Houve um tempo em que comédias românticas eram tão comuns nas salas de cinema quanto os filmes de super-heróis são hoje. Amor x amizade (‘Harry e Sally’), romance estilo ‘Cinderela’ (‘Uma Linda Mulher’), personagens ‘deslocadas’ que encontram o amor (‘Bridget Jones’)… Enfim. Por mais que esse nicho tivesse os seus clichês e os inúmeros genéricos, volta e meia ele produzia algum filme bem bom – alguns até brilhantes, como o já citado “Harry e Sally”.

Pensando nisso, é bem triste ver que o subgênero das comédias românticas não apenas perdeu o fôlego e o charme. Ele ficou preso em um lugar-comum absurdo. Prova disso é “Deixa Rolar”, filme que ganhou as telas brasileiras neste fim de semana como uma forma óbvia de tentar capitalizar no Dia dos Namorados.

Lançado nos Estados Unidos em 2014, a produção é encabeçada por Chris “Capitão América” Evans, que dá vida ao arquétipo do rapaz sensível-traumatizado-em-busca-de-um-grande-amor. Como todo personagem que segue essa linha, o vivido por Chris adora analisar (leia-se: objetificar) as relações que têm com mulheres. No caso dele, isso é uma “obrigação”, já que é um roteirista que precisa escrever, vejam só, uma comédia romântica.

Um belo dia, nosso “herói” (mil aspas) cruza o caminho com a personagem de Michelle Monaghan e fica num lenga-lenga até descobrir que ela é o amor da sua vida e enfim, todo mundo já viu esse filme quantas vezes mesmo?

Criado para ser um veículo de Evans – e, assim, mostrar que o ator tem vida fora da Marvel -, “Deixa Rolar” falha logo na criação e desenvolvimento dos personagens. O roteiro até quer nos vender um homem lindo por dentro e por fora, que usa o humor como válvula de escape, mas o resultado é uma série de momentos machistas. O “drama” dele é tão emocionante quanto o de uma pessoa que não sabe que roupa usar para o trabalho amanhã.

O machismo nesse filme só perde para o constrangimento. O filme é cheio de momentos que me deram vontade de me esconder debaixo da cadeira, de tanta vergonha alheia – as sequências ‘fantasiosas’, como a de Evans e Monaghan vestidos de chineses (além de machista, o filme ainda é racista) são ridículas. Aliás, os dois têm pouquíssima química.

Antes o roteiro investisse mais nos personagens de Topher Grace (o amigo gay apaixonado por um hétero que adora ‘Exterminador do Futuro’ – uhul!, só que não) e, principalmente, da carismática e subestimada Aubrey Plaza (essa sim, merecia uma comédia romântica para ‘dar o nome’, à la Emma Stone).

Também é incômoda a forma como tratam o personagem de Ioan Gruffudd – o ‘malvado’ namorado da protagonista, que, por estar com ela há mais tempo é o empecilho para esse ~grande amor~.  Outra chatice é a narração, que tenta imprimir um tom engraçadinho, mas não ajuda a criar empatia com o personagem do “Capitão América”.

Seguindo a escola “500 Dias Com Ela” de contar a história sob o olhar masculino, “Deixa Rolar” é um filme que trata o dilema da amizade entre homens e mulheres com a profundidade de um copo de água. Para um filme que tenta criar a comédia romântica perfeita, “Deixa Rolar” subestima e emburrece demais esse tipo de produção.  E vamos continuar esperando por um exemplar tão bacana quanto os que o gênero produziu nos anos 90.