Poucos lugares despertam uma curiosidade quase que constante como a região amazônica. Não tão comum é essa atenção gerar obras cinematográficas a altura da grandeza das belezas naturais e culturais da Amazônia, e esse é o caso do novo filme de Thierry Ragobert.

Verdade seja dita: pelo menos “Amazônia” está longe de ter um resultado tão bizarro como um “Anaconda” (1997), embora falte a profundidade brutal e poética de um “Burden of dreams” (1982), para só citar um exemplo de olhar estrangeiro que parece ter compreendido como retratar algo sobre a complexidade da região. Visualmente, Ragobert brinda o público com tudo que se espera ver da exuberância da floresta, como que um amálgama do imaginário coletivo de estrangeiros (assim como de muitos brasileiros) quando pensam sobre a Amazônia.

Já o enredo é infantil e caricato. Nele acompanhamos as “altas aventuras” de Castanha, um macaquinho criado no cativeiro em ambiente urbano, mas que cai na floresta quando o avião em que era transportado sofre um acidente. Levando em consideração que a trama ficcional é “estrelada” somente por animais, seria um pouco demais exigir um plot complexo, mas o resultado final é um entretenimento inofensivo para crianças.

De fato, como tentativa de dialogar com um público misto de adultos e crianças, são estas últimas que saem mais beneficiadas enquanto espectadoras de “Amazônia”. O macaquinho protagonista, além de bem treinado, tem na montagem um importante aliado, já que esta trabalha ao máximo na proximidade das feições do primata com a dos humanos, resultando um personagem fofo para os pequenos curtirem. Embora um pouco diferente das animações computadorizadas que tanto encantam as crianças hoje em dia, elementos batidos como momentos engraçadinhos ou a dublagem feita por atores globais (Lúcio Mauro Filho e Isabelle Drummond emprestam suas vozes para os macaquinhos Castanha e Gaia) evitam o estranhamento desse público.

Aos adultos, resta observar alguns pontos interessantes e outros nem tanto. O filme ganha em momentos como quando Castanha não se acomoda na condição de animal “urbano”, por assim dizer, e não se contenta em ser uma mera mascote de humanos. Por outro lado, as forçações de barra quando “Amazônia” tenta se aproximar demais de um “Rio” (2011) são deveras irritantes. O que fica é a impressão de que esse foi um filme na medida para que turistas europeus de terceira idade tenham vontade de entrar num cruzeiro e zarpar para cá para ver todo o nosso “exotismo”, e não um filme capaz de gerar reflexões sobre a importância da região para o mundo. Agências de viagem agradecem.

Levando em consideração as dificuldades de produção do filme, o destino desse “Amazônia” poderia ter sido bem pior. Adestramento adequado de animais, alto custo, dificuldades de filmagem com uma equipe franco-brasileira num ambiente longe de ser acolhedor como a floresta tropical, mudanças que o projeto passou no decorrer de seu desenvolvimento para tentar encontrar seu nicho no mercado e mesmo o limitado talento de Ragobert como diretor de documentários televisivos, tudo isso se reflete de certa maneira em “Amazônia”, embora não o condene de todo. Ainda que longe de ser uma obra-prima, e ainda que provavelmente o espectador nem lembre que viu o filme depois de uma semana, pelo menos o público infantil tem a possibilidade de assistir a algo um pouco menos danoso para sua educação. Já aos adultos, a dica mais adequada é procurar outros títulos.

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NOTA: 5,0