Antes do Oscar desse ano, o Caio Pimenta fez um texto sobre a trajetória de Ben Affleck até aquele momento. E realmente, o ator e diretor pode dizer que passou por muitas fases na carreira.

Se há uns cinco anos atrás, alguém dissesse que o Ben Aflleck seria um diretor de prestígio, e que teria um longa seu ganhando o Oscar de melhor filme, essa pessoa certamente seria chamada de louca, que estaria falando absurdos. Mas foi exatamente isso o que aconteceu.

Affleck nunca foi um grande ator. Premiado no início da carreira, junto com Matt Damon, com o Oscar de melhor roteiro por Gênio Indomável (1998), ele emplacou uma série de projetos com grande orçamento como Armageddon (1998) e Pearl Harbor (2001), e por ser bonitão, e conseguir trazer um bom público aos seus filmes, o ator estava no time dos maiores salários de Hollywood.

Mas só carisma não basta, e com o passar do tempo Affleck foi perdendo cada vez mais força em Hollywood, até chegar o momento em que virou motivo de piada, por protagonizar filmes extremamente criticados como Jogo Duro (2000), Demolidor (2003) e Contato de Risco (2003).

E quando tudo parecia perdido, ele mostra-se como um diretor extremamente talentoso. E não se trata do caso de: ah, como ator ele é um ótimo diretor. Não. Ele é um ótimo diretor em qualquer aspecto.

Chegou fazendo um surpreendente burburinho com Medo da Verdade (2007), filme protagonizado por seu irmão, Casey Affleck (certamente o melhor ator da família), e consolidou-se como uma forte promessa com o ótimo Atração Perigosa (2010), onde Ben mostra que, dentre as suas muitas qualidades na direção, está uma excelente direção de atores, e não à toa que a sua melhor atuação em muitos anos é neste filme, onde ele se dirige.

Mesmo com esse cenário promissor, ninguém poderia esperar por Argo (2012). Mesclando com rara habilidade elementos de filmes comerciais de ação e suspense, com uma capacidade de dar um ritmo constante ao trabalho, e ainda assim mantendo uma pegada autoral, Affleck consagrou-se com este longa, ganhador de Oscars, e ainda por cima entrou no hall das tais injustiças da premiação, quando não foi lembrado pelo seu trabalho de diretor.

Porém, mesmo quando tudo estava caminhando para o surgimento de uma sólida carreira de direção, Affleck dava declarações de que não tinha o menor interesse em deixar de atuar, e que não se considerava melhor diretor que ator.

Quem sou eu pra dizer o que ele deve ou não fazer, cada um faz o que quer da vida, e cada um vive da maneira que quiser. Mas com essa mentalidade, este talentoso diretor pode estar colocando a sua carreira a perder.

Acredito que depois de passar por momentos ruins, e por ter renascido desta maneira, Affleck indiscutivelmente evoluiu como artista, e inclusive como ator. Mas não dá pra comparar as suas capacidades nas duas funções.

Peguemos Argo como exemplo. Aqui ele se coloca como o protagonista do filme, e faz um trabalho competente, conduzindo a trama de maneira correta e focada. Mas este personagem poderia ir muito mais além. Imagina se fosse um Edward Norton, Brad Pitt, Leonardo DiCaprio, Joaquin Phoenix, Javier Bardem, Viggo Mortensen naquele papel? Poderia ter levado o filme para um patamar ainda mais elevado.

Ele até parecia que iria se reinventar como ator, ao protagonizar o novo filme de Terrence Malick, Amor Pleno (2013), e por ter anunciado que estaria no novo filme de David Fincher.

Mas aí surge a notícia de que ele vai ser novo Batman num filme contra o Super Homem…

Vi em portais de notícia que ele não vai ser o Batman apenas nesse filme, mas que será o novo Batman na nova franquia do personagem, e que por conta disso ele já cogita a possibilidade de abandonar projetos na direção, por conflitos de agenda…

Não vou jogar praga, nem torcer pra que dê errado, e que ele quebre a cara, mas isso parece muito um déjà-vu, que aconteceu no final dos anos 90, com o próprio Affleck.

Nada contra filmes de super-heróis, acredito que eles até podem representar desafios interessantes, artisticamente falando, para os seus realizadores, mas Ben já trilhou esse caminho e quebrou a cara, e realizando um outro tipo de cinema ele se tornou grande e respeitado, e agora coloca tudo em jogo num caminho que tem mais chance de dar errado do que certo.

Se realmente isso acontecer, o mundo do cinema pode perder um diretor com possibilidades muito interessantes, e com talento para realizar trabalhos de grande qualidade. Ao mesmo tempo, se o trabalho fizer sucesso, isso também pode representar um afastamento de Affleck da direção, pra que ele dedique-se com mais cuidado a carreira de ator que renasceu.

Enfim, seja qual for o resultado disso, espero de verdade que o cinema não saia perdendo, e que Ben Affleck consiga manter o seu grande momento, sem precisar passar por novas reviravoltas.