Este post é uma homenagem aos professores mais legais do cinema.  A grande questão é definir o que é legal ou não. Você já pensou no que é ser legal? Temos a tendência de considerar ser aquilo que nos agrada. Pare e pense por alguns instantes, por que é legal ter um animal de estimação? Por que aquela série é tão legal que é digna de maratona ou a espera meses a fio para rever a mesma trama/ambiente com os mesmos personagens?

Geralmente, quando indagam por que você gosta de alguém, a primeira resposta que vem a mente costuma ser “porque fulano é legal”. Mas o que é legal? De acordo com o Dicionário Michaelis, legal é estar em boas condições; regularizado; palavra-ônus que atribui qualidades positivas a pessoas e coisas. O Aurélio acrescenta a ideia de ser aquilo que está em ordem.

Aí, voltamos ao questionamento de quem são os professores mais legais do cinema.  É preciso lembrar que esta é uma das figuras mais presentes e influentes na nossa vida. Lembro sempre um amigo querido que tinha as melhores notas de toda escola e prestou o vestibular para licenciatura em matemática, pela influência que nosso professor exercia em sua vida. E a maioria dos professores representados nas películas, tem esse mesmo papel.

O cinema está cheio de educadores e a teledramaturgia, também. Crescemos com o professor Girafales, Raimundo Nonato, Will Schuester, Dewey Finn e tantos outros.  Por isso, destaco aqui apenas alguns dos mais interessantes espécimes encontrados na sétima arte:

  1. Gerald Lambeau (Stellan Skarsgard) e Sean Maguire (Robin Williams) – Gênio Indomável (1997) de Gus Van Sant

O premiado filme que iniciou a parceria entre Matt Damon e Ben Affleck traz dois professores doutores em posições pouco convencionais, mas carregados de boa vontade.

Mesmo que Lambeau não tenha o mesmo destaque que Sean Maguire no coração de Will (Matt Damon), é ele quem enxerga o potencial do rapaz e luta por ele durante todo o filme. Robin Williams, como sempre, oferece um personagem emocionante, principalmente, quando compartilha com o paciente a dor não superada da perca da espoca. E embora seu personagem seja um psicólogo, é importante lembrar que Gerry vai buscá-lo em sala de aula para atender o gênio indomável.

Os dois têm opiniões diversificadas, mas lutam pelo mesmo objetivo que é o sucesso de Will. E para isso usam as armas que possuem e indicam ao gênio indomável os caminhos que este pode trilhar para se encontrar e não perder o talento que tem em mãos.

  1. Katherine Watson (Julia Roberts) – O Sorriso de Monalisa (2003) de Mike Newell

Ensinar arte é uma tarefa complicada quando o conceito de artes pra muitas pessoas é abstrato. Este é o primeiro dilema de Katherine Watson. O ensino toma um grau elevado de complexidade quando você é novo na função, no ambiente de trabalho e não sabe lidar com os avanços da classe estudantil.

Watson enfrentou dois dilemas em “O Sorriso de Monalisa” que é vivenciado por muitos professores diariamente. O primeiro relaciona-se com a arrogância natural dos estudantes. Alguns possuem a habilidade intrínseca de questionar a autoridade do professor em sala de aula e o seu nível de conhecimento. Até as escapadinhas fora da sala são uma forma de desafio aos professores que não alcançam a turma por completo. Soma-se a isso, os hormônios ensandecidos da adolescência e moças que vivem em regime interno e sob a pressão social-patriarcal.

Tudo isso recai sobre a educadora que consegue quebrar com a sutileza e graciosidade de seus pensamentos revolucionários as amarras impostas pela sociedade conservadora que permeia suas pupilas, além de demonstrar-lhes como enfrentarem os desafios da vida.

  1. Louanne Johnson (Michelle Pfeiffer) – Mentes Perigosas (1995) de John N. Smith

A ex-oficial da marinha assume o cargo de professora numa turma que já expulsara pelo menos três educadores anteriormente. Louanne começa sua jornada lutando contra seus próprios monstros, depois passa a lutar contra o sistema educacional que contribui para marginalização de seus estudantes.

