Ang Lee já havia provado para o mundo que é um dos cineastas mais versáteis e interessantes do cinema atual, apresentando filmes completamente diferentes uns dos outros, mas todos com grandes qualidades, como Razão e Sensibilidade (1995), O Tigre e o Dragão (2000), Hulk (2003), O Segredo de Brokeback Mountain (2005) e Desejo e Perigo (2007).
E As Aventuras de Pi vai entrar como mais um exemplo da capacidade do diretor, que além de ratificar o seu grande talento como condutor de histórias dos mais variados estilos, também vai ficar marcado por contribuir para a evolução da arte com o melhor uso do 3D que o cinema já viu.
O filme conta a história de Piscine Patel, o Pi (Suraj Sharma na juventude e Irrfan Khan na fase adulta), um garoto indiano que foi nascido e criado em um zoológico. Morando com seus pais e seu irmão, durante a sua infância e adolescência, ele desenvolveu um gosto por religiões, chegando a ter três ao mesmo tempo. Com o passar dos anos, uma crise financeira atinge a sua família, e com isso eles e os seus animais têm que se mudar para o Canadá, e embarcam em um navio. Certo dia uma forte tempestade chega e naufraga a embarcação, e Pi consegue escapar chegando a um bote. Porém, neste mesmo barco está um tigre de bengala, e graças a isso, além de lutar por sua sobrevivência ele vai ter que encontrar uma maneira de coexistir com o animal.
As Aventuras de Pi é um filme focado na sensibilidade do seu diretor, que consegue colocar na tela em seu máximo os vários matizes do riquíssimo roteiro de David Magee, baseado no livro de Yann Martel, e confesso que não me sinto capaz de fazer a análise que o filme merece sem entrar em detalhes da obra, portanto peço que só continuem a leitura se tiverem visto filme.
O longa já começa muito bem ao narrar a infância de Pi, conseguindo contar uma deliciosa história que passa por momentos como a escolha do nome do personagem, a sua vida no colégio, sua relação com as religiões, sua primeira namorada, e o seu primeiro encontro com Richard Parker, e a lição que este momento traz para ele. Com isso Pi é devidamente apresentado para o público, fazendo com que o prólogo se torne mais do que uma simples preparação para o seu próximo ato.
Mas é obviamente em toda a sequência que se passa no mar que o filme se torna grandioso. E chega a esse resultado por saber aproveitar e desenvolver as coisas pequenas, a relação entre os personagens, e de que maneira isso interfere no rumo da história, especialmente entre Pi e Richard Parker.
O filme é extremamente feliz ao mostrar como as circunstâncias transformam completamente os personagens. Pi muda no decorrer da história, se torna mais corajoso, sábio e pode por à prova as suas crenças, ao mesmo tempo que Richard Parker também se torna menos arredio e agressivo com Pi, demonstrando uma espécie de gratidão pelo outro o ter salvo, quando poderia tê-lo deixado à morte no mar. O que faz com que ambos cheguem a conclusão de que, para conseguirem sobreviver àquilo, precisam um do outro. E essa constatação ganha contornos ainda mais belos pela maneira como a trama é desenvolvida por Lee, construindo isso aos poucos, dando o devido tempo às coisas, e com notável sensibilidade.
E a interpretação verdadeira de Suraj Sharma, que carrega o filme de maneira admirável, é excelente ao trazer uma fragilidade que se transforma no decorrer da história, já que Pi se torna mais “cascudo” com o tempo, mesmo que mais fraco fisicamente, mas ainda assim sem perder a esperança de ser salvo. E a atuação dele ganha tons grandiosos, nos momentos, por exemplo, em que surge um navio e este não os salva, ou quando no ápice do desespero, ele diz para o tigre que vão morrer.
Só por isso o filme já seria um êxito enorme, mas ele consegue ir a um nível ainda mais alto ao desconstruir toda a história que vimos até ali, contando uma outra no final, que por motivos óbvios e lógicos, como o pai de Pi falaria, mais se parece com a real. É evidente que não fica claro qual é a história factível, mas as evidências apontam que o que vimos foi uma criação de Pi, e que a verdadeira história seja a que ele conta aos japoneses no hospital, em um monólogo lindíssimo.
