Acredito que devo admitir que não sou grande admirador do trabalho de Christopher Nolan. Veja bem, reconheço que o diretor possui domínio completo da linguagem cinematográfica, que seus filmes, todos eles, possuem muitas qualidades, com uma capacidade realmente admirável de agradar à crítica, e principalmente ao público, haja vista que Nolan possui uma seita fanática de seguidores, que ficam realmente ofendidos ao ouvirem uma opinião diferente da de que o autor é um gênio. Mas isso não me parece suficiente para colocar o seu nome entre os maiores da atualidade.

Se acho que o diretor, até hoje, não fez nenhum filme ruim, ao mesmo tempo considero que Nolan não fez nenhum obra-prima (com exceção, talvez, do primeiro lugar dessa lista). Trata-se de um diretor competentíssimo, que quase não erra (a não ser que falemos sobre como conduz as suas cenas de ação, porque aí ele erra muito, e desde sempre), que tem três grandes filmes, e outros seis que são bons exemplares do melhor que Hollywood pode produzir, mas nada que mereça adjetivos em excesso. Se isso é muito, ou pouco, cabe a cada um definir. Se me permitem uma opinião, acho isso coisa pra caramba, certamente é (bem) menos do que um gênio faria, mas é muito, muito mais do que a média.

Toda lista é difícil de fazer, claro, mas essa foi especialmente complicada de decidir. Como disse antes, apenas os três primeiros colocados se destacam claramente dos demais. Acredito que todos os demais, sem exceção, estão no mesmo nível. São todos bons filmes, conduzidos com méritos, produções de ótima qualidade técnica, e com elencos de primeira. Os filmes que ficaram em 4° e 5° poderiam facilmente ser colocados como decepções, e vice-versa. Então, desculpo-me, de antemão, por alguma possível deselegância da minha parte em relação à colocação dos filmes, e também por aqueles que ficaram no limbo, e não foram citados.

sem-tc3adtulo5. O Grande Truque (2006)

Sem dúvida nenhuma essa foi a colocação que mais me gerou dúvida. Até os últimos instantes fiquei entre O Grande Truque e Interestelar, mas decidi optar pelo primeiro, que por ser um projeto de menor ambição, torna-se muito mais agradável e interessante de assistir, diferente do segundo, que não irei rever por muitos anos, com certeza, por considerá-lo uma aventura que precisa de muita entrega de quem assiste, pra ter pouco em troca. Acompanhar o rumo da rivalidade entre os dois mágicos, Angier (Jackman) e Borden (Bale), e ver de que maneira um complementa o outro é uma missão bastante interessante, com o destaque para o seu desfecho, que pode soar previsível para uma parte da audiência, mas que sela com qualidade um filme que demonstra a versatilidade de Christopher Nolan.

incepposter3 4. A Origem (2010)

Já ouvi dizer que A Origem era o representante máximo do que o cinema popular podia alcançar. Apesar de não achar que é para tanto (o diretor já fez melhor no mesmo estilo), A Origem foi a sedimentação de Nolan como realizador ousado, ambicioso, nome respeitadíssimo do cinema, ultrapassando a barreira dos filmes de super-herói. Trazendo uma complexa trama de um ladrão que invade a mente de suas vítimas através dos sonhos, o diretor insere uma série de tramas que se misturam abrindo um leque abrangente de possibilidades, embaralhando na medida certa as informações para os espectadores, que tinham a chance de apreciar o trabalho seguindo diversas “teorias”. Os erros absurdos de mise em scene nas cenas de ação (e a interminável sequência na neve) incomodam demais, mas não impedem o filme de ser um sucesso.

 Batman-Begins-13. Batman Begins (2005)

Numa boa, quem defende os Batmans do Tim Burton está deixando a memória afetiva falar mais alto, não é possível! Criando uma atmosfera realista, crua, na medida do possível, Nolan conseguiu legitimar a trama de Batman de uma maneira que nunca havia sido feita. Trazendo os personagens, principalmente Bruce Wayne, com diversas camadas e motivações, Batman Begins apresentou-se como um raríssimo caso de um filme de super-herói complexo, multidimensional, com uma trama extremamente bem escrita e uma direção bastante segura de Nolan. Um filme raro pela sua maturidade, certamente o mais maduro da trilogia.

cavaleiro-das-trevas 2. Batman – O Cavaleiro das Trevas (2008)

Aqui temos uma exceção. O Cavaleiro das Trevas é uma continuação de Batman Begins em vários aspectos. A história “continua” em relação ao primeiro, mas com muito mais ambição, com o claro objetivo de fazer um filme inesquecível, grandioso, um filme de super-herói que fala de coisas sérias, feito para adultos, que estabeleceria um novo padrão. E o filme é repleto de grandes acertos, possui cenas fortíssimas, com enorme apelo dramático, mas a sua maior virtude, aquela responsável pelo filme ser lembrado da maneira que é até hoje é a atuação de Heath Ledger. Transformando-se numa outra pessoa, a sua atuação transborda o filme, torna-se algo com vida própria, uma vida que sozinha tem mais apelo do que o restante. Um trabalho raro, que coloca O Cavaleiro das Trevas na história do cinema.

memento-1 1. Amnésia (2001)

Se fico com pé atrás para falar sobre Christopher Nolan, isso muda radicalmente se tiver que discorrer sobre Amnésia. Um filme brilhante, conduzido de maneira magistral, com uma trama que sempre se mantém viva, interessante, pronta pra nos surpreender mais uma vez, auxiliada por um elenco nada menos que perfeito, liderado pela grande atuação de Guy Pearce, ator sempre subestimado. A direção criativa e instigante de Nolan mostra que naquele momento o diretor queria mostrar para o mundo o quanto conhecia de linguagem, e como era capaz de fazer um suspense de ação se transformar num exercício fenomenal de linguagem. É realmente uma pena ver que o diretor optou seguir outro caminho de direção, mais sóbrio, correndo menos riscos. Seja como for, Amnésia é um dos grandes filmes da década 00, e disparado o maior acerto da carreira de Christopher Nolan.

 O Pior

personagens-de-batman-o-cavaleiro-das-trevas-ressurgeBatman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012)

Nolan já era Nolan quando realizou O Cavaleiro das Trevas Ressurge, e parece que o fato do diretor já ser consagrado, e ter uma legião enorme de fãs, o deixou confortável demais, fazendo assim um filme que quase não tem razão de existir, tamanha é a sua convencionalidade. Apresentando os personagens menos interessantes da trilogia, a trama de Ressurge parece arrastada, com excesso de tramas desinteressantes, conduzidas de maneira burocrática, pouco inquieta. Soma-se a isso o auge dos problemas da mise en scene das cenas de ação, que aqui soam que foram feitas de qualquer jeito, de maneira nada convincente, demonstrando um inacreditável amadorismo da produção. Claro que não se trata de uma bomba, como os filmes de Tim Burton e Joel Schumacher, mas certamente representa o filme que mais eu pensaria duas vezes antes de rever.