Sabe aqueles filmes clássicos ou considerados de “arte” que a gente morre de vontade de assistir e geralmente não chega aos cinemas comerciais? Então, esses são os tipos de filme que a gente costuma encontrar em cineclubes, que foram projetados justamente como resposta as demandas não ofertadas no cinema comercial, de acordo com o Conselho Nacional de Cineclubes.

Ao longo dos anos 2000, Manaus pode acompanhar um avanço no setor audiovisual e, aqui, se incluem a presença dos cineclubes na cidade. Entre eles, está o Cine e Vídeo Tarumã que funciona na Ufam sob a direção do jornalista e professor Tom Zé, também colaborador do Cine Set.

O Cine Set conversou com algumas pessoas que juntamente com o professor tiveram participação ativa no projeto em suas duas décadas de existência.


Paula Carvalho

Eu procurei o Cine e Vídeo Tarumã por ter muito interesse por cinema. Tendo em mente que gostaria de estudar mais sobre a área, soube que na Ufam havia este espaço ideal para este objetivo. A gente conhece vários filme e diretores clássicos e acha que sabe de muita coisa, mas quando eu cheguei ao projeto e vi filmes da África do Sul, Egito, Noruega; eu percebi que tinha um mundo todo de filmes por ai que a gente não conhece muito. Eu percebi que faltava muita coisa pra eu saber sobre cinema, até sobre cinema brasileiro. Foi ai que me apaixonei pelo cinema e tive a certeza que é no que eu realmente quero trabalhar.

Depois de um ano de projeto eu decidi que iria sair de RP e cursar Jornalismo, porque eu entendi que a profissão estava além da redação, ainda mais convivendo com Tom Zé que é imerso na área de cinema e é jornalista. Então pensei que esse era o meu caminho, pra onde eu tinha que ir gostando de cinema morando em Manaus. Não me arrependo da troca, porque vi que o jornalismo tá mais ligado ao cinema do que RP, por ser amplo e me ofertar a oportunidade de atuar na área.


Arthur Charles

“Participar do Cine e Vídeo Tarumã foi uma ótima experiência. Toda a atmosfera de lidar com a organização de um cinema é muito legal e inspiradora, porque você começa a entender um pouco do mercado de filmes e da importância dos cinemas alternativos para a cidade e para as pessoas. Sempre penso nessa importância, principalmente, dentro da universidade.

Os cineclubes, na minha opinião, são responsáveis por darem uma abordagem diferente dos filmes e fomentarem uma discussão do audiovisual, o que é bastante interessante para os alunos que precisam debater e discutir temas referentes a temáticas diversas, exercendo a reflexão dentro a universidade. Filmes com potenciais comunicacionais; de qualidade estética; de grande repercussão, são os filmes que podem direcionar grandes debates. E tudo isso é muito importante para aqueles que participam dessa rotina de criação das temáticas semanais, das escolhas dos filmes, porque gera um crescimento de conhecimento enorme. Isso influenciou bastante na minha vida e hoje em dia agradeço bastante ao Cine e Vídeo Tarumã por me fazer entrar em contato com diversas situações do mundo inteiro e variadas temáticas, que agora fazem parte do meu repertório de conhecimento e cultura”.


Hector Muniz

“Foi uma experiência ótima porque foi quase uma experiência de assessoria de imprensa, por ter que conversar com pessoas de redação pra conseguir que o release saia no jornal. Além disso, o fato de estar conhecendo novos filmes, novas histórias, foi muito importante pro meu aprendizado, pra minha vida acadêmica.

Durante o tempo que permaneci no projeto, pude conhecer filmes poloneses e o trabalho do Aurélio Michiles, sua importância para o cinema local. Uma das semanas que mais me marcou foi o evento nacional do Cinema pela Verdade que levantou em mim um pensamento crítico sobre tirania e os governos. Foi uma experiência muito gratificante”.


Clayton Nobre

“Então, a experiência foi ótima. Fico inclusive feliz de saber que o Cine e Vídeo Tarumã ainda está na ativa, funcionando. Pra mim e certamente pra todos que passaram pelo projeto, foi uma oportunidade de ampliar nosso repertório do cinema no mundo. Isso se deve especialmente ao acompanhamento do Tom Zé, que tem um grande acúmulo histórico nesse sentido, e às atividades que produzíamos para além da exibição de filmes, trazendo convidados, incitando debates, etc”.

susySusy Freitas

“Eu já era estudante da Ufam antes de cursar Jornalismo, então eu frequentava o espaço do cineclube, mas poder participar do Cine e Vídeo Tarumã, ao lado do professor Tom Zé, me fez ampliar o leque dos filmes que eu já tinha curiosidade de assistir.