Tanto é que o Pi mais velho pergunta qual a história que você mais gosta. Eu prefiro a com o tigre, assim como o escritor do livro, embora ache que prefiro ela pela outra ter dado um significado maior à fantasia.
E Ang Lee merece todos os prêmios por este filme, visto que ele é o maior responsável pela sua grandeza. Um diretor completo, que conduz as cenas de ação e efeitos especiais com a mesma qualidade com que desenvolve momentos de pura emoção, como por exemplo a cena em que Pi conta de maneira emocionada que ficou chateado com Richard Parker por este ter ido embora sem se despedir (a minha cena favorita do filme). A versatilidade de Ang Lee deveria inspirar todas as pessoas que pensam em fazer cinema, pois a sua obra é digna de aplausos entusiasmados.
Já falei tanto sobre o filme, e ainda não citei o seu apuro técnico que é sensacional. Sem medo de errar, As Aventuras de Pi é um dos filmes mais belos visualmente da história do cinema. É um dos poucos filmes que você pode falar que tem que ser visto no cinema em 3D quase que obrigatoriamente. A ferramenta é utilizada de maneira excepcional no filme, contribuindo para os enquadramentos, auxiliando brilhantemente na profundidade de campo, indo além do que fez Martin Scorsese em A Invenção de Hugo Cabret (2011). Um verdadeiro espetáculo visual proporcionado pelo diretor de fotografia Claudio Miranda, que cria planos inspirados, que comunicam muito sem a necessidade de palavras, além de saber utilizar as cores da maneira correta.
Além disso, merecem destaques a cena do naufrágio que é extremamente verdadeira e impactante, nos remetendo a memorável cena da queda do avião em Náufrago (2000), e a criação virtual de Richard Parker que é toda feita por computadores, e que impressiona por sua veracidade.
Ao terminar este texto me sinto infeliz por não me achar com bagagem suficiente, seja de vida, como espectador ou alguém que escreve sobre cinema, para colocar em um texto tudo o que este filme é na tela. Mas o que posso dizer é que quando penso em cinema, penso em trabalhos com este. Uma verdadeira aula sobre o poder da arte.
Excelente filme, imagens fortes e [email protected]
O filme tem uma moral da história. Todo o enredo, muito bem amparado no roteiro, conduz o telespectador para um desfecho surpreendente. Logo no início já se sabe que Pi se salva, pois é ele contando a história. Mas se salva por que? E como? Não se trata da sobrevivência a um naufrágio, unicamente. A salvação de Pi é espiritual. O filme todo é pautado nessa condução da trama. A composição visual é genial, pois Ang Lee confunde o expectador com um mundo que não se sabe ser real ou imaginário. É, realmente, um filme belíssimo Diego. Não somente pelo talento do diretor em arrancar de seus atores interpretações magistrais, mas por compor uma história cheia de simbolismos. No caso, a moral da história está quando Richard Parker, já em terra firme, vislumbra a selva e, sem olhar para trás, desaparece nela. É a deixa para matar a charada do filme. Quem é Richard Parker, afinal? Trata-se de uma provação a Pi, que é luta com a razão e a fé para sobreviver ao destino a qual foi submetido. Ou seja, é confrontado com Deus em carne e osso. E recebe a benção, no final, mesmo que ele não entenda porque o Senhor não se despediu.
Fascinante o filme também gostei da crítica, perfeita narrativa Diego Bauer.
Quando saí do cinema, só conseguia associar o filme ao seguinte provérbio: “Dentro de mim há dois cachorros: um deles é cruel e mau; o outro é muito bom. Os dois estão sempre brigando. O que ganha a briga é aquele que eu alimento mais frequentemente”. (Provérbio Índio Americano) Pra mim, a perfeita narrativa do que somos. Temos sempre dois lados, a “bela e a fera”, literalmente.
