A década passada fez o cinema mundial deixar os Estados Unidos de lado. O período trouxe a força da Ásia (“Oldboy”, a maturidade de Zhang Yimou, Miyazaki brilhando, o terror japonês e coreano), o retorno da relevância da América Latina (“Cidade de Deus”, “Tropa de Elite”, “O Segredo de Seus Olhos”, Iñarritu, Cuarón, Del Toro) e a Europa dando sinais de novos grandes diretores ( Haneke, Von Trier, os irmãos Dardenne, Von Donnersmarck).

Nos primeiros seis meses deste ano, esse cenário voltou a mostrar força, mesmo que sem a intensidade daquela época. Enquanto os blockbusters americanos pouco mostraram qualidade, o cinema mundial apresentou obras de grande qualidade.

O Brasil se dividiu: se as comédias fracas da Globo Filmes continuam dominando o mercado, é no circuito alternativo que as melhores obras se encontram.

Vamos a um balanço deste primeiro semestre (critério obedece filmes lançados no Brasil a partir de 1º de janeiro):

DESTAQUES

O Som ao Redor: obra-prima do cinema nacional. Essa é a melhor definição do filme essencial sobre o crescimento urbano desenfreado, as tensões sociais históricas do Brasil e a insegurança de nossas metrópoles

Renato Russo: o líder da Legião Urbana salvou as grandes produções do cinema brasileiro não dependerem apenas das comédias sempre duvidosas da Globo Filmes. Os sucessos de “Faroeste Caboclo” e “Somos Tão Jovens” já permitem sonhar com a versão de “Eduardo e Mônica”.

Michael Haneke: dono de obras duras sobre a sociedade, o cineasta austríaco conquistou Cannes e Oscar com um triste filme sobre o doloroso caminho que o verdadeiro amor precisa passar em algum dia de nossas vidas. Tão brilhante quanto a condução do longa é a atuação da dupla de protagonistas.

Mads Mikkelsen: a alma de “A Caça”, filme mais inquietante de 2013. Não viu? Então, procure desesperadamente!

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Leonardo DiCaprio: se o Oscar não tem capacidade para ver a brilhante atuação do ator em “Django Livre”, para que levar a premiação tão a sério? Além disso, Di Caprio ainda nos dá uma cena brilhante de improviso. Pena ter feito o insosso “O Grande Gatsby” para não deixar 2013 perfeito.

JENNIFER LAWRENCE and BRADLEY COOPER star in SILVER LININGS PLAYBOOK

Jennifer Lawrence e Bradley Cooper: uma atriz revelação e com potencial; um ator pop que pouco mostrou talento. A dupla de “O Lado Bom da Vida” se deu as mãos e mostrou a Hollywood o quão bons são. Basta manter o nível e selecionar projetos de qualidade.

Star Trek – Além da Escuridão: o grande blockbuster do ano apontou a verdadeira receita para o sucesso: boa história com ótimos atores e excelentes efeitos especiais. Para completar, um diretor como J.J Abrams para conduzir bem tudo. Tão simples e Hollywood ainda não aprendeu.

Robert-Iron-ManRobert Downey Jr.: somente um grande ator consegue se destacar em um filme fraco. Se “Homem de Ferro 3” não compensa todo o investimento, o astro consegue trazer todo carisma a Tony Stark e transformá-lo em uma figura, no mínimo, interessante.

SURPRESAS

NO – Brasil, México e Argentina eram os principais destaques quando se falava em cinema na América Latina. “No” coloca o cinema do Chile nesse mapa com uma história dura e sofrida do fim da era Pinochet.

César Deve Morrer – em tempos de fugas em massa dos presídios do Amazonas, este filme italiano mostra o quanto a arte pode ser um agente transformador na vida das pessoas.

Robert De Niro – yes, he can! Depois de uma longa sequência de filmes pouco relevantes, o ator de “Taxi Driver” e “Touro Indomável” relembrou os velhos tempos e trouxe um bom personagem. Com uma atuação sutil, De Niro mostra que pode ser mais do que vem sendo.

Quvenzhané Wallis – vamos falar a verdade: “Indomável Sonhadora” somente virou o filme indie do Oscar 2013 por causa dessa atriz mirim de 6 anos. Com personalidade, a garota dá um show de atuação e faz uma interpretação nunca alcançada antes por certas atrizes consagradas (né, Cameron Diaz!).

Helen Hunt – sumida. Eis uma palavra apropriada para a vencedora do Oscar de melhor atriz em 1999. Foi, então, que pintou o pequeno “As Sessões” e Hunt se entregou de maneira intensa à personagem. Ela e o filme deveriam ser mais valorizados.

DECEPÇÕES

Cinema Alternativo em Manaus – este post já diz tudo.

Pedro Almodóvar – – depois do excelente “A Pele Que Habito”, esperava-se outra obra-prima do cineasta espanhol. Porém, o cineasta exagerou na mão em “Os Amantes Passageiros”: uma comédia forçada e pouco interessante.

A Viagem – uma ideia boa, mas desperdiçada. O novo filme dos irmãos Wachowski se perde em sua pretensão e diversas narrativas.

Tom Cruise – nunca esteve tão apagado, sem causar frisson. “Jack Reacher” passou e ninguém viu, enquanto “Oblivion” até é bom, mas já foi esquecido como a maioria dos blockbusters deste ano.

Arnold Schwarzenegger e Bruce Willis – com “O Último Desafio” e “Duro de Matar 5” confirmaram que o tempo passa para todos.

Hitchcock – nem mesmo Anthony Hopkins, Helen Mirren e Scarlet Johansson salvam este filme que não aproveita bem os ricos bastidores de “Psicose”.

Se Beber, Não Case III – enterrou de vez a série com um filme incapaz de arrancar uma risada.