Para permanecer sempre lucrando, o mercado cinematográfico se mantém atento às tendências que o público dita regularmente. Dependendo do momento, as fichas são apostadas em um determinado tema, gênero, ou algum estilo de direção, que vão sendo alterados com o passar do público, e com o surgimento de uma nova maneira de agradar a massa. De alguns anos pra cá, a nova tendência (que já não é mais tão nova) são as continuações de filmes de sucesso.

Às vezes o primeiro filme já é feito pensando que a história continuará com outros longas, mas em alguns casos, o sucesso de bilheteria determina que continuações serão feitas, afinal de contas, sequências são garantia de centenas de milhões de dólares para os grandes estúdios.

Como se trata de arte (mesmo que o seu fim seja claramente voltado para o entretenimento), quando se pensa primeiro no dinheiro a qualidade do trabalho pode ficar comprometida, visto que não foi pensado na necessidade daquela história ganhar uma continuação por haver novas histórias tão ou mais interessantes do que a anterior. O que se vê, em muitos casos, são fiapos de história esticados até o limite, apoiando-se em migalhas que deram certo na primeira versão, jogando sempre na certeza da identificação imediata. Exemplos não faltam como Velozes e Furiosos, Jogos Mortais, Atividade Paranormal, Piratas do Caribe, Se Beber, Não Case, Homens de Preto, A Era do Gelo, Duro de Matar, todos filmes que tiveram uma bem sucedida primeira versão (de público e/ou crítica), e que tentaram embarcar na onda nos filmes seguintes, mas sem a mesma criatividade.

Há também aquelas sagas em que nem o primeiro filme se salva, mas que por não terem nenhum pudor em jogar para a torcida, acabam fazendo sucesso, como Resident Evil, Os Mercenários, Todo Mundo em Pânico, Crepúsculo, Alvin e os Esquilos, etc..

Mas esse texto não é dedicado às sagas ruins, mas sim àquelas que conseguem manter a sua criatividade mesmo com toda a pressão do mercado, e a alta exigência dos fãs. Para estabelecer um padrão, estabeleci que as sagas aqui precisam ter pelo menos três filmes, e terem sido lançadas nos últimos anos (Star Trek, infelizmente, está fora). Sei que estarei mexendo com o sentimento de muita gente, mas peço pra que tenham em mente que isso é apenas uma lista descompromissada, elaborada do alto da minha desimportância.

Vamos lá.

Os Vingadores

5. Os Vingadores

A saga que teve início com Homem de Ferro (2008) vem se estabelecendo como uma das mais lucrativas da história do cinema, colocando a Marvel num patamar altíssimo de competitividade. Como era de se esperar, e acredito que não tinha como ser diferente, a saga passa por altos e baixos (Homem de Ferro 3 é particularmente pavoroso), mas no geral mantém um padrão de qualidade acima da média, culminando em Os Vingadores (2012), um filme pipoca bem bacana. Com o sucesso da franquia, e com o anúncio de que haverá uma série de filmes pelos próximos anos, a saga Vingadores tem tudo pra ficar no topo de Hollywood por muitos anos.

 Harry Potter

4. Harry Potter

A saga que começou dirigida por Chris Columbus, e que tinha um ar totalmente infantil, foi ganhando corpo com o passar dos filmes, até se tornar uma série que tocava em assuntos mais sérios, em longas muito mais voltados para o drama e o suspense do que para a aventura. A desenvoltura do trio Radcliffe, Watson e Grint é notória, e a partir do quarto filme estabelecem personagens mais ricos, com mais nuances, em tramas muito mais desafiadoras e complexas. O auge dessa mudança foi Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1, um filme lento, de difícil digestão, corajoso, tocando em questões mais profundas, universais, neste filme que é quase um road movie, e que estabeleceu, de uma vez por todas, Harry Potter como uma série muito maior do que apenas milhões de dólares em marketing.

 Batman

3. Batman – O Cavaleiro das Trevas

A Trilogia do Cavaleiro das Trevas, dirigida por Christopher Nolan, é um marco do cinema recente por inserir um super-herói num universo naturalista, lidando com situações extremamente palpáveis para a sociedade, muitas vezes priorizando o drama dos personagens em relação as cenas de ação, calcanhar de Aquiles mais do que notório do diretor. Apoiado no sempre ótimo Christian Bale, o novo Batman é um personagem complexo, muito longe da bondade unilateral comumente vista nos heróis norte-americanos, e tem que lidar com vilões de verdade, que muito mais do que superpoderes, tem uma moral completamente deturpada, com ideais sociopata. Além disso, a trilogia tem o Coringa de Heath Ledger, uma figura memorável, fortíssima, num trabalho de ator fantástico, que com o passar do tempo só permanece mais forte em nossas memórias.

 Toy Story

2. Toy Story

A infância é um momento extremamente rico de lembranças, período em que as experiências adquirem outro teor, e vão sempre mudando conforme vamos nos aproximando da adolescência. Antes de Boyhood (2014), a trilogia Toy Story fez isso de maneira brilhante, aproveitando cada momento da vida de Andy, e a maneira como ele interagia com os seus brinquedos, para mostrar que o tempo passa, os sentimentos vão sendo substituídos, e que inevitavelmente daremos adeus às coisas importantes de nossas vidas, até as mais importantes. O terceiro, e mais bem sucedido episódio, é um drama amargo, duro, mas extremamente necessário, o final perfeito, o fim de um ciclo mágico. É de uma extrema falta de sensibilidade a Pixar anunciar que haverá um novo Toy Story, parece que eles não entenderam a própria história que criaram. É torcer pra que o novo episódio não constranja o restante da série.

 Jogos Vorazes

1. Jogos Vorazes

Nenhuma das séries aqui citadas tem a mesma coragem de Jogos Vorazes. Liderado pela superestrela Jennifer Lawrence, com a colaboração dos ótimos Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Donald Sutherland, Woody Harrelson, Stanley Tucci e tantos outros, Jogos Vorazes escolhe sempre o caminho mais espinhoso, mais ousado para desenvolver a sua trama, que pode não ser a mais complexa do mundo, mas que exala sinceridade e uma maturidade rara de se ver. Tocando em assuntos como governos totalitários, a exposição sem limites provocada pela mídia, revolução política, e manipulação do governo perante os oprimidos, a saga foge do romance fácil, da guerra suavizada, e imprime fortes significados para a motivação de cada um dos seus ricos personagens, dando enorme força dramática para os fortes acontecimentos que perpassam sua trama. Saga corajosa, que representa o que de melhor o cinema de entretenimento pode fazer na atualidade.

A pior

Transformers

Transformers

Poderia colocar Alvin e os Esquilos, Resident Evil, Os Mercenários, mas acredito que nenhuma dessas séries chafurda com tanta força na lama quanto Transformers. Essa saga tem tantos defeitos, tantos problemas morais, tanta falta de perícia em todos os departamentos, que não consigo me lembrar de um equívoco tão grande no cinema nas últimas décadas quanto esse. Transformers se tornou sinônimo de defeito, uma referência clara do que não se fazer, o ápice da falta de talento. Os principais nomes envolvidos no projeto já fizeram coisas melhores fora dali, portanto espero que eles priorizem os trabalhos com mais a mostrar. Embora saiba que a saga vai continuar, e por bastante tempo, pois, por incrível que pareça, ainda há gente que não se ofende com este trabalho.