Adú, produção espanhola da Netflix, é um tipo de obra audiovisual que o cinema sempre lançou, mas que vemos com certa frequência hoje em dia: o filme sobre um tópico social importante da atualidade, bem-produzido e bem fotografado, que visa, além de entreter, educar o público. No caso de Adú, líder de indicações ao Goya 2021, o maior prêmio do cinema espanhol, ele se passa no continente africano e, por meio de três histórias, busca chamar atenção para o problema dos refugiados vindos desta tão complicada parte do mundo, que buscam uma vida melhor em outros países, muitas vezes se arriscando para isso.
O problema de Adú é justamente esse: são três histórias! Se o longa do diretor Salvador Calvo se focasse só no personagem-título, talvez o cineasta até tivesse conseguido criar algo especial. Porque todas as vezes em que estamos vendo o drama do garoto, depois de alguns minutos, o filme muda o foco para outros personagens e seus dramas. E, sinceramente, seus dramas não são tão interessantes assim. Sendo bem sincero, Adú é um filme chato, mesmo, toda vez que não estamos acompanhando aquele que deveria ser o verdadeiro protagonista do longa. E mesmo quando ele é o foco, o filme ainda sofre com outros problemas.
O longa começa com um incidente na cidade de Melilla, quando uma multidão de refugiados tenta pular a cerca da fronteira. O incidente resulta na morte de um deles, com o guarda Mateo (Álvaro Cervantes) servindo de testemunha do comportamento violento dos seus colegas. Já numa reserva no Camarões, um elefante é morto por caçadores, o que gera conflitos entre o segurança do lugar, Gonzalo (Luis Tosar), e a sua equipe. Para complicar ainda mais sua vida, Gonzalo se reúne com sua filha Sandra (Anna Castillo), que está viajando pelo país e com quem ele não tem um bom relacionamento. A morte do elefante e a perseguição dos caçadores também forçam o pequeno Adú (Moustapha Oumarou) e sua irmã mais velha Alika (Zayiddyia Dissou) a abandonarem seu lar e a embarcarem numa perigosa travessia rumo à Espanha.
CAMINHOS DESINTERESSANTES
Durante as quase duas horas de filme, o foco narrativo se alterna entre essas tramas, mas elas realmente não se interseccionam em momento algum. É como se estivéssemos vendo dois filmes de meia hora e um de uma hora, só colados juntos. Apesar do belo trabalho de fotografia, com paisagens africanas realmente bonitas na tela e cores expressivas, e da efetiva trilha sonora buscando criar tensão ou emoção, o filme nunca dá liga. É o caso clássico de tentar colocar muita coisa na panela: o prato acaba tentando agradar a todos os gostos sem sucesso, e alguns dos ingredientes não cozinham direito, ficam crus.
É o caso da história de Mateo. Travessia ilegal de fronteira é um problema sério em todo o mundo, mas parece que os cineastas de Adú se preocuparam em enfocar o problema e se esqueceram do cinema. Essa trama se desenvolve a passo de tartaruga e a atuação de Cervantes não é cativante a ponto de nos importarmos com seu destino. Quando ela enfim se resolve, a sensação é anticlimática.
O dilema de Gonzalo com sua filha também não empolga: em um filme que aparentemente se dedica a problematizar situações ligadas à África, por que exatamente estamos vendo uma história de pai e filha distantes que poderia se passar em qualquer outro lugar? O tempo gasto com esses personagens e o draminha pai-e-filha acaba despertando a incômoda impressão de que os cineastas – e talvez o algoritmo da Netflix – achassem que o filme não teria grande audiência se tivesse um elenco inteiramente africano, e por isso quiseram colocar uns personagens brancos para contrabalancear…
SOMENTE BOAS INTENÇÕES NÃO FAZEM BOM CINEMA
Adú é o personagem-título, e ele parece ter menos tempo de tela do que alguns desses outros. Quando o filme se foca nele, a atuação do jovem Oumarou nos conquista e nos faz investir emocionalmente no personagem. As melhores cenas do filme são aquelas entre ele e sua irmã, notadamente quando embarcam num perigoso voo de avião. Aí é quando o filme prende a atenção. Pena que, quanto mais a história de Adú avança, mais ela começa também a parecer problemática. Perto do fim do filme, as desgraças começam a se acumular sobre o coitado, e o filme passa a se tornar manipulativo, coisa que o diretor Calvo conseguia evitar no início dele.
Além disso, Adú é o pior tipo de protagonista: é passivo demais, apesar de simpático. Está sempre sendo levado de um lado para o outro, e ao fim nem se tem a impressão de que ele evoluiu ou cresceu de algum modo, porque o diretor e o roteiro estão mais interessados em mostrar “o problema social”.
Isso fica bem claro com o final da obra, que coloca um letreiro e uma música triste para nos sensibilizar a respeito da questão dos refugiados africanos. Adú é bem feito e bem intencionado, mas só boas intenções não fazem bom cinema. Acaba agindo contra suas próprias pretensões, porque seus defeitos podem fazer com que o público nem consiga vê-lo até o final, ou pior ainda, que se esqueça dele uns dez minutos depois do filme acabar. Tudo porque é um filme fraco, às vezes apelativo, e com um buraco onde deveria haver seu centro.
Alguém que vê o filme sentado no conforto do seu sofá, e no auge da sua vida, jamais poderá entender a mensagem que o mesmo tenta trazer. Infelizmente a nota geral deste filme, vai de acordo á sociedade em que vivemos, “triste, emotivo e bla bla bla” mas ainda bem que não é comigo. A mensagem que o mesmo tenta trazer é bem vincada e não se trata apenas de um filme, pois acontece exatamente neste momento, pena que as pessoas actualmente não sejam capazes de observar para além do conforto do seu umbigo.
Gostei muito do filme e recomendo que assistam, porque é baseado em fatos de realidades socais diferentes e tenta sensibilizar a quem assiste. Quem não tem a menor empatia pelos mais necessitados, realmente não vai gostar do filme, assim como quem escreveu a resenha para o site.