A trajetória de Wagner Maniçoba de Moura, nascido em 1976 em Salvador, BA, é de muito trabalho duro – mas também de muito reconhecimento por seu talento e carisma, que o colocaram em lugar de destaque entre os atores de sua geração. Despontando como uma das estrelas do cinema baiano nos anos 1990, ao lado do parceiro Lázaro Ramos, Wagner, porém, logo mostrou uma centelha dramática rara, diferenciada, que lhe rendeu papéis cada vez mais complexos, ao passo que o humor e ironia baianos, herdados do berço, lhe permitiram transitar com igual sucesso pela comédia. Hoje, um intérprete cada vez mais sensível e inteligente, Wagner Moura vem atraindo a atenção de diretores estrangeiros, como o sul-africano Neill Blomkamp, que o escalou para um filme infelizmente abaixo do seu brilho (Elysium – saiba mais no nosso Pior Filme abaixo), mas mesmo assim confirmando a aclamação de Wagner em sua profissão. Confira agora, em seis filmes, os momentos mais marcantes dessa trajetória.

5. Serra Pelada (2013)

Já se disse neste espaço, várias vezes, que a marca de um grande ator é elevar trabalhos menores para além do que parecia possível. Pois é num filme que, apesar de bom – um registro ambicioso da “corrida do ouro” do Araguaia, momento climático da história brasileira recente –, tem pouco uso para o talento de Wagner Moura. Mesmo assim, as aparições de seu personagem Lindo Rico, financiador de garimpos e um verdadeiro “leão” da hierarquia local, deixam sua marca sobre o restante da trama, assim como o Kurtz de Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola. Uma comparação que vem bem a propósito do Araguaia retratado em Serra Pelada – mas as semelhanças terminam aí.

4. Cidade Baixa (2005)

O filme que projetou não apenas Wagner Moura, mas também Lázaro Ramos e Alice Braga, Cidade Baixa é a história de um triângulo amoroso tenso e sensual, ambientada nos becos mais escuros de Salvador. Incrivelmente, os três estão em pé de igualdade, tanto a iniciante Alice quanto os mais experientes Wagner e Lázaro. O fato é que a qualidade do trabalho do trio faz desse filme um marco na carreira de todos eles. O Naldinho de Wagner Moura, por exemplo, oscilando entre o sedutor, o astuto e o brutal, continua até hoje um dos personagens mais complexos já vividos pelo ator.

3. VIPs (2010)

Outro filme redimido pelo trabalho de Wagner Moura. Baseado na (inacreditável) história de Marcelo Nascimento da Rocha, um farsante profissional cujo ápice foi se passar por herdeiro de uma famosa companhia aérea, VIPs tem problemas de roteiro, de montagem e até de câmera, com sua movimentação excessiva e afetada. Mas tem também, e sobretudo, uma âncora extremamente sólida, capaz de resgatar o filme mesmo nos momentos mais over: o trabalho sensível, de profunda empatia e humanidade, de Wagner Moura, que consegue evitar que VIPs esbarre de vez na caricatura ou no sensacionalismo barato. Outra prova eloquente da grandeza do ator.

2. O Homem do Futuro (2011)

Aqui o filme, em si, não é ruim, mas seria um trabalho bem menos interessante se não fosse a atuação intensa, e até comovente, de Wagner Moura. Uma comédia dramática sobre escolhas e sua influência em nossas vidas, O Homem do Futuro traz o baiano como o cientista Zero, que criou uma máquina do tempo e decide – adivinhem – revisitar a própria juventude. Mostrando igual firmeza nos momentos dramáticos e nos que exigem um bom timing cômico, honesto, enérgico, mas sempre fugindo do exagero, Wagner Moura vem se mostrando o trunfo ideal para qualquer diretor: um ator que, mesmo quando o filme não é lá essas coisas, faz ele parecer melhor quando está em cena.

1. Tropa de Elite (2007)

A essa altura, quando tudo já foi dito e redito sobre o filme de José Padilha, que trouxe um retrato inédito, pelo realismo, da atuação da polícia carioca (e, por extensão, brasileira), é preciso aplaudir, mais uma vez, a entrega e complexidade do trabalho de Wagner Moura. Seu capitão Nascimento era pra ter sido apenas um coadjuvante de luxo, mas a atuação de Moura foi tão intensa, explosiva, que Nascimento não só cresceu no filme, como passou a conduzir a trama, por meio da narração. Muitas coisas deram certo em Tropa de Elite, que foi um sucesso sem precedentes no cinema nacional, mas o filme teria seria muito menos do que foi sem a intensidade de Wagner Moura. Tropa gerou uma sequência ainda mais bem-sucedida (O Inimigo Agora é Outro, em 2010), mas que, artisticamente, apenas ampliou as bases lançadas neste aqui. Sem dúvida, a atuação mais icônica de Wagner Moura.

OUTROS GRANDES TRABALHOS DE WAGNER MOURA

6. Ó Pai, Ó

7 . Romance

8. Saneamento Básico – O Filme

9. Deus é Brasileiro

10. Carandiru

O Pior:

Elysium (2013)

O primeiro trabalho internacional de Moura tinha tudo pra dar certo: o diretor, Neill Blomkamp, havia feito o melhor filme de 2009, na opinião deste escriba (Distrito 9); seus pares seriam Matt Damon, Jodie Foster, Sharlto Copley e Alice Braga, todos feras da atuação; e a trama parecia ser outra análise sensível da injustiça e crueldade humanas. Mas a amarga verdade é que Elysium tem um roteiro inacreditavelmente primário, com personagens maniqueístas, sem meios-tons, Blomkamp “pesa a mão” nas acrobáticas sequências de ação, e quase todo mundo no elenco está bem ruim – Damon, apático; Foster, caricata; Copley, tão exagerado e farsesco que quase apaga o trabalho maduro em Distrito 9 da lembrança. E Wagner tem aqui o que pode ser considerada a sua pior atuação até hoje – seu carisma e convicção naturais até lhe dão uma certa vantagem em relação aos colegas, mas ele grita demais, gesticula demais, e acaba abafando a sutileza que havia sido um ingrediente fundamental dos seus melhores trabalhos. Pra não dizer que Elysium é um fracasso completo, os efeitos especiais são impecáveis, e Alice Braga defende a sua parte com dignidade. Já é alguma coisa.