Confesso que achei o novo Tartarugas Ninja bem divertido. Se essa frase já desanimou você quanto ao resto do texto, coloquei-a bem no início, para não tomar muito o seu tempo. Sem ser memorável, inovar nas adaptações de quadrinhos ou videogames para o cinema, ou mesmo oferecer uma sequência exemplar de ação, este Fora das Sombras é uma boa nostalgia trip direto ao início dos anos 1990, quando o visual cyberpunk da animação criada por Kevin Eastman e Peter Laird e a ideia de quatro tartarugas irmãs, adolescentes, bombadas, de formação ninja e criadas nos esgotos de Nova York por um sensei rato falavam à imaginação de milhões de crianças.

Pelo visto, ainda falam – afinal, o fraco primeiro capítulo do reboot do desenho, dirigido nominalmente por Jonathan Liebesman, mas capitaneado pelo transformer Michael Bay, foi um dos sucessos de 2014, com quase 500 milhões de dólares na bilheteria. Este novo filme (dirigido por Dave Green) começou devagar, atropelado por Invocação do Mal 2, mas avança dois degraus na direção certa: primeiro, sofre menos dos excessos virtuosísticos do primeiro capítulo, que perdia tempo demais naquelas sequências de ação extremamente elaboradas, grandiosas e enfadonhas que são a marca autoral de Bay; segundo, resgata figuras importantes do desenho, como os capangas do Destruidor, Bebop (Gary Anthony Williams) e Rocksteady (Sheamus), e dá um pouco mais de espaço para as interações entre os personagens, sobretudo as Tartarugas.

Logo após os eventos do primeiro filme, o Destruidor (vivido agora por Brian Tee) escapa da prisão numa fuga grandiosa, envolvendo até teleporte. No processo, ele vai parar na dimensão de Krang (voz de Brad Garrett), uma criatura viscosa que vive dentro de uma armadura robô, e que lhe oferece a chance de dominar o mundo ao reunir as três partes de um artefato capaz de trazer Krang e seu maquinário destrutivo à Terra. Do lado de cá do universo, o policial Vern (Will Arnett), responsável pela vigilância do Destruidor, cai em desgraça na polícia e, seguindo pistas do criminoso, junta-se ao time dos irmãos répteis (vozes de Noel Fisher [Michelangelo], Pete Ploszek [Leonardo], Jeremy Howard [Donatelo] e Alan Ritchson [Raphael]), e de April (Megan Fox).

A trama bobinha, assumidamente infantil, do filme, vem sendo bastante criticada em resenhas pelo mundo afora. Mas a verdade é que, na sua despretensão, ela é um diferencial em relação às tentativas de inúmeras franquias de sucesso, como a própria Transformers, Piratas do Caribe e O Hobbit, de serem “sérias” e elaboradas demais. Com seu visual colorido, luxuriante, personagens cativantes (Bebop e Rocksteady são alívios cômicos que funcionam de verdade – Laura Linney, por outro lado, está no filme pra pagar o aluguel) e sequências de ação que empolgam sem apelar pra overdose de destruição em massa, cortes rápidos e ruído tão típica de Bay (a melhor de todas é a perseguição de avião no Amazonas, com direito a uma movimentada luta dentro do Rio Solimões) e efeitos caprichados (com fotografia do brasileiro Lula Carvalho, de Tropa de Elite [2007] e Paraísos Artificiais [2012]) criam um coquetel agradável, e que sustenta a sensação pelas quase duas horas do filme. Ainda assim, faz falta uma maior presença das próprias Tartarugas – quase toda a participação delas no filme é descendo a mão nos vilões ou correndo para impedir alguma desgraça, e o conflito entre os irmãos sobre serem aceitos pela sociedade não convence.

Dá pra melhorar, obviamente – e, com pelo menos mais três filmes da franquia a caminho, segundo a tarta, não vão faltar oportunidades, mas As Tartarugas Ninja 2: Fora das Sombras é um programa divertido, mesmo que facilmente esquecível.