O título de “Às Vezes Quero Sumir” em inglês é mais cáustico: “Às Vezes Penso em Morrer” em tradução aproximada. Mas um título tão direto raramente vem acompanhado de um soco no estômago genuíno – é mais o caso de trazer à tona um distanciamento irônico que torne a dor mais palatável. 

Veja o pôster, por exemplo: o rosto de Daisy Ridley, pálida, com inserções gráficas coloridas e o título em fonte cursiva. O próprio filme já deixa clara a abordagem logo de cara: paleta dessaturada (uma cara meio vintage-hipster), composições bem calculadas e simétricas, violinos e harpas na trilha sonora. Isso por um lado. Por outro, temos manchas de mofo, cutículas roídas, café frio e tudo o mais que compõe a rotina miserável de Fran (Ridley). A maior parte de sua vida acordada é desperdiçada no escritório, onde a vitalidade é gasta em planilhas e formulários não especificados. Para piorar, a garota é tão atrofiada socialmente que faria “Carrie, A Estranha” parecer a real rainha do baile em comparação.

Isso muda com a chegada de um novo funcionário, Robert, que é, na verdade, um cara bem bacana, assim. Os dois compartilham um senso de humor regado a autodepreciação e doses de constrangimento – fruto, sem dúvidas, de uma autoconsciência que, no caso de Fran, se torna paralisante. Ele gosta de cinema. Ela não gosta de nada. Ela está gravemente deprimida. Ele está… meio que vivendo a vida.

 RISADA DO BANAL

E, no entanto, a abordagem engraçadinha, distanciada, nunca nos permite que “Às Vezes Quero Sumir” realmente adquira algum poder cumulativo, apesar dos tempos mortos e das cutículas roídas. O resultado está mais para uma “estética da depressão”: o deprê-chic.

Tudo isso pode fazer com que “Às Vezes Quero Sumir”  pareça algo completamente insuportável. Não é o caso. Isso se deve à química dos dois protagonistas, interpretados por Ridley e Dave Merheje. A apatia de Fran é contraposta pelo fato de que Robert é, novamente, um cara bem legal – o que, sem dúvidas, é um alívio pro espectador, bem como para Fran.

O segundo motivo, e talvez o principal trunfo do longa, é seu ouvido para a inocuidade despropositada dos diálogos cotidianos. “Às Vezes Quero Sumir” está recheado com comentários sobre capas-de-chuva, navios que bloqueiam a vista do horizonte e todo o tipo de banalidade que compõem boa parte das interações humanas nesta Terra. Verdade que o filme nunca consegue elaborar a catarse que tanto almeja a partir disso, mas às vezes uma risada de reconhecimento é mais que o suficiente numa sexta-feira cinzenta.