Um casal que se aventura no mundo dos swingers e da não-monogamia está no centro de “Borders of Love”, produção tcheca que teve première mundial no Festival Internacional de Cinema de Karlovy Vary deste ano. O longa de estreia do diretor Tomasz Wiński carrega no erotismo, mas não deixa de lado a sensibilidade ao questionar os limites da intimidade em uma relação.

Nele, Petr (Matyáš Řezníčeke) e Hana (Hana Vágnerová), felizes em uma relação monogâmica, resolvem partilhar entre si seus desejos envolvendo outras pessoas. Quase como na base da brincadeira, aos poucos, eles decidem levar esses desejos a cabo. O que começa como um exercício em intimidade acaba virando uma busca hedonista cuja razão parece lhes escapar pelos dedos. Eventualmente, a situação coloca o casal em rota de colisão interna.

O roteiro, escrito por Vagnerová e Wiński juntamente com Kasha Jandáčková e Petra Hůlová, quer tocar nas fissuras expostas quando um casal monogâmico se vê diante dessa pergunta: “se podemos dormir com outras pessoas, o que nos mantém unidos?”. No caso de Petr e Hana, é nesse momento que as pequenas hipocrisias e obsessões ganham importância exacerbada e plantam as sementes da discórdia.

 O DESAFIO DA VULNERABILIDADE

Sexo é um ponto focal da produção – ainda que não seu principal – mas seu teor explícito não vem das imagens, mas do texto, que não se exime de mencionar os atos mais íntimos vividos (ou desejados) por seus protagonistas. Quando momentos quentes dão as caras, eles sempre avançam a trama para frente – seja os meticulosamente filmados pelo diretor de fotografia Kryštof Melka ou as filmagens amadoras de celular feitas pelos próprios atores principais.

Apesar do tema sério, Wiński abre espaço para um peculiar senso de humor permear a produção. Ele relembra o espectador como o sexo pode ser uma atividade um tanto quanto desengonçada, principalmente quando um dos envolvidos (ou ambos) não sabe exatamente o que está fazendo (ou se quer fazê-lo). O flerte com o estranho no bar ou o swing com um casal de amigos são exemplos de cenas que transbordam comicidade.

A forma como esses momentos se desenvolvem e levam uns aos outros dão ao filme um tom reminiscente a alguns episódios da série “Black Mirror“, no sentido em que uma proposta inesperada ganha contornos cada vez mais absurdos até se tornar um pesadelo.

Quando um dos dois começa a repensar a não-monogamia, “Borders of Love” se revela um filme não sobre sexo, mas sobre intimidade. Ele questiona a performatividade de certas relações monogâmicas e bota o dedo na ferida nas coisas que a maioria das pessoas teme dizer a seus parceiros com medo de serem rechaçadas. Admitir vulnerabilidade, ele argumenta, pode ser mais difícil de abordar do que o tesão mais devasso. Melhor não assistir no Dia dos Namorados.