Certos filmes são feitos para atores populares demonstrarem talento em personagens com traços incomuns daqueles com os quais habitualmente escolhe. Isso serve para dar respeito artístico ao astro como uma prova que ele vai além do rostinho bonito. Tom Hanks em “Filadélfia” e Sandra Bullock no drama “Um Sonho Possível” fizeram essa transição em Hollywood com sucesso a ponto de serem consagrados no Oscar.

Presos em novelas com personagens estereotipados, as grandes estrelas da Rede Globo encontram no cinema e teatro as possibilidades de saírem da acomodação. Deborah Secco já havia feito essa transição com relativo sucesso no drama “Bruna Surfistinha” e volta a se arriscar com um filme mais modesto: “Boa Sorte”.

Primeiro filme de ficção da diretora Carolina Jabor, “Boa Sorte” acompanha João (João Pedro Zappa), adolescente viciado em remédios que após agredir uma mulher no supermercado acaba sendo internado pelos pais em uma clínica de repouso. Lá, ele conhece Judite (Deborah Secco), uma mulher próxima dos 30 anos com o vírus da Aids. Os dois iniciam um romance e passam a encontrar algum sentido na vida nesse relacionamento.

“Boa Sorte” mostra indecisão em que caminho abordar: o roteiro escrito por Jorge e Pedro Furtado aparenta interessado na analogia do uso da medicação constante feita pelas pessoas como forma de não enxergar a mediocridade da própria vida e da falta de contato entre as pessoas, enquanto Jabor foca mais na história de amor entre João e Judite com a tristeza daquele relacionamento fadado ao fim pela iminente morte dela. Isso provoca uma obra pouco inspirada e sem saber qual realmente era o foco principal, apesar de render belos momentos como o plano-sequência de Secco dançando pelos corredores da clínica e da animação vista próximo ao filme do projeto.

Tal indefinição coloca nas costas do elenco o peso de carregar o filme e manter o público preso na história. Mesmo com poucos filmes na carreira, João Pedro Zappa constrói João sem afetações e longe dos clichês ambulantes de jovem revoltado. Outro destaque fica por conta do elenco coadjuvante com nomes de peso como Cássia Kiss e Fernanda Montenegro em curtas e boas participações. Quem rouba a cena, entretanto, é Deborah Secco. Mais magra e sem maquiagem, a atriz se entrega para fazer uma personagem trágica com uma energia capaz de fazer o filme crescer a cada aparição.

Com um belo trabalho da diretora de fotografia Barbara Alvarez capaz de trazer a frieza do mundo dos personagens para a tela, “Boa Sorte” não decepciona e entrega uma história competente e emocionante alavancada por uma ótima atuação de Deborah Secco.

NOTA: 7,0