É mesmo surpreendente uma atriz como Sandra Bullock ainda não ter protagonizado um filme de super-herói. A atriz de 57 anos, conhecida pela filmografia repleta de comédias e até mesmo filmes de ação, afirmou que chegou perto de estrelar um longa produzido por Kevin Feige, mas negou qualquer proposta a pedido do filho. 

Os filmes que definiram a carreira de Bullock evocam tempos em que as produções encontravam como chamariz a presença dos rostos famosos de Hollywood e não necessariamente adaptações, logos de Marvel/DC ou promessas de sequências com infinitas cenas pós-créditos.

Por isso, “Cidade Perdida”, o novo longa de Sandra Bullock com Brad Pitt, Channing Tatum e Daniel Radcliffe, se torna uma surpresa deslocada entre tantas franquias de personagens em collant que brigam para atingir o famigerado 1 bilhão nas bilheterias ao redor do mundo.

Na história, somos apresentados à Loretta Sage (Bullock), uma solitária romancista que está fazendo turnês para divulgação do último livro. As viagens são feitas ao lado do modelo Alan (Tatum) – e, embora a personagem tenha paixão pelo que faz, o contraste da visão dela em comparação aos fãs é nítida. 

AUTORES E FANDOMS

Assim, existe a clara observação relacionada ao mundo moderno onde os fandoms têm o poder de ressignificar as obras que amam e, a partir disso, conceituam uma nova imagem da maneira que preferem. Resta uma inerente amargura por parte dos autores –  e é o caso da protagonista vivida por Sandra Bullock.

Não há dúvidas sobre ser ou não um bom momento para constatar essa rixa entre fã e autor dentro da cultura pop, principalmente em tempos de J.K Rowling ou das comunidades online, fora a curiosa apropriação que parte da internet fez com a pílula vermelha de “Matrix” – mas, claro, nada disso é necessariamente levado a sério ou tem importância dentro de um longa aficionado por aventura, ainda mais estrelado por Sandra Bullock.

Mas até mesmo o ”fã” psicótico ganha a cara de Daniel Radcliffe (mais simbólico, impossível) quando – sem se importar com previsibilidade alguma – é apresentado como antagonista e sequestra Loretta para obrigá-la a decifrar uma espécie de hieróglifo que o levará a um tesouro perdido no meio da selva.

DESCOLADO DE SUA ÉPOCA

Eis que, pela maior parte de sua duração, “Cidade Perdida” se revela perfeitamente como um longa que Sandra Bullock faria em qualquer período de sua carreira, sem a menor preocupação em desvirtuar-se de trejeitos – e carisma – que a atriz já está acostumada a incorporar dentro do padrão de sua filmografia, principalmente quando está ao lado de estrelas com rostos conhecidos e a espontaneidade determina tudo.

Diferente dos rostos principais como Pitt e Bullock, Daniel Radcliffe – que vem de longas independentes – se mostra uma adição certeira para dar cara ao antagonista e atribui um pouco da sua vocação exagerada (concebida em alguns desses projetos de baixo orçamento), enquanto o restante do elenco segue a confiança da atriz para confiar tudo em seus rostos e corpos em movimento.

É o momento de virada feito para se filiar ao típico filme de aventura, e encontra na presença do personagem de Tatum e – Brad Pitt como ”Jack Trainer” – os estereótipos que solidificam as desmistificações que um filme desse subgênero constantemente deve fazer para se mostrar atualizado e, usando ou não dessa desconstrução, o que importa mesmo é ver o elenco realmente a fim de estar num projeto tão deslocado de sua época, sem ter vergonha alguma de se apropriar de exageros. 

Estando em cartaz ao lado de produções como ‘’Batman’’, ‘’Morbius’’ e o vindouro ‘’Doutor Estranho: No Multiverso da Loucura’’, “Cidade Perdida” fica deslocado entre os blockbusters do primeiro semestre do ano e – por bem ou mal – remonta tempos onde atores levavam o público aos cinemas pela sua única presença e não, necessariamente, pela obrigação de pavimentar franquias grandes ou fazer serviços para fãs entre os créditos finais – é um sentimento misto de nostalgia e déjà-vu, mas que opera de forma despreocupada dentro do circuito atual.

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