O filme “Perdido em Marte”, em que Matt Damon é abandonado em Marte, mostra de maneira eficiente os desafios que os astronautas numa missão pioneira ao planeta vermelho enfrentarão – mas os especialistas garantem que o filme é recheado de imprecisões.

Por exemplo, a tempestade enorme que faz com que a tripulação abandone em Marte o protagonista do filme, o botânico Marc Watney (Matt Damon), não poderia atingir o planeta com tanta força.

“A premissa fundamental que dá início ao filme é completamente errada”, disse Scott Hubbard, especialista em Marte e professor do departamento de aeronáutica e astronáutica da Universidade de Stanford. Devido à fina atmosfera de Marte, a velocidade do vento só poderia alcançar a metade da força de um furacão “e provavelmente não seria percebida por um astronauta, muito menos poderia representar uma ameaça como a que aparece no longa”.

Projeto real

Ainda assim, Hubbard e outros cientistas dizem ter gostado da história – tanto do romance escrito por Andy Weir como a versão para o cinema dirigida por Ridley Scott – porque mostra os obstáculos que a Nasa deve superar em seus esforços para enviar seres humanos a Marte até 2030.

No filme, a Nasa já consegue fazer isso e envia uma tripulação etnicamente variada ao planeta vermelho, onde Damon fica abandonado com suprimentos para um mês. Diante da perspectiva de ter que esperar quatro anos até que a nave volte para buscá-lo, o botânico precisa analisar constantemente quais coisas poderiam matá-lo e como evitar que isso ocorra.

“O que nos agrada no filme é que ele mostra que é preciso pensar com um, dois, três passos de antecipação”, avaliou o astronauta da Nasa Rex Walheim.

“Perdido em Marte” será lançado nos Estados Unidos na próxima sexta-feira, 2 de outubro.

Acertos

No longa, o astronauta consegue plantar batatas, que come com barras de proteína e suplementos vitamínicos para se manter vivo.

Bruce Bugbee, diretor do departamento de plantas, solos e clima da universidade do estado de Utah, disse que é verdade que cientistas desenvolveram métodos de cultivo de plantas em ambientes hostis. Também são capazes de dividir o dióxido de carbono (CO2) e a água (H2O) para obter oxigênio.

Mas ainda falta realizar um experimento que teste estas técnicas a longo prazo em uma simulação de Marte na Terra, colocando pessoas numa área sem oxigênio nem água com a missão de cultivar comida e reciclar resíduos usando suas próprias ferramentas.

Atualmente, uma simulação do ambiente marciano vem sendo desenvolvida no Havaí, mas o enfoque do experimento é principalmente estudar as condições psicológicas da tripulação, não construir um sistema autossustentável. “Sabemos como fazer isso, mas o desafio é transformar em prática”, disse Bugbee.

Erros

Segundo o astronauta aposentado Lery Chiao, o filme tem duas cenas muito improváveis.

Em uma, um astronauta perfura uma luva para elaborar um propulsor. Na outra, um membro da tripulação elabora uma bomba caseira que explode apenas uma parte da nave. “Nenhuma dessas coisas funcionaria”, disse Chiao.

Fora isso, nas cenas onde Damon entra em contato com a tripulação, o personagem escreve e lê as respostas em tempo real, quando na verdade haveria uma demora de muitos minutos para que as mensagens fossem e voltassem de Marte.

O longa também não menciona os perigos da radiação no espaço e o risco de câncer que provavelmente afetarão os pioneiros que vão a Marte.

Apesar desses detalhes, o especialista em política espacial John Logsdon disse esperar que a história inspire os jovens a continuar a trabalhar num caminho para chegar ao planeta vermelho. “Acredito que o balanço tanto do livro quanto do filme é que sim, vale a pena fazer isso”, contou.

da Agência France Press