Uno (Juliano Pedro Jr) é um rapaz que possui o poder de se comunicar com os carros. Ele desenvolve uma relação especial com o carro onde nasceu e que dá origem ao seu nome, um táxi da frota de seus pais. Anos mais tarde, ele e seu amigo de ferro tentam ajudar os moradores de Caruaru – PE, cidade onde vivem. 

“Carro Rei”, dirigido por  Renata Pinheiro, parte da ficção científica para tecer comentários sobre a situação política e econômica do Brasil, embora sua construção apresente falhas neste caminho. O ar distópico predomina na obra desde o início, mesmo que essa característica enquanto construção de mundo seja moldada aos poucos. 

A fotografia de Fernando Lockett utiliza de filtros que realçam os tons pastéis, remetendo a uma estética de filmes alternativos sci-fi, o que, na intenção de proporcionar um diálogo com a narrativa proposta, desagua em um acervo referencial óbvio e limitante. 

O filme em sua maior parte perece dessa situação – não abraçar totalmente o lado B – e fica perdido entre experimentos estéticos vazios e uma dramaturgia pesada, mecanizada demais. O tom crítico que o roteiro aborda resulta em dúvidas, mas é o que há de mais sincero no filme. O maniqueísmo em relação ao “político vilão”, por exemplo, gera um casamento perfeito com o ar absurdo que “Carro-Rei” propõe. 

É na construção das relações mais humanas que a narrativa falha. A ligação de Uno com o pai, dele com a amiga e com o próprio carro evocam muito mais um sentimento de obrigação na história do que de real interesse pelos personagens. Eles são apenas um comentário dentro daquele universo. A questão é que esse universo por si não é suficiente para fazer um filme envolvente. Talvez a única exceção seja Zé Macaco em boa atuação de Matheus Nachtergaele, o tio excêntrico de Uno.

A obra, dessa maneira, se vê no meio do caminho entre desenvolver uma experiência à parte de seus protagonistas, ao mesmo tempo que reluta em abandoná-los. Ao término, o choque previsto pela particularidades de “Carro Rei” não chega, o desenrolar da história se torna modorrento e completamente previsível, ainda mais se pensarmos em uma premissa baseada em um homem que se comunica com carros.