Parabéns pela crítica. Muito coerente.
O filme merece um Oscar . Chama o público para refletir sobre os valores que realmente são importantes e as variáveis religiôes que pensamos em acreditar. Merece ser visto por todas as idades…
Diego, eu assisti ao filme em 3D. É de encher os olhos e o coração. Do que vi, creio que a história verdadeira seja a “fantástica”, pois só ela explica a redenção de Pi. O homem adulto que conta sua vida não é como o velho pai, embrutecido por aquela racionalidade atéia e burocrática, mas alguém renovado, que saiu do naufrágio maior do que entrou, que havia perdido o encantamento com a vida quando criança, mas teve sua fé testada por “caminhos misteriosos” e foi conduzido a um poderoso encontro com o Deus da beleza e da vida.
adorei o filme. Toda genialidade do diretor com algo simples de entender e complexo de aceitar. Realidades completamente diferentes e somam ao mundo real ao ideal transformando realidade em estado de espirito. Vale a pena assistir.
Pirando com o Pi (As aventuras de Pi)
As aventuras de Pi é um daqueles filmes que você passa a gostar um pouco mais a cada dia da semana seguinte à sessão. O recurso de utilizar o desfecho da história para desconstruir a realidade que o expectador foi levado a acreditar durante toda a narrativa, com o protagonista apresentando nos minutos finais uma versão alternativa para a sequência de acontecimentos após o naufrágio do navio — bem diferente daquela contada durante as três horas restantes do filme — apesar de batido, obteve êxito certamente jamais verificado no cinema.
A comovente e lúdica aventura vivida por um rapaz indiano ao lado de um tigre de bengala num bote salva-vidas durante 277 dias à deriva no Pacífico, com seres fantasiosos e ilhas misteriosas, de repente se vê ameaçada por uma versão impregnada de realidade, num relato cruel que expõe as mazelas da natureza humana, na qual Pi, instintivamente, teria deixado a mãe pra trás para morrer e esfaqueado seu último companheiro de desdita. As duas versões deixam margem a diferentes interpretações sobre a história. E é aí que reside a grandeza do filme. O que há de igual nos dois relatos, segundo o próprio protagonista (que narra a história já adulto), é que o navio naufragou, sua família morreu e ele sofreu, restando a quem ouve as versões acolher aquela que mais lhe agrada.
Na versão “romanceada”, Pi sobrevive ao naufrágio dentro de um bote, acompanhado por uma orangotanga, uma hiena, uma zebra e um tigre, que no outro relato são, na verdade, sua mãe, o cozinheiro do navio, um zen budista e o próprio Pi. O antagonista da história, portanto, o tigre predador, única companhia de Pi durante a maior parte da viagem, era, desde o início, o próprio jovem indiano. A viagem de Pi, de acordo com a segunda versão, portanto, seria uma viagem de arrependimento, na qual, sozinho, o rapaz teria tido que conviver com, além das intempéries e escassez de alimentos, a culpa e o arrependimento por todos os seus atos, do qual só ele tem conhecimento.
O tigre da história seria, então, uma alegoria da emoção do indivíduo, a qual compreende seus instintos (sobrevivência) e sentimentos (egoísmo, culpa, mágoa, medo). O Pi, quando separado do tigre, representa a nossa espiritualidade (ou razão), a qual devemos fazer imperar sobre a emoção para que não pereçamos. A cena na qual Pi (espiritualidade) quase consegue adestrar o tigre (emoção) representa o indivíduo tentando domar a emoção através da espiritualidade. O desfecho da investida, com Pi sendo arremessado na água pelo animal, mostra que esse objetivo não se trata de uma das mais fáceis tarefas.
