Ganhadora como programa do ano no TCA (prêmio da associação de críticos de televisão) e queridinha do Emmy 2019 com quatro prêmios, ‘Fleabag’ conseguiu deixar como legado a aceitação da crítica e também do público, se tornando um grande destaque no mundo da televisão sem ter feito maiores promessas.
Diferente de outras produções com o mesmo nível de estima de ‘Fleabag’, a série da Amazon não contou com orçamentos exuberantes ou extenso número de temporadas para conseguir se tornar o grande destaque da comédia em 2019.
Apesar da popularidade inesperada, esse sucesso não é apenas coincidência, mas sim resultado de ótimas escolhas feitas pela criadora Phoebe Waller-Bridge. Para provar isto, reuni cinco motivos que reafirmam o grande tipo de produção que ‘Fleabag’ se tornou.
Formato
Convivendo com muitas pessoas que reclamam da duração de séries, aprendi que o formato é um dos principais motivos para o sucesso ou não de uma produção. Pensando a partir desta ótica, ‘Fleabag’ é o tipo de seriado que tanto os maratonadores quanto os haters gostam: cada temporada tem seis episódios com média de 20 minutos.
Assim, como a produção se encerra neste ano, ‘Fleabag’ basicamente possui a mesma duração que dois longas-metragens, isto é, se nenhum deles for dirigido pelo Peter Jackson.
Roteiros
Apresentar episódios curtos nas séries sempre vem acompanhada da possibilidade de um roteiro frágil e mal trabalhado devido ao tempo limitado de desenvolvimento das tramas. Em ‘Fleabag’, Phoebe Waller-Bridge faz o incrível trabalho de aprofundar sua protagonista e conflitos com uma densidade igual a qualquer série com maior duração.
Além de utilizar diálogos realmente eficientes, a direção dos episódios também conduz muito bem o elenco para que os personagens avancem na trama de forma eficiente e sem um enorme prolongamento.
Quebra da quarta parede
Um elemento que acelera muito o entendimento da trama pelo telespectador é exatamente a famosa quebra da quarta parede. Tanto no cinema (“A Grande Aposta”) como em séries (“House of Cards“), o olhar direto para câmera acompanhado de uma fala ao espectador é sempre um caso de ame ou odeie: muitos conseguem realizar bem, mas os que não conseguem ficam marcados por isso.
Já em ‘Fleabag’ a quebra da quarta parede se torna uma jogada incrível do roteiro. A protagonista fica livre para conversar com o público inúmeras vezes, criando uma relação de confidência tão palpável que, por vezes, a personagem somente olha para a câmera e o público sabe exatamente o que ela está pensando.
Elenco
Apesar de não ser anunciada com um graaaande elenco, ‘Fleabag’ tem atuações incríveis. Para começar, Phoebe Waller-Bridge é gigante no que se propõe: sair da comédia para o drama em segundos, ganhar o carisma do público e tornar sua personagem interessante não são tarefas simples, mas são extremamente bem executadas.
Junto disto, existe a atuação pontual de Sian Clifford que é capaz tanto de atrair a empatia do público quanto criar o incômodo pretendido. Além disso, Olivia Colman e Bill Paterson fazem ótimas participações em cenas desconfortáveis, tristes ou reveladoras.
Nada de feminismo idealizado
O último motivo (e mais importante, na minha opinião) para ‘Fleabag’ ser uma série tão boa e continuar relevante durante os próximos anos é a sua abordagem sobre um tema ainda muito debatido: o feminismo.
Sim, a série apresenta uma protagonista (quase) independente financeiramente, que fala abertamente sobre sexo, situações relevantes quando se fala de protagonismo feminino. A melhor parte disto é que Phoebe consegue desenvolver essas questões de forma muito verdadeira e nada glamurizada como é comum ver na TV.
Apesar do debate sobre feminismo ser presente, ele não é perfeito e a própria Fleabag sabe disto. “Nós somos más feministas”, diz a protagonista para sua irmã no primeiro episódio da série, isto já apresenta que, mesmo bem resolvida como mulher, ela também é imperfeita e totalmente relacionável com seu público.
Para mim, esta é a melhor experiência que um seriado pode proporcionar: se relacionar com o público e crescer juntamente com ele. Séries memoráveis como ‘Friends’, ‘Os Sopranos’, ‘Merlí’, ‘Grey’s Anatomy’ e ‘Glee’, conseguiram fazer isto até hoje e, agora, ‘Fleabag’ também o fará.