Uma das principais características de ser jovem é a sensação de que nada poderá lhe afetar e tudo pode ser contornável, o que faz a prudência ficar de lado. Nesse período da vida, os porres são mais insanos e as baladas podem durar até de manhã, a velocidade do carro está sempre altíssima, tudo sem consequência ao corpo no dia posterior. Até mesmo realizar pequenas contravenções, como, por exemplo, roubar um pacote de bolachas do supermercado ou pichar um muro podem ocorrer e serem relevadas, vistas como um posicionamento natural de rebeldia do jovem perante a sociedade. Porém, em alguns casos, a linha tênue entre o tolerável e a atitude criminosa acaba ultrapassada e com a junção de outros fatores (adoração à cultura do consumo, alienação, aceitação perante o grupo de amigos, falta de perspectivas futuras e desatenção dos pais) podem levar a situações como as retratadas em “Bling Ring – A Gangue de Hollywood”.

Dirigido por Sofia Coppola (“Encontros e Desencontros”), o filme aborda a história real de um grupo de estudantes ricos da cidade de Los Angeles que decidem invadir a casa de celebridades para roubar joias, sapatos e dinheiro. Liderado por Marc (Israel Broussard em ótima atuação) e Katie Chang (Katie Chang), o bando se torna famoso nas baladas pelas histórias e postam o que fazem em páginas no Facebook.

O vazio daqueles jovens infratores e do universo ao redor deles é o principal aspecto trabalhado por Coppola durante a projeção. Com todo o dinheiro liberado para gastar em mãos, o grupo simplesmente tem como principal meta pensar nas baladas mais divertidas e com a presença de estrelas para ir, transar com sicrano para obter algum favor, conseguir matar a escola para fumar um baseado em uma ida à praia e obter as roupas da moda. Os ícones para esses adolescentes? Paris Hilton e Lindsay Lohan, figuras auto-explicativas dessa sociedade. A ausência dos pais, incapazes de participarem da vida dos rebentos ou se apoiando em guias como livro de aut0-ajuda “O Segredo”, criam o cenário perfeito para atos inconsequentes.

Verdade seja dita que para decidir roubar a casa de celebridades vai um passo bem grande, porém, a pergunta que fica: por que não? A sensação de serem inatingíveis por frequentar a alta sociedade de Los Angeles, local central de Hollywood, o que já significa estar um pouco fora do mundo real, é tamanha que se gabar dos crimes nas redes sociais é status. Para piorar, problemas como a necessidade de ser aceito no grupo popular e a insegurança na sexualidade de Marc ajudam a fazer com que a pessoa mais sensata dali vá no embalo do restante alienado.

Esse ambiente consegue ser ainda mais bem sucedido com a escolha da trilha sonora cantada em alto e bom som pelas protagonistas repleta de Raps e Hip-Hop que deixariam funkeiros cariocas orgulhosos, diálogos absurdos para retratar a loucura do bando (“Sua bunda está divina”), as atuações seguras do jovem elenco, principalmente, de Emma Watson, cada vez mais firme como atriz depois do ótimo trabalho em “As Vantagens de Ser Invisível”, o belo figurino e direção de arte, além da excelente condução realizada por Sofia Coppola, atuando de maneira sóbria, sem vitimizar muito menos glorificar o grupo, preferindo trazer seus posicionamentos a partir da ambientação do cenário onde se passa a história.

Triste pensar que o “Bling Ring” de Hollywood está por aí nas ruas das metrópoles brasileiras depredando lojas, espancando mendigos, dirigindo embriagados, furando filas de boates com carteiradas, se considerando melhor do mundo por comprar o carro do momento…

NOTA: 8,0

PS: Paris Hilton cedeu a própria casa para as gravações de “Bling Ring”. Se bobear, ela deve ter achado o máximo. Ou seja, não entendeu nada do filme.