A atividade ia além da função jornalística, realizada por meio da produção de matérias de divulgação, havia também a questão de conhecer e pensar nos filmes, e, juntamente com o professor Tom Zé pensar na programação, as temáticas, como os filmes dialogavam entre si durante a semana. Foi interessante intensificar o conhecimento em relação aos cinema.

É uma experiência de aprendizado, porque a gente passa a observar os detalhes de funcionamento desde ao filme estar rodando no aparelho, a iluminação e as condições da sala. Começa a prestar atenção nessa situação que é uma espécie de simulação do exercício do cinema, o aspecto físico do local de exibição. Mas era muito interessante poder ter esse contato com filmes que só chegavam a Manaus por conta do Cine e Vídeo, num contexto em que não eram difundidos os serviços on demand como Netflix, e mesmo a questão dos downloads, no tempo que eu participei era bem difícil, a própria questão da conexão. Era bem diferente você poder assistir o filme ali na sala e isso ficava bem evidente na experiência de participar. Foi muito gratificante participar do projeto”.

antônio carlos júniorAntônio Carlos Júnior

”Eu fiquei por volta de um ano e meio no Cine e Vídeo. Já estava em mais da metade do curso de jornalismo na Ufam e foi uma experiência sensacional pra mim. O projeto te proporciona ter conhecer diversas visões de cinema. Ali eu puder conhecer Antonioni, Bergman. Vi de filmes etnográficos até animações polonesas, por exemplo. Sempre ocorria uma homenagem a cineastas ou profissionais no cinema, sempre estava ocorrendo sessões especiais de várias cinematografias.

A própria experiência com Tom Zé era enriquecedora. Ele é um dos poucos na cidade que tem e pode desenvolver um conteúdo na área do audiovisual critica e bem contundente. Ter essa relação diária com ele foi uma experiência muito boa.

A minha formação crítica de cinema e de estruturação, a escrita de roteiros, o conhecimento de diferentes atuações de diretores, como eles constroem seus planos e filmes, a direção de atores, tudo isso veio por meio do Cine e Vídeo. Porque passei esse tempo todo vendo filmes. Se você quer fazer cinema, você precisa ver filmes. A experiência e oportunidade que o projeto me ofertou de ter um catálogo de diversos filmes e diretores me ajudou bastante. Eu devo muito a minha prática de fazer cinema ao Cine e Vídeo Tarumã”.

sávio stocoSávio Stoco

”Participei entre 2002 e 2003. Era um dos projetos de extensão mais tradicionais do departamento e uma das poucas iniciativas que ofereciam contato com a área das artes/comunicação que me interessou bastante ao longo da minha trajetória.

Ter tido oportunidade de um contato mais direto com o professor Tom Zé, bastante experiente com o cinema, me atraiu além da própria atividade. Ele tem um ótimo repertório de filmes, sempre atualizado. O projeto oferecia uma atividade que envolvia uma divulgação na Ufam, por meios de comunicação fora dela também e, claro, o prazer de cuidar da sessão e ter que ver a seleção de filmes escolhidas pelo professor. Infelizmente não era sempre a realização de debates, como em cineclubes de práticas mais tradicionais. Mas penso que o papel é em parte substituído pelo folheto rico com informações sobre a programação.

Sempre fiquei atento aos títulos, informações, práticas e efeitos de cada programação junto ao público durante esse período. Na época em que participei pelo menos, o interesse era considerável junto à comunidade que circula na Ufam. Acredito que ter passado por essa aproximação com o audiovisual fez com que eu me sentisse mais familiarizado com esse meio, realizei alguns trabalhos relacionados ao audiovisual e prossigo no estudo dos filmes. Torço para que o departamento, futuramente, com a aposentadoria do professor, não se esqueça e abandone essa área tão significativa para as humanidades no geral”.

Em 20 anos de atividade, o Cine e Vídeo Tarumã tem alimentado uma geração de amantes do audiovisual, através das sessões, temáticas e debates levantados. Embora se perceba as mudanças na frequência da sala de cinema do cineclube nesse período, ele se mantém como uma opção aqueles que estimam o cinema de arte e veem no projeto uma oportunidade de conhecer novos filmes e vertentes do cinema mundial.

As sessões são gratuitas e acontecem em três dias na semana – segunda-feira, quarta-feira e sexta-feira – sempre às 12h30, no Auditório Rio Negro, no Instituto de Ciências Humanas e Letras, localizado no Setor Norte do Campus Universitário Arthur Virgílio Filho.