“A Lista Terminal”, a nova série de ação da Amazon Prime, começa muito bem. O primeiro episódio é dirigido pelo cineasta Antoine Fuqua, de “Dia de Treinamento” (2001) e O Protetor” (2014), e realmente prende a atenção com um clima de suspense e uma boa condução.

Neste episódio, o protagonista James Reece – vivido por Chris Pratt, que trabalhou com Fuqua no surpreendentemente bom remake de Sete Homens e Um Destino (2016) – lidera o esquadrão de Navy Seals, a elite dos fuzileiros navais norte-americanos. Durante uma missão para matar um perigoso terrorista iraniano, tudo dá errado e quase toda a equipe morre. Reece fica ferido e, após se recuperar, começa a suspeitar de que houve algo errado na operação e que a Marinha está mentindo para ele. Mas seria mesmo ou tudo não passa de delírio de um soldado que teve a mente afetada pelo trauma?

Enquanto se equilibra nessa ambiguidade – o herói está ficando maluco ou existe mesmo uma conspiração para matá-lo? – a série é realmente boa. Nos seus, digamos, primeiros três episódios, A Lista Terminal é sólida e interessante. Funciona a proposta do criador David DiGilio justamente em explorar o efeito da guerra e do stress pós-traumático sobre o seu protagonista não-confiável. É nesses episódios também que Pratt faz provavelmente o melhor trabalho como ator até hoje, explorando as nuances de um personagem, na verdade, sombrio, distante dos tipos simpáticos e engraçadinhos que o ator geralmente faz.

Mas é difícil ser ambíguo por uma temporada inteira. Chega uma hora em que a narrativa precisa escolher um caminho e, infelizmente, opta pelo mais comum, o mais cheio de clichês, aquele mais parecido com centenas de outros filmes que já vimos.

RAMBO COM JACK BAUER

Na verdade, a Amazon Prime parece estar se especializando no nicho das séries de ação feitas para o público norte-americano que curte uma mistura de tiro, porrada e bomba com uma pitada de trama política – não muito complexa – e contexto realista.

Foi assim com a (boa) série de Jack Ryan, baseada no herói do autor Tom Clancy e que teve várias versões para o cinema, e com a recente Reacher – confesso, ainda não vi – um dos maiores sucessos da história da plataforma e baseada nos livros do autor Lee Child. A Lista Terminal se baseia no livro do autor Jack Carr, ele próprio um ex-Marine que segue os passos de Clancy e Child como escritores de romances de aeroporto feitos para entreter o público.

De fato, a série com Pratt tem uma autenticidade na forma como mostra operações militares e suas sequencias de ação. Mas a trama é aquela coisa que já vimos antes – os produtores de A Lista Terminal conhecem seu público, o tiozão norte-americano da gema, e criam uma narrativa feita sob medida para agradá-lo. Não foi à toa que a Amazon Prime lançou a temporada em um fim de semana antes do 4 de julho, feriado da independência dos Estados Unidos. A ambiguidade dos primeiros episódios dá lugar a uma narrativa repetitiva, com Reece indo atrás dos alvos da sua lista e se mostrando uma verdadeira mistura de Rambo com Jack Bauer.

TALVEZ UM FILME DE DUAS HORAS?

Por um lado, A Lista Terminal é uma série que explora temores modernos, especialmente, a falta de confiança – hoje, não podemos confiar nem em nossas próprias memórias. Mas, ao mesmo tempo, acaba sendo reconfortante, pois, mostra que quem vai nos salvar dessa desconfiança, de políticos safados e das grandes corporações, é o fuzileiro norte-americano com uma missão a cumprir e disposto a tudo para fazer justiça. E ele o faz reafirmando os conceitos e mitos de irmandade entre militares, tão caros a uma sociedade que preza pela guerra.

À parte esse subtexto, é possível, ao menos, se divertir com a série? Bem, A Lista Terminal é muito bem-produzida e realizada, sendo bem defendida pelos atores – além de Pratt, destacam-se Constance Wu como uma repórter que se envolve na trama e Taylor Kitsch como o “amigão do herói”. Mas a narrativa é tão séria e sombria que, às vezes, até se torna um pouco enfadonha. E é difícil também não sacudir a sensação de que, com algumas mudanças simples, a série poderia ser um filme de duas horas e contar basicamente a mesma história. O resultado, quem sabe, poderia ser até melhor.

Ao longo dos seus oito episódios, A Lista Terminal até contém alguns momentos empolgantes de ação e uma ou outra cena que busca examinar o militarismo e o drama da situação do seu protagonista. Mas a essência da série se revela em cenas como aquela em que o herói James Reece diz a outro personagem “fique fora da minha lista” ou quando arranca os intestinos de um vilão. Nada contra momentos assim, muitos deles fizeram a história do gênero ação no cinema, e agora no streaming. Pena que, neste caso, eles aparecem como cenas de rotina em um projeto genérico e que por um momento apresentou potencial para ser um pouquinho melhor.