Liderado por Anderson Mendes, a Hyperfilmes foi idealizada por um grupo de amazonenses amantes da sétima arte, viciados em filmes de artes marciais orientais e que, a partir disso, criaram uma longa lista de filmes e seriados, sempre apostando na linha trash. A produção de vídeos começou no longínquo ano de 2001, realizando trabalhos nessa linha, como o já muito famoso Rambú do São Jorge, mas também trabalhos como O Poderoso Zap, Chumbo Quente, O Príncipe Kung-Fu e o premiado Picolé do Aranha.

Na tentativa de relembrar tantos sucessos e saber se existe a possibilidade de novos trabalhos deste canal do Youtube serem exibidos em breve, conversei com Anderson Mendes que contou sobre todo o processo que envolvia as produções, das consequências do seu sucesso, e de que como até o famoso grupo de humor, Hermes e Renato, copiou o canal amazonense.

CINE SET – O seu início no mundo do audiovisual foi com essa pegada mais cômica/trash? Quais são/eram as suas influências?

ANDERSON MENDES – Sempre curti essa pegada mais trash. Porque desde a faculdade de Publicidade na Uninorte (1999-2002), eu fazia meus trabalhos em vídeo usando ao pé da letra a frase “uma câmera na mão…”. Não tínhamos acesso ainda ao laboratório, então emprestava uma câmera de amigos e fazia as campanhas de 30 segundos nos trabalhos, e mesclava várias técnicas artesanais e altamente criativas que no final rendiam boas notas e gargalhadas na turma. Em 2000, fiz o curta X – File – A Ipupiara Está Lá Fora, trabalho inspirado na série Arquivo X.

CINE SET – Como surgiu a ideia de criar esse canal no Youtube? Quem mais fazia parte dele?

ANDERSON MENDES – No fim do ano seguinte, numa oficina do “finado” Junior Rodrigues, conheci parte de uma galera que estava iniciando um filme de kung fu, estilo anos 70, nos mesmos moldes do meu trabalho de faculdade. Nomes como Ademar Vieira, Jucylande Jr, Raphael Russo, O monge negro, Maitó, Guilherme Queiroz, Tiê Santos, e muita gente que colaborou. Posso dizer que ali já surgiu a Hyperfilmes. Não demorou muito, surgiu uma esquete no programa com a mesma pegada, mas ambientada no Brasil e nos dias atuais. Foi uma kibada que no final pra gente foi uma homenagem. Nossas referências sempre foram os filmes trash de kung fu chineses que lotavam as locadoras. Um grupo de amigos que se reunia nos sábados e domingos para produzir seus filmes de forma descontraída. Na época já rolava o Hermes e Renato na MTV, muita gente citava eles como nossa referência, mas nunca foi. Apesar de assistirmos e gostarmos, nossa pegada era cinema mesmo, descomprometido com regras e focado 100% na diversão. Agora que o “Hermes e Renato” kibaram a gente, isso rolou mesmo. Em 2003 ou 2004, não recordo, o Detonator veio fazer um show de metal em Manaus e parte da trupe entregou uma fita VHS do Festival Hyperfilmes (uma coletânea de curtas nossos) e entre os trabalhos estava o piloto da série Em ponto de bala, uma série derivada do Príncipe Kung-Fu que se passava em uma delegacia de Nova Iorque nos anos 70. Desde 2002 sempre mantinha contato com as demais produtoras trash do Brasil. Eram poucas. E sempre que pintava alguma novidade essa galera era a primeira a usar. No início de 2006, a galera trash começou a utilizar o Youtube para compartilhar os filmes, foi quando aproveitei a oportunidade e criei o canal. Desde 2002 tínhamos um site no Portal Amazônia e o e streaming dos filmes sempre foi um problema em nossa região. No canal estão os principais trabalhos nossos, O Príncipe Kung-Fu completo, alguns trailers, a série Goldman que foi o nosso Tokusatsu, até premiado no primeiro Amazonas Film Festival, na categoria Curta Brasil 2003; toda a série do Poderoso Zap, e alguns trabalhos pessoais meus, como meus documentários e o programa fake Chumbo Quente, com o destaque do vídeo da Sereia de Manaus, criação minha que rodou o mundo é até hoje prega peças em alguns incautos.

CINE SET – Os números alcançados são impressionantes. Esperava chegar a um número tão grande de pessoas?

ANDERSON MENDES – O vídeo da série foi um caso à parte. Viralizou globalmente. E sempre que o Discovery exibe o mockumentario das sereias, ele bomba. Comparando a versão oficial e as cópias espalhadas pelo Youtube, acho que já passou dos 25 milhões de visualizações. Outro vídeo que viralizou foi o trailer do documentário sobre o Rambú do São Jorge, sempre usado como referência para as matérias das emissoras nacionais e internacionais que procuram ele. A gente nunca esperava fazer tanto barulho assim, mas o Youtube desde o princípio foi uma plataforma que eu sempre confiei e apostei, pois foi e é através dele que conquistamos muitos fãs e resgatamos tantos outros. Sempre recebo contato de gente de fora do país que curte O Poderoso Zap e o Príncipe Kung Fu. CINE SET – Como surgiu a ideia de criar O Poderoso Zap?

