O cineasta espanhol Pedro Almodóvar exibiu nesta terça-feira (17) em Cannes o seu filme mais recente, “Julieta”, o quinto de sua carreira a disputar um dos principais festivais de cinema do planeta, um drama sobre uma mãe dominada pela dor ao ser abandonada pela filha.

“Julieta”, o 20º longa-metragem da carreira de Almodóvar, foi recebido com entusiasmo e já pode ser considerado um dos favoritos à Palma de Ouro, que será anunciada neste domingo (22).

O cineasta também afirmou que não tem nenhum problema em participar da competição oficial de Cannes porque assim demonstra que não é “uma vaca sagrada”.

“Eu, por enquanto, não tenho o talento de Woody Allen e nem de Steven Spielberg”, comparou. Os dois diretores americanos participaram do Festival de Cannes com seus últimos trabalhos, mas fora de competição.

Almodóvar completou: “Já que venho a Cannes, eu prefiro participar da competição. O filme vai receber críticas e prefiro estar em competição porque é mais excitante, demonstro que não sou uma vaca sagrada”

‘Não quero uma biografia’
Além disso, Pedro Almodóvar ressaltou que proibiu que seja escrito algo biográfico sobre ele. “E colocaria isso também em meu testamento”, acrescentou.

“Não quero biografias nem autorizadas e nem não autorizadas. Não permito -disse dirigindo-se aos jornalistas- que ninguém faça uma biografia minha, mas transmita ao futuro a mensagem que minha vida está nessas 20 filmes”.

Almodóvar se mostrou relaxado em entrevista coletiva na qual recebeu muitos elogios por parte dos jornalistas, que centraram toda atenção no diretor, que estava acompanhado por Emma Suárez, Adriana Ugarte, Rossy de Palma, Inma Cuesta, Michelle Jenner, Daniel Grao e Agustín Almodóvar.

Inspirado em Alice Munro
A mãe mais vulnerável de seus filmes”Julieta”, inspirado em três contos da escritora canadense Alice Munro, fala da luta de uma mãe para sobreviver ao abandono de sua filha, que de um dia para o outro decide se afastar completamente de sua vida.

“Sempre me senti muito bem dirigindo e descrevendo as mulheres, o universo feminino e a maternidade. É um tema que a mim sempre resulta muito atrativo”, disse Almodóvar, que com o filme retorna a um tema que na realidade nunca abandonou, três anos depois de “Os Amantes Passageiros”.

Mas Julieta, a protagonista, não é apenas mais uma das mulheres do catálogo de Almodóvar, e sim “a mãe mais vulnerável” de toda sua filmografia.

“Julieta é uma vítima de perdas irreparáveis emocionalmente, que a vão minando como pessoa (…) até transformá-la em um zumbi que caminha pelas ruas, sem direção, sem esperança”, explicou o diretor.

Julieta é interpretada por duas atrizes, Adriana Ugarte na fase jovem e Emma Suárez na maturidade, duas caras novas entre “as garotas de Almodóvar”.

“Por um lado queria imitar o meu mestre Luis Buñuel”, disse o cineasta.

Em “Este obscuro objeto do desejo”, o diretor surrealista escolheu para interpretar o papel de Conchita duas atrizes, Carole Bouquet e Ángela Molina.

Mas ele também disse não confiar nos efeitos da maquiagem para envelhecer uma atriz.

“Queria que se observasse na atriz o tempo que passou, os anos de dor no olhar. Isto é impossível de maquiar”, concluiu.

da Agência France Press