A Farra do Circo

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Com imagens de arquivo pessoal, o documentário sobre o Circo Voador mostra a trajetória da casa noturna que foi palco para o surgimento de grandes estrelas da música, teatro e televisão brasileira nos anos 80. As dificuldades encontradas para regularizar o espaço na Praia do Arpoador até a chegada no bairro boêmio da Lapa, passando pela bagunça realizada na Copa de 1986 no México, são trazidas em uma série de imagens raras.

Não há como negar que a escolha de Roberto Berliner e Pedro Bronz em deixar o vasto material contar a história por si só ajuda a entender o clima do Circo Voador, evitando as burocráticas entrevistas com personagens do local. Assistir um Caetano Veloso falando palavrão a cada segundo, o Barão Vermelho ainda no início da carreira e Regina Casé em espetáculos para lá de ousados são pérolas da cultura pop brasileira.

“A Farra do Circo”, infelizmente, se estende mais do que o necessário, cansando o espectador. Mesmo assim, o documentário vale a pena pelos registros importantes de um momento criativo cultural e, quem sabe, serve de inspiração para os dias atuais.

NOTA: 6,5

Belas Artes – A Esquina do Cinema

belas artes a esquina do cinema

Trabalho de conclusão de curso do jornalista Fábio Ornelas, “Belas Artes – A Esquina do Cinema” mostra o processo de fechamento de um dos mais antigos cinemas de rua de São Paulo. O documentário traz uma série de depoimentos de clientes sobre a importância do espaço e imagens das manifestações pelo tombamento do prédio. Se o filme peca no quesito estético com problemas de enquadramento e iluminação, o registro histórico ressoa mais forte.

A obra trabalha a crise nos cinemas de rua com entrevistas de pessoas como André Sturm (gestor do antigo Belas Artes) e o historiador Inamá Simões (autor do livro “Salas de Cinema de São Paulo”), além do vazio deixado pelo fechamento desses espaços. Para completar, o filme ainda mostra, mesmo sem intenção, as primeiras centelhas das mobilizações sociais iniciadas nas redes sociais reunindo jovens por uma determinada causa em vias públicas.

A luta para resgatar o Belas Artes pode motivar Manaus a, finalmente, fazer sair a sala de cinema de arte no Centro de Manaus.

NOTA: 7,0

Junho – O Mês Que Abalou o Brasil

junho o mes que abalou o brasil

As manifestações de 2013 intrigam todos os brasileiros. Como começou? O que levou milhões de pessoas a irem para as ruas? Quais os efeitos? Tudo parece ainda tão incerto que tentamos entender o que realmente aconteceu.

Dirigido por João Wainer, “Junho” busca responder algumas dessas indagações. Para tanto, o documentário vai atrás de gente de peso como Clóvis Rossi, Leonardo Sakamoto, Juca Kfouri, Gilberto Dimenstein, Demétrio Magnoli, além de contar com um quantidade imensa de imagens de arquivo dos protestos por todo Brasil.

O fato é que certos fenômenos sociais precisam de uma distância maior no tempo para que seja analisado com toda a complexidade. Tudo o que se passa durante a curta projeção de 73 minutos já foi visto e falado. Tirando a cretinice de buscar absolver os órgãos de imprensa pela cobertura dos protestos, Wainer faz um trabalho correto sem ser brilhante. A edição ágil contribui para que o longa não perca o ritmo e se mantenha interessante.

Tudo, porém, soa esquemático e sem realmente discutir com profundidade sobre o que vivemos naquele junho histórico. Falta naturalidade e buscar figuras fora do óbvio poderia ser uma alternativa melhor. Não à toa que o único momento mais espontâneo do documentário está nas palavras do poeta Sergio Vaz ao falar sobre as balas usadas nas manifestações da classe média serem diferentes das usadas nas periferias.

NOTA: 6,0

O Lobo Atrás da Porta

o lobo atrás da porta leandra leal

“Rashomon” + Nelson Rodrigues = “O Lobo Atrás da Porta”.

A estreia do diretor e roteirista estreante em longas-metragens Fernando Coimbra se mostra como um dos mais belos exemplares da produção nacional nos últimos anos. Baseado em uma história real ocorrida nos anos 60 no Rio de Janeiro, o longa revela aos poucos os segredos do ambiente doentio dos personagens criando uma sensação de incerteza sobre o destino daquelas pessoas. Elemento fundamental para o sucesso de um suspense.

Como se não bastasse um direção e roteiro engenhoso, “O Lobo Atrás da Porta” traz ótimas atuações de Milhem Cortaz, Fabíula Nascimento e Juliano Cazarré. Acima de tudo, Leandra Leal domina a cena e entrega a maior atuação da carreira ao trazer uma mulher trágica e vingativa.

Igual ao ótimo “Quando Eu Era Vivo”, “O Lobo Atrás da Porta” pode trazer novos rumos para o suspense no Brasil e abrir caminho para ótimas produções do gênero. Pena o lançamento acontecer justo em um período de Copa do Mundo.

NOTA: 8,5

Riocorrente

riocorrente

A violência está presente em cada ato de “Riocorrente”. Seja ao riscar o carro, fazendo sexo ou como falar com o próximo. Nunca chega a explodir, porém é elemento essencial de todos os personagens. Protagonista do filme, a cidade de São Paulo é a casa desse ambiente de infelicidade e raiva.

Diretor conhecido pelo premiado documentário “O Prisioneiro da Grade de Ferro”, Paulo Sacramento não busca simplificar a vida do espectador. Metáforas se sucedem durante a projeção do filme, o que impede a completa compreensão de tudo o que o cineasta propõe. Mesmo assim, não há como negar a analogia com os animais grandes achados de nossa decadência como civilização e sociedade.

“Riocorrente” traz ótimas questões sobre o estado de abandono do homem nas grandes cidades e a violência cada vez mais como parte intrínseca das nossas vidas.

NOTA: 7,0