A solteirice, um dos subgêneros preferidos das comédias, sempre foi abordada com frequência no cinema americano, principalmente na década de 80. De A Última Festa de Solteiro (1984) – Tom Hanks em início de carreira– até a franquia Se Beber, Não Case (2009-2013), são alguns exemplos clássicos de obras centradas em personagens masculinos.

Essa realidade tem mudado nos últimos anos com lançamentos dos mais variados filmes e gostos voltados ao público feminino.  Do escatológico e divertido Tudo Para Ficar com Ele (2002) ao debate maduro e inteligente em relação ao tema com Frances Ha (2012) e Missão: Madrinha de Casamento (2011). É claro que entre os dois exemplos, sempre há aqueles descartáveis como Quatro Amigas e um Jeans Viajante (2005) e Quatro Amigas e Um Casamento (2012).

Em 2016, a aposta é Como Ser Solteira, de Christian Ditter, que estreou na última semana nos cinemas manauaras. Baseado no livro de Liz Tuccillo, o filme retrata a vida de solteira de 4 mulheres: Alice (Dakota Johnson), que rompe o namoro para experimentar a vida de solteira em Nova York; sua irmã Meg (Leslie Mann), médica independente que resolve ter um filho por conta própria; a festeira Robin (Rebel Wilson), que deseja apenas aproveitar a vida noturna; e Lucy (Alison Brie), uma romântica inveterada que sonha encontrar o par perfeito na internet. Todas as personagens vão apresentar diversas subtramas envolvendo vários homens que conhecerão durante o filme.

Como Ser Solteira é um avanço em comparação ao trabalho anterior do diretor Christian Ditter, o mamão com açúcar Simplesmente Complicado. Aqui, o diretor acerta a mão ao fazer um feel good movie para nova geração, mais interessante e até elegante, em que, inclusive, em uma das cenas utiliza um belo plano que sai de uma festa no terraço e mostra o isolamento de uma personagem na escada do terraço. Ele evita os excessos de melodrama romântico visto no seu filme anterior, trabalhando assim, mais solto na comédia. Sim, temos aqueles velhos clichês do gênero com ângulos que destacam momentos fofos dos personagens e a trilha sonora pop melosa em situações chaves.

É claro que estes clichês são bem contornados pela direção. Algumas piadas funcionam visualmente e o filme é até simpático em desenvolver os personagens, evitando que eles virem uma dimensão caricata, principalmente os masculinos, que não caem nos estereótipos comuns dos filmes de empoderamento feminino – inclusive alguns são parceiros e ajudam as protagonistas femininas a lidarem com as suas inseguranças. O roteiro de Dana Fox não deixa de ser raso, algo esperado vindo da mesma pessoa que escreveu Vestida para CasarJogo de Amor em Las Vegas. Apesar disso, na teoria ele é “esforçado”, ao elaborar a jornada de auto-descobrimento feminina, onde se encontrar é mais importante que achar o “homem dos sonhos.

Mesmo entendendo que, nas entrelinhas, essa é a principal ideia do filme, Ditter e Fox se perdem na prática quando precisam oferecer essa reflexão ao espectador e, nesse ponto, evidenciam a maior fragilidade do trabalho: a indecisão entre a comédia e o drama acaba resultando em um filme perdido dentro das temáticas e subtramas que seu texto oferece. Sem o estofo textual mais maduro, ambos optam pelas soluções fáceis, no caso, abraçar os mais variados estereótipos e piadas vulgares, elementos clássicos no gênero – e, sinceramente, piadas sobre depilação, vômitos e flatulências já estão mais que batidas no cinema de humor.

É claro que parte do carisma do filme vem do seu elenco, que dentro do conjunto da obra funciona bem. Ele é mais interessante que a própria história, mesmo que suas atrizes cada vez mais se “especializem” a repetir no cinema, determinados personagens. A caçula do quarteto, Dakota Johnson, reedita a sua jovem indecisa de Cinquenta Tons de Cinza. Rebel Wilson reprisa pela milésima vez o papel da gordinha politicamente incorreta e escrachada – ela esteve presente em pelo menos cinco trabalhos da mesma temática nos últimos quatros anos. Fechando, Leslie Mann e Alison Brie executam mais uma vez o papel da mulher neurótica moderna.

Como Ser Solteira funciona como um passatempo divertido, um entretenimento para matar o tédio enquanto não se tem nada para fazer. É aquela receita de bolo que não sai ruim, ainda que no resultado final você perceba que um pouco mais de capricho e carinho em alguns dos ingredientes poderia resultar em algo mais delicioso. Há um esforço para ser diferente e trazer alguma novidade ao mundo feminino das solteiras, mas se perde no meio do caminho, repetindo os mesmos erros de outras produções.