Sem saber mais lidar com o conflito, em desespero, Pi chega ao ponto de quase matar o tigre, ou seja, tenta por fim às próprias emoções, mas desiste da ideia ao se dar conta que estaria matando a si mesmo. Derrotado, Pi tenta a única opção que resta: deixar-se levar pelas emoções, sem se preocupar em domá-las. Esse comportamento é verificado quando o protagonista chega a uma ilha misteriosa, na qual o tigre anda livremente, e Pi relaxa e deixa de se preocupar em encontrar o seu caminho. Nessa zona de conforto, o jovem se sente aliviado por um tempo, mas aos poucos percebe que a ilha é carnívora e que, se continuar ali, será devorado. Logo, decide voltar para o barco, apesar do tigre.
Chegando até aqui, as demais alegorias são quase autoexplicativas: o mar seria a vida e o barco representaria o próprio ser humano, lidando com o eterno conflito entre a espiritualidade e a emoção. O que, na realidade, retrata perfeitamente aquilo que somos: barcos à deriva, quase sempre sozinhos, onde no fim tudo se resume a uma luta do indivíduo contra ele próprio.
Para quem elege a versão “verdadeira” como sendo a do Tigre, com todas suas fantasias e relatos incríveis, acredita que em nenhum momento Pi esteve sozinho. Neste ponto, o autor traça uma dicotomia entre Religião X Razão, dando a entender que aqueles que interpretam a história dessa forma são as pessoas da Fé, julgando-as como indivíduos que estariam sempre atrás de uma versão fantasiosa para os fatos, com o intuito de torná-los mais palatáveis à capacidade de interpretação do ser humano. E é aí que reside o único (e grande) equívoco do autor.
Acontece que as pessoas da Fé não optam por ter Fé, elas simplesmente a têm. Logo, não se tratam de indivíduos que fogem da realidade, não se trata disso. Simplesmente, a realidade deles é outra. São tais como o Pi: pessoas à deriva com um tigre, em exercício constante de sua espiritualidade, mas certos de que sua natureza limitada é o que dá sentido à jornada.
a realidade é sempre a que queremos acreditar… por isso sempre transferimos o que realmente é!!!
Belo texto, Bruno. Creio que você conseguiu colocar em palavras o que é o filme de uma maneira bem mais satisfatório do que eu fiz.
Obrigado por contribuir com a gente.
Abraço
Caros colegas, não pude deixar de notar uma única peculiaridade que me deixa abismado.
No relato “romanceado” que PI conta, quem come o rato é tigre.
Já no relato mais “verdadeiro” PI diz que quem comeu o rato foi o cozinheiro, que seria retratado pela hiena e não o tigre que representaria a si próprio.
Mas não consigo tirar conclusão alguma sobre esse “erro” quando a história é contada, ou não seria um “erro” e tem algo maior por trás disso? Talvez querendo mostrar que a história verdadeira seja uma ou outra…
Alguém percebeu isso também?
Abraços
bom dia amigos.
como disse o Pedro, eles mesmo o PI, diz que quem comeu o rato foi o tigre sendo o mesmo o cozinheiro, ai fica dificil tirar um conclusao sobre esse fato, sendo que o cozinheiro seria a hiena.
flw.
Todos os comentários aqui postados refletem a profundidade mostrada de forma magistral por Ang Lee, neste filme, o enredo simbolista mostrou bem os nossos conflitos internos e a eterna busca em domarmos nossos “richard Parkers” diante de grandes adversidades. Por isso que defino o nome de PI como Perdido no Infinito (Infinito de DEUS). DEUS sempre está conosco, mas ele nunca se despede (cena da ilha no final do filme) pois um dia ele realmente nos receberá de braços abertos.
Esplêndido seu comentário Bruno Montenegro, tirou algumas duvidas que estou carregando desde que assistir este filme tão filosófico…
Muitas observações interessantes sobre o filme que me deleitaram. Porém acredito que em todas as referências que possam ser feitas ao filme deverão sempre ser acrescidas da informação de que o livro, no qual se baseou o filme, foi inspirado ou mesmo é um plágio de Max e os felinos, romance do brasileiro Moacyr Scliar.