Louanne Johnson é legal porque luta pelos seus estudantes diante do sistema burocrático, mas também luta por eles contra eles. A professora enxerga que precisa conhecer a realidade de seus pupilos para que o desenvolvimento em sala de aula possa ocorrer. Seus métodos pouco convencionais também contribuem pra que ela seja o tipo de mestra que se quer em sala de aula: ensina caratê, distribui chocolates, incentiva a leitura de Bob Dylan, Prêmio Nobel de Literatura 20 anos após o lançamento do filme, e, acima de tudo, sente a dor que a vivência extra classe influencia nas quatro paredes da sala de aula.

  1. Mark Thackeray (Sidney Poitier) – Ao Mestre, com Carinho (1967) de James Clavell

“To Sir with Love” ainda é uma das canções mais tocadas no Dia dos Professores e embala todas as cenas expostas no longa-metragem.  A trama de Mark Thackeray poderia ser o original de muitos filmes que se seguiram abordando a profissão, mas a percepção deste professor é bem diferente de seus exemplares póstumos.  Ele consegue marcar seus alunos, não por se fazer de amigo deles, mas justamente por sua figura autoritária.

O Sr. Thackeray é um engenheiro que aceitou o cargo de professor substituto na pior turma da escola. Aos poucos, ele vai instituindo disciplina, a vontade de aprender e entendimento do mundo aos seus alunos. Que embora resistam as colocações do mestre, desabrocham seres sociais melhores.

O interessante deste personagem é que ele não se constrói no decorrer da trama, ele é um professor que já vem pronto. Não precisa crescer como pessoa, ser mais corajoso ou conquistar algo. Na verdade, ele oferta uma importante lição aos educadores: impor os limites necessários para o desenvolvimento curricular e social.

  1. John Keating (Robin Williams) – Sociedade dos Poetas Mortos (1989) de Peter Weir

“Sociedade dos Poetas Mortos” é um clássico educacional. O filme que revelou nomes como Robert Sean Leonard, Ethan Hawke e Josh Charles traz um dos professores mais amados do cinema. Os últimos instantes do filme são carregados de emoção, quem nunca teve vontade de se unir aos meninos, subir em suas mesas e declamar “Captain, my captain”?

Keating é um espécime de professor que inspira seus alunos a buscarem os seus objetivos e se libertarem do conservadorismo. Ele os cativa desde a sua primeira aparição e representa como a figura constante do professor é um diferencial na vida dos acadêmicos em construção. Através da literatura, ele mostra aos seus alunos um mundo que sempre existiu, mas que permanecia encoberto pelas nuvens da falta de conhecimento.

O pior: Miss G (Eva Green) – Sedução (2009) de Jordan Scott

Não consigo considerar Miss G uma educadora. As coisas já começam errado por ai. A película a apresenta como professora de mergulho, mas, em momento algum, o ENSINO é visto na personagem. Há falta de metodologia e de preparo para a licenciatura e para a vida. Não há coisa pior do que um professor que não tem conhecimento do que está falando ou pior ainda, que mente para seus alunos representando algo que nunca foi. Miss G enquadra-se aqui.

Soma-se a isso, a manipulação que exerce sob suas alunas e a obsessão desenvolvida por uma delas, a qual representa tudo o que ela gostaria de ser e tem medo de arriscar por estar envoltas de suas próprias mentiras. E isso afunda Miss G, porque ela é fraca, medrosa e não conseguiu amadurecer emocionalmente. Existem muitos educadores na sétima arte que mantém relacionamentos com seus alunos, mas poucos são os que matam para abrigar um envolvimento inexistente e se vitimam por isso.

Eva Green está assustadora como sempre. Com seu rosto pequeno e seus grandes olhos azuis e assustados, ela dá vida a uma adolescente no corpo de um adulto em mais uma de suas brilhantes atuações.

Estamos em um crescente ritmo de aprendizado e temos muito a agradecer a nossos professores por aquilo que nos tornamos. Sendo legais ou não, eles merecem o nosso respeito e admiração por tudo que batalharam e mais ainda pela falta de reconhecimento oriunda da política do nosso país. Gostaria de terminar esse post fazendo uma rápida homenagem a minha família (pois é, cresci num lar de professores) e ao professor que divide corações no curso de Jornalismo da Ufam, que não por um acaso é um dos colaboradores do Cine Set, Tom Zé.

Parabéns, professor pelo seu dia!