“Aquela Estrada” é o mais bem-sucedido curta-metragem do coletivo Artrupe Produções Artísticas. Dirigida por Rafael Ramos, a produção circulou por festivais nacionais importantes como o Mix Brasil, Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo e Goiânia Mostra Curtas, além de ter chegado a eventos fora do país como o Thessaloniki LGBT Film Festival, na Grécia, o Toronto Queer Film Festival, no Canadá. Também repercutiu forte no cenário cultural de Manaus com múltiplos defensores e detratores, sendo um dos filmes locais mais comentados da última década.  

Intitulado “Fim de Festa”, o quarto episódio de “Boto” é uma verdadeira homenagem a “Aquela Estrada”. A partir da comemoração do aniversário de 23 anos de Betina (Dinne Queiroz), temos um remake do curta protagonizado por Adanilo Reis. O clima psicodélico, lisérgico se faz presente como se todos ali estivessem em estado de transe; como se tudo vivido fora para que chegassem até ali e nada mais houvesse. O corpo e a música se confundem em uma mesma sintonia – no filme, a trilha é da Supercolisor, enquanto aqui temos um apanhado de Alaídenegão e Anne Jezini. 

Há inegavelmente momentos que esta viagem vale a pena quando, por exemplo, a festa atinge o auge e todos surgem nus em um plano-sequência. Porém, tudo soa como um dejá-vu de uma viagem que já foi mais interessante ou original. Pior: o quarto capítulo de “Boto” cai na autoindulgência, uma armadilha típica de produções que falam sobre o universo cultural em que os realizadores estão inseridos. Desta forma, a série continua dando a impressão de que a diversão está mais do lado de lá, de quem fez o projeto, enquanto nós, o público, ficamos sem ser convidados. 

MARASMO NA ‘RESSACA’ 

Com um título auto-explicativo – “Ressaca” -, o quinto capítulo de “Boto” mantém o ritmo em marcha lenta com uma trama que insiste em ficar quase estagnada. Valdomiro (Lucas Wickhaus) segue em seu dilema existencial entre masculino e feminino, sendo interessante observar a reação incômoda ao ouvir Alex (Renan Tenca) dizer para ele tirar o figurino ao voltar para casa. E só.  

Falando em Tenca, o ator consegue fazer milagre com um sujeito que tinha tudo para ser uma figura aborrecida pelo roteiro insistir nos mesmos assuntos sem avançar a história do personagem. Quanto ao resto, é de se lamentar o desperdício de Dinne Queiroz, uma atriz que consegue tirar “Boto” do marasmo com sua divertida Betina. Para não dizer que nada se salva, o clipe estrelado por Daniela Blois e Ítalo Almeida é bonitinho. 

O sexto e sétimo capítulo de “Boto” vão ao ar a partir de sexta-feira (5), 23h, dentro do programa Cine Narciso Lobo, na TV Ufam, canal 8 da NET DIGITAL. 

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