É extremamente filosófico o filme! São muitas alegorias usadas no romance para a construção de uma idéia. São temas profundos como: Fé x Razão! Espirito x Emoção! Fala sobre relacionamentos ( em todos os sentidos) a construção e desconstrução do individuo numa relação, o quanto devemos nos desfazer para que tal relacionamento dê certo! Aborda a questão da religiosidade e sua diversidade teológica… Enfim, é muito rico! Quando acabou o filme eu tive uma forte impressão que não tinha entendido nada… huahauhau… Mas a grande verdade é que eu captei tantas coisas diferentes, que ainda não sei concluir direito a mensagem que o filme me trouxe. Fica então a necessidade de ve-lo uma segunda vez para absorver um pouco mais o conteúdo! Ang Lee é extremamente genial e consegue sempre fazer com que pensemos na vida de forma grandiosa, porém simples.
Terminei de ler o livro hoje. Estou encantada e admirada com essa história surpreendente. Fiquei comovida com a força de vontade que Pi teve para sobreviver…
Irei ver o filme hoje.
Eu fiquei pasmo com esse filme. Ele me tocou profundamente. Eu me identifiquei com o personagem do filme. É um filme espetacular a mensagem é incrível. E esse filme ñ é pra qualquer um ver, se vc é uma pessoa vazia ñ o veja. Agora, se vc é uma pessoa profunda e cheia de filosofia, vc ñ se arrependerá. Eu acredito que a primeira versão é a verdadeira, porque como vimos, ele pergunta a o escritor qual das duas versões ele prefere. O escritor prefere a primeira, aí então Pi diz que essa também seria a da escolha de Deus, e como vimos Pi, permaneceu uma pessoa religiosa e renovada. E feliz com uma bela familia. Se a segunda fosse a verdadeira ele seria no mínimo como o pai dele desiludido, materialista e está ateu. E é isso, adorei a crítica.
Acabei de assistir ao filme (duas horas atrás). Vim à internet buscar opiniões. Gostei da analise do Bruno, bacana! Ao sair da sessão tentei explicar o filme para mim mesmo. Talvez por ser ateu, tenha chegado a seguinte leitura: O naufrágio ocorreu, não é ficção! Porém, nós humanos, gostamos de fantasias, de deuses, de heróis. Pi permeou pelas principais religiões, e diante da realidade dos fatos, decidiu dar duas versões: uma versão para os bobos e uma para os realistas – Ao final ele afirma mais ou menos isto: “É como sobre Deus, você escolhe como prefere seguir acreditando”, a realidade pode ser muito forte para a maioria das pessoas. Eu apenas vejo beleza no mundo se não houver divindades, caso contrário nós seremos uns bostinhas – tudo perde o sentido, o maravilhoso, o espetacular, o infinito inexistirá.
Aqui vai o meu ponto de vista:
– Durante uma conversa que a família de Pi estão tendo durante a refeição, a mãe dele comenta que a ciência explica o que esta do lado de fora, mas o que esta do lado de dentro, não.
– Em outra cena, saindo de casa com seu amigo, ele comenta que a fé seria uma casa com vários quartos; pensarmos na fé como algo vivo; e que não saberemos a força da fé ate sermos testados.
Levando essas 2 “dicas”, podemos imaginar que:
– As 2 versões da história são reais, sendo a versão com humanos o que de fato aconteceu no barco e a versão com animais o que de fato aconteceu dentro dele.
– Seriam os animais representações das religiões com as quais ele cresceu e o tigre a sua fé maior ou Deus por si próprio que o testa o tempo inteiro e ao mesmo tempo o conforta e o da força? (Isso poderia explicar o motivo do tigre não ter olhado para traz no final, seria Deus concluindo seu serviço).
Ao final ele diz que tudo isso foi por Deus.
Muito bem, independente de qual seja a historia real. Naturalmente compensa darmos preferência a historia do tigre que além de ser a historia que ocupa 95 % do filme, é a versão que precisamos abraçar em tempos como o que estamos vivendo hoje, onde, a fé é extremamente importante indiferente da religião.
