Exibido nesta quarta-feira (9) na I Mostra de Cinema Amazonense, “Em Si”, de Daniel Tavares, compensa a falta de um roteiro de maior impacto com o uso incisivo de poucos, mas satisfatórios recursos.

Ao longo dos oito minutos da obra, acompanha-se a rotina metódica, asséptica e invariável do protagonista, um burocrata rígido que limita-se a comer sempre a mesma comida (com um ruidoso filme pornô no lugar do noticiário) e, no trabalho, a rejeitar os documentos que recebe. Um clima de alienação e détachement, patrimônio comum do cinema desde Bergman e Antonioni, permeia os planos.

Perto do final, porém, arma-se a tomada de consciência – os signos aqui são óbvios, como a venda e a cena do quase sufocamento, mas o rigor das tomadas e o olhar expressivo do protagonista fazem o resultado agradar mais que o esperado. Pena que a entrada explosiva de uma trilha heavy metal, nos créditos, quebre o tom reflexivo e ensimesmado do restante do trabalho.

Longe de ser memorável – e insisto na grave carência de bons roteiros na produção amazonense –, “Em Si” mostra, porém, um cuidado visual que falta à maioria dos realizadores locais, o que certamente só tem a ganhar se encontrar uma história à altura. Por enquanto, vamos torcendo para que Daniel Tavares afie suas ferramentas num próximo trabalho.