ANDERSON MENDESO Poderoso Zap nasceu em janeiro de 2004. O Arnoldo Santos, na época, era gestor no Amazon Sat e se amarrou no Goldman, quando foi exibidono Amazonas Film Festival. Ele queria que fizéssemos algo no estilo, mas com uma pegada regional e convidou para exibirmos no programa Zappeando, o qual sempre nos apoiou, seja exibindo as matérias ou algum curta nosso.

Reunimos a galera e nasceu O Poderoso Zap. Figurino todo montado com acessórios emprestados. Cueca de um, tênis do outro, calça e camisa de outro. Acho que a única coisa que compramos foi o Eva para fazer a máscara e o bracelete. Já o Gato Maracaja foi invenção do Raphael que tinha a pelúcia e teve a ideia de deixá-lo como mascote do Zap. O Raphael era a Mãe Gilka, o Maitó interpretava o Policarpo Philadelpho, que era o fracote e alter ego do Poderoso Zap. Guilherme era o Poderoso Zap. E o Daniel era o vilão Toronto, o mestre do mal.

Quando o primeiro episódio foi ao ar em março, a expectativa era grande, pois, até então, nunca tinham feito algo nesse naipe na TV amazonense. Foi uma aposta do Arnoldo que abriu as portas da TV no horário nobre para um grupo de “cineastas” de brincadeira. Galera que se dedicou ao longo do semestre pra produzir os oito episódios da temporada. Teve um dia que fui levar um episódio e estava passando o episódio na hora. Reparei que a TV toda parou para assistir.

CINE SET – De lá pra cá você já fez filmes com temáticas mais sérias. Sente falta de utilizar essa linguagem de antes nos seus projetos de agora?

ANDERSON MENDES – Meio que o espírito das filmagens da Hyperfilmes eu procuro incluir nos meus trabalhos mais sérios. E a questão da estética gostaria de abordar em trabalhos futuros, quem sabe não volto a gravar usando uma VHS e volte a experimentar a edição linear usando vídeos cassetes. Era super trabalhoso, mas o resultado final era único e bem criativo.

CINE SET – Há algum tempo não se tem mais vídeos no canal. Não pretende criar alguma outra série? Há a chance de novos episódios de O Poderoso Zap?

ANDERSON MENDES – Entre as coisas novas “velhas” que devem pintar no canal…

Na verdade já deveria estar lá, são os demais curtas da Hyperfilmes que fazem parte da mostra Hyperfilmes. Como o Eduardinho: Mãos de Tesourinha, o Blade da Compensa e Gegé: A mente sexual, cujo ator era eu, um dos poucos trabalhos meus na Hyperfilmes na frente das câmeras onde eu interpreto um adolescente e filho mais novo de uma família que sempre coloca o irmão mais velho em confusão. Algo meio Chaves, Porks. O Poderoso Zap tentamos fazer a segunda temporada em 2006.

Iniciamos a gravação do primeiro episódio O Peixe Monstro das Trevas que está incompleto no Youtube. Mas acabou que a galera foi esfriando, tomando outros rumos e a ideia não foi pra frente. Mas pelo ritmo, pela qualidade das nossas produções naquele período com certeza teríamos uma temporada cheia de ação, efeitos especiais e humor.

Quem sabe o Zap não vira animação? Chegamos a produzir um trailer animado que ficou legal. Agora de novidade no canal teremos o lançamento (se Deus quiser) do segundo longa metragem nosso, A Quarta Vingança, filme ambientado no mesmo universo do Príncipe Kung Fu. O filme bebe na fonte do Kill Bill e dos filmes de kung fu e policiais dos anos 70. Levou uns cinco anos para ser rodado, e está apenas aguardando a edição. Se conseguir um tempo livre posso editar e lançar esse ano.

Esse filme tem cenas “rodadas” em Hong Kong, México, EUA, nos “estúdios” da Hyperfilmes no Eldorado. Entre as histórias de bastidores nesse filme (foram várias), teve uma cena rodada ali numas ruínas na Avenida Theomario Pinto. Nesse cena rolava uma tortura e um assassinato, e um dos dubladores ficava gritando de dor e pedindo pra não morrer. Quando não demora muito chega uma viatura da polícia no fim da cena porque denunciaram achando que era real.

Essa aqui é um pequeno trecho: https://www.youtube.com/watch?v=Scmjty04VFM&feature=youtube_gdata_player

VEJA ALGUNS DOS VÍDEOS PRODUZIDOS PELA TURMA DA HYPERFILMES

SEREIA DE MANAUS

A Incrível História de Coti: O Rambo do São Jorge

O Príncipe Kung-Fu

https://www.youtube.com/watch?v=Vh64vRg9VV0&feature=youtube_gdata_player

Lançamento de “O Príncipe Kung Fu” na Universidade Federal do Amazonas