O neozelandês Russell Ira Crowe, de 49 anos (50 no próximo dia 7 de abril), custou a emplacar como ator, mas quando o fez – como o inesquecível Hando, de Skinheads – A Força Branca, em 1992, o sucesso mundial foi apenas questão de tempo.

Inteligente, carismático, intenso, além, é claro, de bonito, Russell teve seus altos e baixos na carreira, principalmente por conta do temperamento explosivo, que o afastou de uma agenda regular de trabalho em Hollywood, mas, quando se interessa por um papel, é sempre capaz de nos surpreender.

Agora, em Noé, ele tem a chance de cativar mais uma vez o grande público e voltar à fase de bons trabalhos e bilheterias, mas isso depende da vontade do ator de parar com as polêmicas e se concentrar no trabalho. Minha torcida, sincera, é pra que ele tome jeito e faça do grande intérprete de O Informante e Uma Mente Brilhante a constante, e não a exceção, de sua carreira.

Confira agora os picos (poucos e bons) e vales (vários, mas sintetizados no nosso escolhido) da trajetória de Russell Crowe.

5. Skinheads – A Força Branca (1992)

O filme que revelou Crowe ao mundo foi uma sensação underground por apresentar, da forma mais crua possível, a ascensão da nova cultura skinhead (“nova” no sentido de deturpar o movimento original, pró-minorias, surgido em Londres no fim dos anos 1970) entre jovens desempregados da Europa e Austrália. Como o carismático e imprevisível Hando, líder da gangue no filme, Crowe impôs seu olhar intenso e determinação maníaca, num trabalho que lhe rendeu os primeiros prêmios e pôs seu nome em circulação.

4. A Luta pela Esperança (2005)

Já o filme que marcou o declínio de Russell Crowe como astro não poderia ter merecido pior sorte. Porque A Luta pela Esperança, de Ron Howard, é um belo drama baseado na história real do boxeador James J. Braddock, apelidado de “Homem Cinderela” pelo cronista esportivo Damon Runyon, devido à sua trajetória de superação da miséria através da luta. Envolvente e com um dos maiores desempenhos de Crowe, o filme urge por ser resgatado da fraca audiência que teve no lançamento original.

3. O Informante (1999)

Contracenando com ninguém menos que Al Pacino, Russell Crowe entrega, em O Informante, um trabalho denso e complexo, ao viver o executivo da indústria de cigarros Jeffrey Wigand, que tem revelações explosivas, mas é obrigado, por contrato, a manter o bico calado, até ser descoberto por um repórter (Pacino), que vai tentar fazê-lo falar.

Uma denúncia da ambiguidade moral no mundo contemporâneo, bem como um grande filme sobre jornalismo, O Informante foi mais um passo na “revelação” de Russell, com sua primeira indicação ao Oscar de Melhor Ator, mas é mais – trata-se de um triunfo completo, um dos melhores trabalhos de Michael Mann, diretor que, apesar dos deslizes, continua um dos homens mais inteligentes de Hollywood. Também vale muito a pena conferir.

2. Gladiador (2000)

O único verdadeiro épico do cinema desde os anos 1960 foi também o passaporte do ator para a fama mundial. Como o general tornado escravo Maximus Meridius, Crowe mostrou que podia carregar grandes tramas e roubar a cena mesmo em meio às impactantes imagens de Ridley Scott – o diretor gostou tanto de Russell que já fez outros três filmes como ele, inclusive o ótimo O Gângster (2007).

O roteiro equilibra as grandes sequências de batalha com o drama íntimo de Maximus, usurpado de sua posição pelo filho invejoso do imperador – ninguém menos que Joaquin Phoenix, numa de suas melhores interpretações –, dando a Crowe um de seus melhores trabalhos, bem como acenando com uma carreira bem-sucedida em Hollywood. Hoje, sabemos, não foi bem assim, mas ator e filme continuam first-rate. Único Oscar de Crowe.

1. Uma Mente Brilhante (2001)

Ainda sob a exposição massiva de Gladiador, Russell Crowe decidiu encarar aquele que, até hoje, continua sendo seu melhor papel: o atormentado matemático John Nash, ganhador do prêmio Nobel por sua contribuição à teoria da análise dos comportamentos, mas quase levado à ruína pela esquizofrenia.

Desde Skinheads conhecido como um ator “macho”, de protagonistas viris, Russell, em Uma Mente Brilhante, viveu o seu primeiro personagem fragilizado, e foi uma grata surpresa: bastante convincente como o matemático, Crowe se revelou um artista completo, pronto para explorar territórios mais ousados e difíceis em seus próximos filmes. Para os fãs do ator, ESSE é o verdadeiro Russell Crowe, que veríamos ainda outras vezes – principalmente em A Luta pela Esperança, seu melhor trabalho deste então – e é desse RC que esperamos grandes coisas, mas Crowe precisa investir logo nesse seu lado, ou então vai ficar confinado à lembrança de seus dois grandes trabalhos de 2000 e 2001. #ficaadica, hein.

Também indicado ao Oscar.

Outras grandes atuações de Russell Crowe:

6) Los Angeles – Cidade Proibida
7) Mestre dos Mares
8 – Os Miseráveis
9) Intrigas de Estado
10) Os Indomáveis

O pior:

Um Bom Ano (2006)

Com lampejos de verdadeiro brilho em sua carreira, Russell Crowe, infelizmente, é muito mais lembrado pela irregularidade de sua produção, fruto do gênio complicado do ator, que dificulta o trabalho em equipe e sabota sua imagem em Hollywood.

Entre vários filmes OK ou francamente ruins, este aqui se destaca pela dupla decepção – uma história de autoajuda chinfrim, que desperdiça a fagulha criativa que Crowe e o diretor Ridley Scott tinham acendido em Gladiador, apenas seis anos antes.

Com um ótimo elenco (Marion Cotillard e Albert Finney, entre outros) e fartas tomadas de paisagens rurais da França, Um Bom Ano, infelizmente, é uma comédia romântica preguiçosa e pouco atraente, e o trabalho de Crowe como o protagonista Max Skinner vai no mesmo ritmo. Prova definitiva de que grandes talentos NÃO salvam um mau script – e de que podem fazer muito melhor, se quiserem, máxima que os dois confirmariam na parceria seguinte, O Gângster.