Robert Redford e o jornalismo são dois tópicos que, volta e meia, se entrelaçam. O ator, apaixonado confesso pela “profissão repórter”, fez história no clássico “Todos os Homens do Presidente” (que inclusive está completando 40 anos de lançamento), tentou usar todo o seu charme como um jornalista experiente no romance “Íntimo e Pessoal” e explorou a mídia também em suas investidas por trás das câmeras, como foi em “Leões e Cordeiros”. Por isso, não é de se surpreender que Redford volte mais uma vez a viver um jornalista, agora no drama “Conspiração e Poder”. O resultado é correto, mas decepcionante para quem esperava um novo filme na mesma veia que “Todos os Homens do Presidente”.

Não que “Conspiração e Poder” não tenha um tema tão irresistível quanto o dito “maior furo da história”, contado naquele filme de 1976. Aqui, o foco é um evento recente da história dos Estados Unidos e com efeito completamente oposto do trabalho inspirador do Bob Woodward que Redford interpretou quatro décadas atrás.

O filme nos leva de volta ao ano de 2004, quando George W. Bush – então candidato à reeleição para a presidência dos Estados Unidos – foi alvo de uma extensa reportagem do tradicional jornalístico norte-americano “60 Minutes”, que propunha investigar o que realmente aconteceu nos anos em que “Bush filho” serviu ao Exército e uma suposta proteção ao jovem, cujo pai já era um político de renome. No entanto, o tiro saiu pela culatra e a matéria foi alvo de duras críticas por conta de sua apuração confusa e de fatos que não encaixavam.

Esse episódio ainda turvo do jornalismo investigativo tem como protagonistas a produtora Mary Mapes (Cate Blanchett), que obteve as primeiras informações e que coordenou todos os trabalhos da equipe, e o experiente âncora Dan Rather (Redford).

Para quem ama cinema, o grande atrativo do filme é, de fato, a dobradinha Blanchett-Redford. Justiça seja feita, a australiana realmente teve em “Carol” o seu melhor trabalho de 2015, mas o mix de angústia, ansiedade, confiança e medo que ela imprime em Mary Mapes deixa esse filme dirigido por James Vanderbilt bem mais interessante que ele o é. Como Dan Rather, Redford tem pouco a fazer, mas a sua persona é fundamental para que vejamos o âncora como a lenda do jornalismo que ele é.

Dito isso, o maior problema de “Conspiração e Poder” é a direção truncada de James Vanderbilt e o roteiro por vezes confuso, também de autoria dele. Para comparar com um filme que acabou eclipsando este, não há aquele senso de urgência e aquele compromisso que se estende ao espectador, como foi no premiado “Spotlight – Segredos Revelados”, que também reconta um fato recente do jornalismo ianque.

Vanderbilt se redime um pouco porque, ainda que a agenda política do filme se veja de forma palpável – coisa que, para quem acompanha a carreira de Redford, não é nem um pouco surpreendente -, não há panfletagem. É uma pena que ele não veja isso como o trunfo do filme e não trate as cenas de redação com o mesmo esmero que há nas cenas íntimas, da vida familiar de Mapes (e é aqui que Blanchett brilha de forma especial).

Em termos didáticos, “Conspiração e Poder” é um daqueles filmes obrigatórios em faculdades de jornalismo, até porque cai como uma luva para o atual momento do Brasil. Por isso mesmo, a sensação é agridoce, já que esse retorno de Robert Redford aos “filmes de redação” seja tão quadrado quanto “Todos os Homens do Presidente” foi dinâmico.