“Os Vingadores” e “O Cavaleiro das Trevas Ressurge” criaram expectativas mundo afora em 2012. Afinal, os dois filmes fecham cinesséries de sucesso baseadas em super-heróis dos quadrinhos. Nomes como Christian Bale, Anne Hathaway e Christopher Nolan, pelo lado do Batman, e Robert Downey Jr., Scarlett Johanson e Samuel L. Jackson, pelos Vingadores, também aumentaram as esperanças de boas histórias.

E eis que, em dois belos dias, os filmes foram lançados.

Filas gigantes, bilheterias astronômicas, repercussão na mídia, tragédias e intransigência de fãs marcaram a trajetória deles.

Passado o hype em torno dos filmes, o Cine SET os analisa e compara a partir de três pontos. Cada um deles vale um ponto. No final, sairá o “vencedor”.

O objetivo deste texto é, rigorosamente, debater Os Vingadores e Cavaleiro das Trevas Ressurge. Dogmas e verdades absolutas passam longe daqui. Também não importa quem “venceu” no final, mas sim como se chegou a essa conclusão.

Eu quero mais é que você discorde da análise, que levante outros pontos. Você pode me xingar também, caso não tenha argumentos. Só peço o mínimo de criatividade. Afinal de contas, dizer que o trabalho do crítico de cinema é inútil e que ele só pode criticar os filmes se tiver lido as HQ’s já tá batido, hein.

Então, vamo pra briga.

ENREDO E ABORDAGEM

“Os Vingadores” é a confluência dos filmes do Thor, Homem-de-Ferro, Capitão América e Hulk. Estes apresentaram a história de cada um deles e mostraram, com mais ou menos competência, suas motivações. Por isso, o filme mais recente de Joss Whedon opta por deixar de lado o desenvolvimento dos heróis para se concentrar nas cenas de ação cheias de efeitos especiais.

O filme cumpre à risca a sua promessa de entretenimento no melhor estilo de Hollywood. Whedon acerta no ritmo, na direção de arte cartunesca, nas cenas de ação e, principalmente, nas piadas, que são engraçadas, por incrível que pareça.

Porém, a história feijão-com-arroz, com nenhuma reviravolta surpreendente, um vilão mala, a falta de inovação do filme, que não acrescenta nada de novo ao gênero dos super-heróis, se sobressaem às qualidades.

Dessa forma, “Os Vingadores” se transforma numa experiência com poucas camadas de conteúdo e inventividade. Piadas e cenas de ação bem feitas apenas camuflam estas arestas.

O oposto acontece com “O Cavaleiro das Trevas Ressurge”. O último capítulo da trilogia iniciada com “Batman Begins” continua com a abordagem sombria e política do super-herói, que foi a maior contribuição de Nolan ao gênero. Dessa forma, os conflitos internos do Homem Morcego, um homem dividido entre máscaras, traumas e amargura, são mais importantes que as cenas de ação. Ficamos com a impressão de que elas estão lá para cumprir tabela.

A pancadaria também fica em segundo plano por causa da falta de qualidade delas. Francamente, a cena em que os policiais vão enfrentar os bandidos de peito aberto, no meio da rua, constrange.

Nolan tem vastos conhecimento e domínio da linguagem audiovisual. Graças a eles, o diretor mostra o que o cinema americano tem e pode fazer de melhor. Ou seja, uma história épica, ágil e, acima de tudo, bem contada. Os ganchos e pistas dela se destacam mesmo quando se ligam a pontos mal desenvolvidos, como a revelação final de Miranda Tate. Outro trunfo seu é a impressão, na metade da projeção, de que tudo vai dar errado e que aquele maldito do Bane vai triunfar.

“Cavaleiro” tem graves problemas de coerência. Afinal de contas, como uma pessoa que teve uma fratura exposta da coluna volta a andar tão facilmente? E como os policiais se mantêm bem vestidos e com a barba feita quando estão presos no subterrâneo de Gotham sem nenhuma previsão de saírem de lá?

Mesmo assim, estas falhas mais as cenas de luta mal elaboradas são menores que as qualidades do filme.

Por ser o extremo oposto de “Os Vingadores” neste ponto, o filme de Nolan ganha do de Whedon aqui. A disputa foi boa.

ATORES E PERSONAGENS

Os dois filmes têm uma constelação de estrelas.

Ambos possuem novas estrelas de Hollywood (Hemsworth e Gordon-Levitt), musas inspiradoras (Johanson e Hathaway) e veteranos que não precisam provar mais nada para ninguém (Samuel L. Jackson e Gary Oldman). Bem verdade que “Batman” possui três vencedores do Oscar contra nenhum de “Os Vingadores”: Christian Bale, Michael Caine e Morgan Freeman.

As duas histórias também são compostas por personagens carismáticos que funcionam de acordo com a proposta de cada filme. Por exemplo: o Homem de Ferro personifica a canastrice por meio do humor. Downey Jr. acerta no tom a ponto de não conseguirmos ver outro ator interpretando o bilionário. Por outro lado, o Batman nos mostra motivações profundas e conflitos existenciais raros de serem vistos em um blockbuster. Assim, Bale teve a honra de interpretar um personagem que concilia apelo popular com o desafio particular para um ator de dar vida a tantas sutilezas.

Mesmo assim, Cavaleiro fica na vantagem graças aos seus coadjuvantes.

Alfred (Michael Cane) e Comissário Gordon (Gary Oldman) rendem os melhores momentos do último capítulo da trilogia. O maior destaque é a cena em que o mordomo afirma estar cansado de enterrar Waynes.

Por isso, Cavaleiro ganha de “Os Vingadores”  nos detalhes. Mas o mesmo não aconteceu no terceiro e último quesito.

IMPORTÂNCIA HISTÓRICA

Cavaleiro termina uma trilogia de sucesso de público e crítica e de um projeto grandioso de Christopher Nolan. O inglês se mostra um legítimo discípulo de Stanley Kubrick: realizou um filme com a intensidade operística e o apuro técnico que confia antes em engenhosidades do que em efeitos especiais, tal como o mestre.

A cinessérie, e por tabela o filme, também tem importância simbólica. Ao pegar uma franquia desacreditada por conta dos seus últimos episódios e acrescentar elementos cotidianos, sombrios e políticos, reinventou esta e, por tabela, o gênero dos filmes dos super-heróis como um todo. X-Men contribuiu antes para esta nova abordagem, o que não diminui a relevância dos Batmans de Nolan nesta área.

Quanto aos “Vingadores”, que legado ele deixou ao cinema?

Trama inovadora? Hmm, não.

Personagens inesquecíveis? Sério que achas que o carisma deles está nesse ponto?

Desfecho bem-sucedido de uma franquia? Apesar do seu sucesso, o filme é a reunião do melhor dos outros filmes. De alguns destes, como Homem-de-Ferro 2, vieram bem poucas coisas. Dessa forma, fica mais como um remediador de erros do que um desfecho climático.

Bilheteria astronômica? Sim, e?

3D inovador? Hein, telesé?

Aqui não houve detalhes para decidir a questão. A vitória foi de lavada mesmo.

O VENCEDOR

“O Cavaleiro das Trevas Ressurge” ganha de três a zero de “Os Vingadores”. A disputa nos dois primeiros pontos foi equilibrada. No último, porém, o Homem Morcego esmagou os heróis da Marvel.

Por fim, o que achou da comparação? Que filme baseado em super-heróis ganharia de Batman? Se tivéssemos comparado ele ao novo Homem-Aranha, seria uma disputa justa ou um chocolate?

Acho que essa última comparação seria tão cruel quanto bater em cachorro morto.