Caio Pimenta

Filme escolhido: O Lobo Atrás da Porta

Cinema nacional se tornou símbolo de comédias estreladas por Leandro Hassum, Marcelo Adnet, Fábio Porchat, Rafinha Bastos ou qualquer outro comediante da nova geração. Fora desse gênero somente superproduções como “Xingu” e “O Tempo e o Vento”, além das cinebiografias de personalidades famosas ganham vez nas telas em alta escala.

Dirigido pelo estreante Fernando Coimbra, “O Lobo Atrás da Porta” traz o suspense em alto estilo para a produção nacional. A mistura de Rashomon com Nelson Rodrigues surpreende com as reviravoltas apresentadas pela trama. Estrela da atual novela das 9, Leandra Leal faz o melhor papel da carreira, enquanto nomes conhecidos como Milhem Cortez, Juliano Cazarré e Fabiúla Nascimento apresentam grandes atuações.

Mesmo longe de ser um filme leve, “O Lobo Atrás da Porta” é acessível para grande parte do público. Isso, entretanto, não comoveu os programadores das redes de cinema presentes em Manaus que deixaram a obra fora de cartaz. Perda grande para os espectadores e, acima de tudo, para a produção nacional sem a possibilidade de mostrar a diversidade temática existente dentro dela.

Diego Bauer

Filme escolhido: O Grande Hotel Budapeste

Ver o trabalho de um autor é sempre interessante, ainda mais quando esse autor é Wes Anderson. Dono de um estilo bastante peculiar, o diretor cria um universo próprio para cada filme que dirige, pensando assim em todas as possibilidades visuais que a sua história exige, com destaque para a direção de arte, sempre maravilhosamente extravagante, assim como a direção de fotografia, que possui um rigor que faria Kubrick sentir orgulho.

Agora imagina ver tudo isso no cinema?

Pois é, aqui não foi possível assistir a “O Grande Hotel Budapeste”, o mais novo filme de Anderson. Aliás, se não me engano, nenhum filme do diretor chegou aos cinemas daqui. Acho que essa é a maior perda do ano para os cinéfilos, pois certos filmes ainda precisam ser vistos no cinema e “O Grande Hotel Budapeste”, certamente, é um desses.

Renildo Rodrigues

Filme escolhido: Inside Llewyn Davis – Balada de um Homem Comum

Você é dono de um cinema e, um belo dia, recebe a sinopse desse filme: cantor folk americano luta para emplacar uma carreira e viver de música, nos anos 60. Você pensa: quem, no Brasil, se interessaria pela história de um cantor folk? Quem, no Brasil, ao menos sabe o que é folk, pra onde vai?

Aí você assiste ao dito filme, na esperança de que ele seja uma história de superação, onde o cantor dribla a inveja, o recalque e as vilanias de um músico rival, que, sem talento, faz de tudo pra tentar sabotar o mocinho – o qual, para fechar o filme com chave de ouro, apresenta um número musical, com direito a dança e um beijo de tirar o fôlego numa moçoila sofrida e com cara de modelo.

Só que Inside Llewyn Davis – Balada de um Homem Comum não tem nada disso. O filme dos irmãos Joel e Ethan Coen (Onde os Fracos Não têm Vez, Queime Depois de Ler) na verdade é uma crônica implacável do fracasso. Contrariando o manual, o personagem-título (Oscar Isaac, numa ótima interpretação) é um artista sensível, talentoso e incapaz de prostituir sua arte, mas mesmo assim não chega a lugar nenhum.

Não pense, porém, que ele é uma vítima. Llewyn Davis é egoísta, irresponsável e rude, e a única preocupação séria de sua vida é mesmo a música folk, a qual, porém, já não encontra público com a ascensão da música pop.

Acostumados a desafiar expectativas, os irmãos Coen fazem aqui um de seus trabalhos mais belos e mais duros, um filme cinzento, melancólico e que não dá respostas fáceis ou confortos ilusórios. Não era mesmo de se esperar que, diante do novo Transformers ou Velozes e Furiosos, este filme chegasse a Manaus. Na verdade, LLewyn Davis não fez sucesso nem nos Estados Unidos, onde foi quase ignorado pelo Oscar, sendo indicado apenas a duas categorias técnicas (Fotografia e Mixagem).

Pelo visto, a mentalidade do hipotético dono de cinema, acima, não é exclusividade nossa. Mas você, que só quer saber de bons filmes e se lixa para expectativas e manuais, não deveria cometer o mesmo erro. Assista Llewyn Davis.

Susy Freitas

Filme escolhido: O Congresso Futurista

Inspirado no livro “O Congresso Futurológico”, de Stanislav Lem, o filme “O Congresso Futurista” tinha muitas razões para agradar ao público: foi o retorno de Ari Folman ao cinema após o sucesso da animação “Valsa com Bashir” (2008); deu à atriz Robin Wright um de seus melhores papeis, ainda que metade do filme seja em formato de desenho animado; e é uma das ficções científicas mais inventivas que o cinema mostrou recentemente.

A trama equilibra momentos muito dramáticos com outros surreais e pitadas de humor para contar a história de uma atriz, também chamada Robin Wright, que, após uma série de escolhas profissionais mal sucedidas, resolve vender os direitos de uso de sua imagem digitalizada para um estúdio. Este a usaria como protótipo para “estrelar” filmes e eternizaria sua beleza, juventude e expressões. Porém, o tal Congresso Futurista do título dá uma guinada na maneira como o processo de captação e uso dessas imagens é feito, o que ameaça a vida humana como conhecemos.

Não deu pra entender direito? É que não quero dar spoilers de um filme que vale a pena ser assistido, no cinema ou (infelizmente) fora dele…