O que você faria se fosse a última pessoa na Terra? É com essa perspectiva que Reed Morano (“The Handmaid’s Tale”) arquiteta seu novo filme: “Agora Estamos Sozinhos”. Disponível no Prime Vídeo, a trama traz um mundo pós-apocalíptico intimista habitado por Peter Dinklage (“Game of Thrones”) e Elle Fanning (“O Estranho que nós Amamos”).
Não é dada muita informação sobre o que aconteceu neste universo, mas observar Dinklage caminhar pelas ruas com máscara de tecido cobrindo o rosto, nos oferece um vislumbre do que pode ter ocorrido. O eterno Tyrion Lannister encarna um bibliotecário solitário que parece sentir-se à vontade em perambular por uma cidade vazia. Com um olhar carregado de mistério, sua tranquilidade é atingida quando encontra uma moça em um carro batido em seu percurso.
A partir desse encontro, desenvolve-se um relacionamento pautado em conflitos de diversas ordens como o abismo geracional, a necessidade de companhia, de auxilio e até mesmo o compartilhamento de sensações e sentimentos. Há muita coisa não dita entre o casal e que soa querer ser perceptível por meio da troca de olhares e atitudes entre os personagens.
DESPERDÍCIO DE GRANDE ELENCO
Por mais que Fanning e Dinklage sejam ótimos intérpretes, no entanto, não conseguem transmitir essas sensações. Isso influencia na falta de ligação e empatia com o público. Dessa forma, os dramas e provocações que o roteiro de Mike Makowsky (“Má Educação”, da HBO) procura incitar soam vazias e carecem de aprofundamento que poderiam ser resolvidos com mais linhas de diálogos, por exemplo, ou por uma direção de elenco mais efetiva.
Gosto de Reed Morano e das sensações imagéticas que ela transmite como diretora de fotografia. Mas, como realizadora, tenho a sensação de que seus filmes poderiam dizer mais do que o que está na tela. Curiosamente, Morano costuma assinar a cinematografia de suas produções as quais, contrapondo a direção geral, perpassam muitos sentimentos; prova disso são as escolhas de ângulo e movimentação da primeira temporada de “The Handmaids Tale” que lhe renderam um Emmy.
Em “Agora Estamos Sozinhos”, a cinematografia tenta ocupar esse vazio deixado pela ausência de dialogo estabelecido na relação dos protagonistas. Prova disso é a transição gradual de um ambiente fechado e escuro para cenas com mais luz natural e ambientes mais amplos. Esse ritmo visual ocorre de forma constante até a cena catártica de Dell (Dinklage) e representa a libertação das crenças e experiências anteriores dos personagens.
“Agora Estamos Sozinhos” nos oferece um olhar diferente sobre o mundo pós-apocalíptico com muito potencial que, infelizmente, fica perdido em meio a conceitos vazios e a falta de provocações bem trabalhadas. Uma pena diante de um elenco tão talentoso.
Apesar dos poucos diálogos e da narrativa morosa, a trama não é cansativa.