Besouro Azul foi alardeado como a primeira superprodução hollywoodiana de super-heróis estrelada por personagens latinos – e não se engane, leitor, ninguém propagou mais essa ideia do que o departamento de marketing da Warner Bros. Pois bem, nisso “Besouro Azul” realmente merece alguns elogios: o filme é a história de um herói latino, boa parte dele é ambientado em um bairro latino, há muitos diálogos em espanhol e a produção traz visibilidade a uma cultura que faz parte da tapeçaria dos Estados Unidos, e isso não pode ser negado.

Mas o filme não vai virar um marco, não como um Mulher-Maravilha” (2017), também da Warner e com um personagem da editora de quadrinhos DC Comics. E também não como um “Pantera Negra” (2018), do concorrente Marvel Studios. Em parte porque Besouro Azul surge em um momento de encruzilhada para os super-heróis no cinema, uma época em que críticos e até mesmo fãs desse tipo de produção já começam a usar com certa frequência o termo “fadiga” ao se referir a esses filmes.

Em parte, também, porque o filme sofre por ser muito genérico. Tudo nele já vimos melhor em outros filmes do tipo, e parece que seus realizadores só se contentaram em aplicar o tempero latino a um roteiro bastante pedestre e preguiçoso.

APANHADO DE VÁRIOS FILMES DO GÊNERO

Bem, verdade seja dita, “Besouro Azul” até começa razoavelmente bem. Conhecemos a vilã, Victoria (uma Susan Sarandon pagando os boletos), que está em busca de uma tecnologia misteriosa, para usá-la como arma. E conhecemos o herói, Jaime (Xolo Maridueña, da série “Cobra Kai”): ele é um cara legal, mas sua família está em dificuldades financeiras. Um dia, ele topa com Jenny (vivida pela brasileira Bruna Marquezine), que lhe dá o misterioso Escaravelho para tomar conta. A coisa se transforma em uma armadura e Jaime vira o herói Besouro Azul, que passa a lutar para salvar a si mesmo e sua família.

O elenco do filme é inegavelmente simpático, com uma carismática Marquezine e o divertido George Lopez como tio Rudy, sendo os destaques. Mas à medida que a história progride, os atores não conseguem segurar a barra de um texto tão básico: todo mundo aprende a usar armas fantásticas e a pilotar nave rapidinho, um vilão muda de lado porque sim, e há momentos tão piegas que acabam esticando a nossa simpatia pelo elenco para além do limite.

E o fato do filme ser tão genérico também atrapalha bastante. Jaime é um atrapalhado adorável igual a Peter Parker/Homem-Aranha; quando vira herói (de armadura) se torna praticamente Homem de Ferro, com direito a planos de dentro do capacete nos quais vemos seu rosto, e uma voz que fala com ele e o ajuda; a cena conversando com o pai no clímax é quase igual a Pantera Negra Até o som do carro do tio Rudy, tocando “La Cucaracha”, é algo que saiu do Homem-Formiga (2015). E o tema de valorização da família, martelado na cabeça do espectador até a exaustão, é o mesmo que já vimos dez vezes antes em qualquer Velozes e Furiosos.

LATINIDADE COMO PRODUTO E NÃO REAL REPRESENTATIVIDADE

O máximo de diferencial que o diretor Angel Manuel Soto e sua equipe pensaram em colocar são umas piadinhas envolvendo Maria do Bairro e Chapolin Colorado. E para um filme que se vangloria de representatividade, o retrato dos latinos é bem raso: basicamente são todos gente boa, unidos, falam alto e são melodramáticos, não muito diferente do que vemos em várias novelas que os ianques assistem por lá. “Besouro Azul” nunca se eleva acima dos clichês e, na verdade, nem sequer tenta.

No fim das contas, algumas piadas até funcionam e os atores conseguem angariar alguns pontos à experiência. Mas Besouro Azul é tão retrógrado e pouco ambicioso que acaba parecendo um retorno aos filmes de super-heróis dos anos 1990, quando o subgênero ainda era uma incógnita, longe de ser a potência que é hoje.

Perdido entre o passado e o futuro – afinal, a Warner/DC vai reiniciar seu universo em breve e muito provavelmente não veremos uma continuação para este aqui – o longa é um produto da indústria cultural, mais do que um filme. Afinal, se apropria das noções de representatividade e diversidade para tentar lucrar, fazer um produto em torno delas.

Bem, mas mesmo como produto poderia ser melhor.