso de suas produções a mistura entre a antiga e nova Disney, afirmando que, apesar de muitos negócios possuírem uma natureza tradicional, considerando o mercado atual, a empresa deve possui estratégias voltadas para o futuro. O que torna possível questionar: esta mistura entre referências pode ser lucrativa e, ao mesmo tempo, agradável para seu público?


Reinvenção visual e narrativa

Mesmo tratando-se de histórias clássicas, é preciso reinventá-las para seus diferentes espectadores. Assim, o estúdio busca não apenas compatibilizar novas tecnologias em animações e captura de movimento, como também recriar as histórias sob óticas diferentes, como foi realizado em “Malévola”, ao focar na antagonista da história original, mudando o direcionamento da narrativa, mas, ao mesmo tempo, permanecendo fiel aos pontos positivos já apresentados pelas primeiras obras.

Esta escolha também destaca pode solucionar um problema enfrentado pelo estúdio: as críticas a suas obras. Neste caso, não se trata apenas sobre a qualidade das produções realizadas, mas sim, fatores que tanto a imprensa quanto o público observam como negativos sobre a Disney e seu posicionamento.

Neste cenário, acusações sobre sexismo e estereótipos tornaram-se um grande destaque mundial. Muito disto deve-se às próprias narrativas sobre as princesas, sempre personagens-título das histórias, porém também protagonistas passivas que dependiam da figura masculina. Reconhecendo as mudanças de público, as próprias animações da Disney iniciaram uma tentativa de transição para este conceito definido sobre a empresa, incluindo longas como “Frozen”, “Moana” e “Valente” para mudar as impressões sobre si, algo assimilado nas live-actions.

Isso inclui também a escolha de atores simbólicos e ligados a movimentos sociais ou minorias. São os casos de Emma Watson em “A Bela e a Fera”, atriz a qual já havia se pronunciado como a favor do movimento feminista, para interpretar a princesa Bela, assim como o time de dubladores do elenco de “Rei Leão” que possui nomes como os premiados James Earl Jones e Chiwetel Ejiofor e os populares Beyoncé e Donald Gloover, os quais já realizam duras críticas sobre o racismo e representatividade negra.


Tendência do mercado

Após todas as tentativas anteriores, ao que tudo indica, a Disney finalmente vai manter uma tendência esperada e retorno financeiro em sua produção de live-actions. A estratégia continua como parte da grande dominação do estúdio sobre o mercado e sua presença massiva. “Malévola 2” e “Cruella” estão vindo por aí assim como Kim Possible”, “Mulan” e “A Pequena Sereia”.

A proposta, entretanto, não se mantém apenas nas salas de cinema, pois, um streaming próprio do estúdio está previsto para ser lançado no final de 2019 com títulos originais em seu catálogo e a possibilidade de estreias exclusivas, se juntando a nomes de peso como Amazon e Netflix.

O streaming mais popular, a Netflix, também está de olho no mercado em live-action. O serviço apresenta “Mogli: Entre Dois Mundos” (história já adaptada pela Disney) sob a direção de Andy Serkis. Ao olhar para antigas histórias, a Netflix adquiriu esta semana os direitos sobre as histórias de “Matilda” e “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, que podem virar filmes ou seriados como as adaptações já apresentadas “O Mundo Sombrio de Sabrina” e a atração de 2019 “Umbrella Academy”. Propostas as quais confirmam o futuro em live-action pretendido pela Disney.