A morte é a grande protagonista de “Leonora Adeus”, recente filme do lendário diretor italiano Paolo Taviani. Ele mesmo, no alto dos seus 91 anos, constrói uma narrativa tragicômica da morte e como ela permeia o nosso universo ao redor. Com um olhar melancólico, porém, ácido de um senhor quase centenário, Taviani constrói uma narrativa irregular, mas genuinamente dramática. E o drama, aqui, soa mais como a despedida da vida, de deixar para trás tudo o que se construiu (ou que poderia ser construído) por conta dela, a morte. Ora, a única certeza que temos neste mundo é que ela chega para todos em quando for o momento certo.

A produção italiana é uma epopéia, como um devaneio do diretor, que imagina como foi a transição das cinzas de Luigi Pirandello – o início mostra o autor vencendo o Prêmio Nobel de Literatura em 1934 – de Roma para o vilarejo onde nasceu. O escritor morreu em 1936 e pouco mais de 10 anos depois que conseguiram essa transferência – pelo menos, é isso que Taviani nos conta.

Ao longo desse percurso, a morte, a dramaticidade, a ironia e certas doses de humor ficam impressas em “Leonora Adeus”. Desde os momentos iniciais, quando o autor aparece (ele nunca é visto) junto aos seus filhos, moribundo em sua cama em um quarto minimalista e fantasmagórico. Seja por pinceladas de uma Itália fascista na década em questão.

Cabe ao delegado (Fabrizio Ferracane) o peso em carregar consigo suas cinzas até o vilarejo. Ao longo dessa espécie de marcha fúnebre, ele encontra personas curiosas e supersticiosas acerca de ter um morto em um mesmo ambiente, ou um padre que se recusa a benzer as cinzas. Ele mesmo (o delegado) é um indivíduo apático e de poucas emoções.

A MORTE COMO PROTAGONISTA

A fotografia preto e branco dá um ar soturno que é quebrado com o colorido das cores quentes na sequência final quando a história central se encerra e Taviani resolve contar uma outra história, “O Prego”, o último conto do autor italiano, como um outro filme dentro do filme. Mais uma vez, a morte tomando para si o protagonismo.

Essa narrativa tragicômica linear imaginada por Taviani e a ruptura brusca não é óbvia, certamente, porém, há uma quebra de emoção e conexão com que já estava sendo contado, ainda que o contexto geral seja o mesmo, a morte.

“Leonora Adeus” é melancólico, soa também como uma carta de despedida, um adeus, um até breve. Uma homenagem, ele dedica o filme ao seu irmão e grande parceiro de vida, Vittorio Taviani. Ou um recado de um senhor que já viu, ouviu e sentiu de tudo que estamos aqui; ele ainda está aqui e que os ciclos são assim, um dia chega ao fim, como a vida.