O que é o amor? O sentimento se constrói no profundo da alma? Pela atração dos corpos? Ou por meio da junção destes dois fatores? Questionamentos esses que refletem na essência da peça teatral “Cyrano de Bergerac”, de Edmond Rostand. O melodrama ganha mais uma adaptação para o cinema, levando apenas “Cyrano” como título.

A história se concentra em Cyrano (Peter Dinklage), um soldado e poeta que está apaixonado por Roxanne (Haley Bennett) mas tem vergonha de admitir por ser inseguro com sua aparência. Um outro homem, Christian (Kelvin Harrison), também se apaixona por Roxane e pede ajuda à Cyrano, que passa a escrever cartas de amor, assinando com o nome de Christian. Conquistada pelas cartas, Roxanne se casa com Christian e Cyrano continua a guardar segredo, mesmo depois de uma tragédia.

Desta vez, quem fica encarregado pela direção é o cineasta Joe Wright – conhecido por dirigir ótimas adaptações como “Orgulho e Preconceito” e outras nem tanto, como “A Mulher na Janela”. E quem assina o roteiro é a esposa do ator protagonista, Erica Schmidt, responsável por adaptar o original para uma peça de teatro, e graças a MGM, trouxe a peça novamente para às telonas.

Um musical épico totalmente esquecível

Na adaptação, Schmidt buscou apresentar outros elementos que diferem do original e das demais adaptações. Por exemplo, em vez do enorme nariz de Cyrano ser o motivo de suas inseguranças, nesta adaptação o nanismo é o fator limitante.

Outra adição significativa no drama foi tornar Cyrano em um musical. Fato é que 2021 foi o ano em que tivemos diversos lançamentos musicais – “Amor, Sublime Amor”, “Tick, Tick…Boom!”, “Querido Evan Hansen”. Agora, se foram produções boas e dignas de aclamação, já não podemos dizer o mesmo. E este é o caso de Cyrano de Joe Wright.

Aliás, a escolha narrativa de transformar a história em musical talvez tenha sido uma das piores já feitas para a adaptação. Ressalto que as composições não são ruins; as músicas poderiam muito bem ser ouvidas e digeridas separadamente, ou ainda em uma peça de teatro musical de forma satisfatória.

Porém, ao inserir em uma produção audiovisual, as músicas mais empobrecem do que somam o enredo (que já não cativa tanto o público). Faz mais parecer que as canções e o roteiro da adaptação foram pensadas de forma distintas e depois anexadas pela montagem de forma “truncada”.

Esforço em vão de Dinklage

Entretanto, nem todo filme é de se jogar fora. Destaco aqui a brilhante atuação e versatilidade que Peter Dinklage possui. Carregar um filme tão problemático pelas costas não é fácil. Porém, o eterno Tyrion Lannister de “Game of Thrones” consegue transitar muito bem ao entregar cenas dramáticas em que Cyrano demonstra insegurança; de comédia ao abusar da ironia; e digamos que nem toda sua performance cantada merece descarte.

O mesmo, porém, não podemos dizer do elenco coadjuvante. A personagem de Roxanne não foi bem explorada pelo roteiro. É estranho pois a mudança de um mero adereço inserido no nariz de um ator, para uma condição real de deficiência física que é o nanismo, não condiz com o fato de deixar que Roxanne seja um simples par romântico.

Não conhecemos quem é Roxanne, seus interesses e aspirações. A personagem acaba se tornando superficial e unidimensional. Algo que Haley Bennett provou não ser em outra no ótimo “Swallow”.

Por fim, para quem conhece a história assistir a adaptação de Joe Wright pode ser uma péssima experiência, pois ainda que se mantenha um pouco da essência do original, os tantos defeitos do longa-metragem dificultam a aproximação do espectador.

Mas, para quem não conhece, é um bom ponto de partida para refletir sobre o amor, a paixão, inseguranças e aceitação das diferenças. Uma temática levantada no século XIX, mas que ainda permanece bastante atual.

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