O cinema até hoje não encontrou a fórmula ideal para transformar jogos de videogames em filmes interessantes ou minimamente divertidos. Super Mario Bros (1993), Resident Evil (2002-2012), Doom (2005), Hitman: Assassino 47 (2007) e Prince of Persia – Areias do Tempo (2010) são alguns exemplares cinematográficos que não renderam diversões nas mesmas proporções como quando jogados nos respectivos consoles de videogames. Por isso, o que esperar da adaptação de um game lançado diretamente para os celulares Smartphones, como é o caso de Angry Birds?

Esta situação se complica mais ainda, quando o jogo em questão, não possui uma história específica, afinal, o enredo de pássaros atirados no ar, para se vingar de porcos malvados que roubaram os seus ovos, não tem qualquer finalidade narrativa, a não ser oferecer uma interatividade rápida e de fácil distração para quem joga. Por isso, Angry Birds – O Filme é levemente satisfatório quando analisado através do fiapo desta premissa, sendo eficiente também em entreter a criançada.

A animação apresenta Red (voz de Marcelo Adnet), um pássaro que sofre de acessos de raiva. Após um ataque de fúria mostrado logo na introdução do filme, Red é enviado para participar de sessões de terapia para controle da sua raiva. No lugar, ele conhece Chuck (voz de Fabio Porchat) e Bomba (voz de Mauro Ramos). O trio será responsável em resgatar os ovos roubados pelos porcos depois que estes chegaram à ilha dos pássaros fingindo serem bons amigos.

O roteiro de Jon Vitti (o rapaz escreveu os dois primeiros filmes de Alvin e os Esquilos, por isso não espere nada muito profundo) apesar de esquemático, funciona para o público infantil por encenar uma fábula carismática, que extrai das personalidades de cada personagem, um humor pastelão que investe no ritmo frenético (com piadas a cada 20 segundos) para agradar este tipo de público. Na verdade, a animação utiliza uma narrativa veloz e insana, repleta de estímulos visuais que com certeza encantará a criançada.

Neste aspecto, o visual é um dos grandes destaques da animação: é bem detalhado, ágil na sua montagem, com um 3D eficaz e ostentoso de cores fortes. A direção da dupla Clay Kaytis e Fergal Reilly é hábil por utilizar a câmera sempre em movimento, similar a uma criança cheia de energia para gastar. Esteticamente, Angry Birds é uma adaptação para tela grande que utiliza os efeitos trimendisionais e estereoscópicos com bastante desenvoltura, situação observada na sequência de abertura do filme e na esperada guerra contra os porcos no ato final, que por sua vez, valoriza enquadramentos inusitados e dinâmicos que parecem retirados dos jogos atuais de videogames, fazendo um link direto com a premissa do jogo original.

Se o filme tem um visual despojado, o mesmo não se pode falar da sua estrutura narrativa, que é bem tradicional. Ela segue a linha previsível da Jornada do Herói de Joseph Campbell, sem jamais procurar ousar. Para o público infantil isso funciona, mas o adulto consegue perceber que o ritmo intenso pode ocasionar certo cansaço, até pela falta de variações da própria narrativa. As referências cinematográficas e musicais ajudam a balancear as fragilidades do roteiro: a brincadeira com O Iluminado (1980) de Kubrick e a utilização de Paranoid do Black Sabbath para mostrar o passado de Red, rendem momentos espirituosos.

Ainda assim, é nítido que a falta ao roteiro, um “estofo” maior para fazer diferença. O estilo narrativo ingênuo atrapalha os momentos dramáticos e reflexivos da animação, até mesmo em transmitir uma mensagem pedagógica à criançada. Uma pena porque a relação entre os pássaros que moram em uma sociedade feliz, onde o senso comunitário predomina, renderia um bom contraponto com a realidade dos porcos que vivem em uma sociedade moderna que se utiliza da tecnologia para manipular os ingênuos pássaros. Vitti desperdiça uma boa oportunidade de aprofundar a relação entre colonizadores (modernidade) e colonizados (tradição) oferecida pelo texto.

No fundo, Angry Birds – O Filme agrada mais pelo visual exuberante – as cores fortes e a profundidade das imagens – o aproximando de um jogo tecnicamente impecável na tela de cinema. O ritmo intenso anárquico até remete ao clássico Looney Tunes, só que falta o humor inteligente conciso que turma de Pernalonga apresentava, principalmente na profundidade textual. No geral, fica a impressão de estarmos diante de um jogo de imagens majestosas, mas que apresenta uma jogabilidade pouco efetiva.