Se há um título de filme que não combina, à princípio, com o diretor este é “Happy End”, novo longa de Michael Haneke. Conhecido por obras duras como “Violência Gratuita”, “Caché” e “Amor”, o austríaco volta o seu olhar para a crise imigratória na Europa e as redes sociais na produção. Em Cannes, o cineasta pode quebrar um recorde e ter o terceiro filme premiado com a Palma de Ouro.

“Happy End” se passa em Calais, na França, e acompanha Georges Laurent (Jean-Louis Trintignant), o patriarca da família, que está preso em uma cadeira de rodas. Sua filha Anne (Isabelle Huppert) ainda mora com ele, enquanto que seu filho Thomas (Matthieu Kassovitz) acaba de retornar para a casa do pai, junto com a esposa e a filha Eve (Fantine Harduin), cuja mãe faleceu recentemente. Entre eles existe uma intensa incomunicabilidade, que faz com que todos levem a vida segundo seus interesses pessoais.

Em coletiva de imprensa, Haneke afirmou que a ideia de abordar as redes sociais em “Happy End” deve-se às grandes mudanças vistas no mundo nos últimos 20 anos. “Não há como falar do mundo atual sem tocar nas redes sociais. Hoje, há uma falsa ideia de informação. As pessoas são inundadas por informações, mas, nós como sociedade, não sabemos de nada. Antigamente, o fazendeiro sabia bem da sua região e dos moradores de lá. Hoje, as pessoas veem coisas do mundo inteiro, mas, não fazem ideia do que realmente acontece na vida das pessoas”, declarou.

Antes de “Happy End”, o cineasta austríaco pretendia fazer “Flashmob” abordando, justamente, o mundo conectado da atualidade. A imprensa mundial questionou se o projeto teve alguma influência em “Happy End”: “Escrevi ‘Flashmob’ há alguns anos por motivos pessoais que não irei revelar aqui. Porém, o projeto não foi para frente. Mas, com certeza, elementos da escrita deste projeto serviram para fazer “Happy End””, afirmou.

Haneke, entretanto, deixou claro que “Happy End” não se trata apenas de redes sociais. “Cada roteiro meu segue um sistema narrativo diferente. Mas há uma questão em comum: não me guio por intrigas, mas pelo clima de provocação em que posso envolver o espectador”, disse.

Pela quarta vez trabalhando com Haneke após “A Professora de Piano”, “Amor” e “O Tempo do Lobo”, Isabelle Huppert destacou o melhor do cineasta: “Precisão é a palavra que define Haneke, porque é dela que vem nossa liberdade. Ele tem um controle pleno do quadro”