Adorei o filme e como disse o Bruno, voce se encanta mais a cada dia que passa, pois mais descobertas voce faz sobre os simbolismos utilizados nesse belo filme de
Ang Lee.
Concordo com Thiago quando ele diz que Ang Lee é extremamente genial e consegue sempre fazer com que pensemos na vida de forma grandiosa.
A versão que voce um acredita ser a verdadeira reflete aquilo que voce traz na alma e no coração: Deus ou a Razão? A espiritualidade ou a Ciência?
A dualidade é mostrada nesse filme de forma mágica e comovente, permeada por belas paisagens e componentes da natureza.
O mar representa a vida, o barco representa o homem (físico), o baqueiro a sua razão (intelecto). O tigre é a sua dualidade (a sua emoção ou o seu ser espiritual.
O tigre (dualidade) se torna maior conforme do que voce o alimenta. Se voce o alimenta de emoções negativas (raiva, ódio, desespero, desconfiança, ingratidão, desenperança, dívidas) a vida lhe responde com a tormenta (representada pela tempestade).
Se voce o alimenta de espiritualidade (ou se voce deixa que seu ser espiritual faça as suas escolhas) a vida lhe responde com a paz, com a calmaria, representada pela ilha durante o dia: cheia de alimentos, água potável, etc.
Porém, a ilha durante a noite representa o nosso lado escuro. Ele existe, mas precisa ser combatido todos os dias.
Quando Pi conseguiu domar o seu lado escuro (representado pela cena em que ele consegue domar do Tigre, depois de desenvolver uma estratégia) ele encontrou o seu paraíso, representado pela ilha. A patir daí, ambos (tigre e Pi)(lado escuro e ser espiritual) tiveram paz.
O lado escuro da ilha, representado pela noite cheia de árvores carnívoras, águas ácidas,e paisagens sombrias, mostra que todos nós temos o nosso lado escuro, e que precisamos aprender a domá-lo se quisermos encontrar a PAZ.
Quando o Pi encontrou o caminho (domar o lago escuro e se deixar ser conduzido pelo seu ser espiritual), seu “Deus” ou o seu “Guia espiritual”, recolheu-se, mas não disse adeus, mostrando que Ele estaria sempre junto de Pi e que voltaria quendo ele precisasse. Esta é a cena em que o Tigre entra na floresta e não olha para trás.
Filme extremamente inteligente, profundo, belo, que nos faz refletir sobre a vida, sobre Deus , a espiritualidade, e a nossa missão nessa Terra.
Na verdade não importa se Pi viveu a primeira ou a segunda versão da história, o que importa é que ele conseguiu, por meio da sua espiritualidade, domar o seu lado escuro e viver em paz com a sua família.
Ele mesmo diz isso no filme: “para Deus não importa se a primeira ou a segunda versão é a verdadeira, o que importa é que eu encontrei o caminho”: a espiritualidade.
Se não fosse por ela Pi não estaria vivo!
Alguem percebeu que a ilha carnivora tem o formato de um homem boiando? Ou seja, a ilha era flutuante (era Pi bolando na água em seus devaneios)
Uma cena que me intriga e quando houve a segunda tempestade em que ele quer mostrar a beleza de deus ou que Deus existe para o tigre e por conta disso o tigre quase morre e ele se arrepende muito muito disso será o que será que isso quer dizer?
Segundo a teoria interpretativa denominada A NAVALHA DE OCCAM, quando algum fato ou acontecimento comporta interpretações divergentes, escolha sempre a mais simples.
Assim sendo, o simples é acreditar que a história verdadeira é a que nos foi contada durante duas horas. A suposta história final, contada para ser mais verossímel à cia. seguradora, é apenas isso: uma história mais palatável aos
rígidos padrões japoneses de interpretação e conduta. Para os padrões japoneses, segunda história tem mais credibilidade. Mas, então, teríamos perdido duas horas vendo o desenrolar de uma história fantasiosa e mentirosa?
Não me parece o estilo de Ang Lee.