Em “Expresso do Amanhã”, o mundo do lado de fora do Snowpiercer pode estar congelado, mas o clima a bordo do trem volta a esquentar neste sexto episódio da temporada, “De onde menos se espera…”. Mas é um calor só superficial… É um episódio curioso da série, no qual as tramas que estávamos acompanhando até então dão uma parada momentânea graças a uma emergência a bordo. É um desenvolvimento proposital, e embora não se possa chamá-lo de um mero filler – aquele tipo de episódio que só enrola e não vai a lugar nenhum dentro do arco de uma temporada – também não se pode dizer que o que acontece nesse segmento é assim tão interessante.
O episódio começa como outro dia normal a bordo com mais uma grande crise a ponto de eclodir no Snowpiercer: uma greve está marcada, como protesto ao resultado do julgamento do episódio anterior, o que pode vir a se tornar um grande problema para Melanie. Mas, eis que acontece um curto-circuito em um dos sistemas de freio e a situação se complica rapidamente. No decorrer de tudo, o trem passa a encarar uma emergência real, com o risco de um descarrilamento catastrófico.
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A respeito dessa emergência, os roteiristas a usam para explorar a alegoria intrínseca à premissa da “Expresso do Amanhã”. Porém, em termos de roteiro, essa emergência é a “falsa encrenca” típica – é óbvio que o trem não será destruído, porque se isso ocorrer, a série acaba. Por mais que a direção do episódio – a cargo de Helen Shaver – tente criar suspense e mostre Melanie assumindo ela mesma os reparos para salvar o trem e evitar o desastre, sabemos que ela vai conseguir.
ENTRE ACERTOS E ERROS
O que essa emergência tenta fazer é humanizar alguns dos personagens da série. De repente, Osweiller (Sam Otto) e Till (Mickey Sumner) encaram juntos a possibilidade da morte e chegam a um entendimento. Pena que isso em si não seja muito dramático, pois vimos poucas interações desses personagens até agora. A opção de iniciar o episódio com uma narração em off do Osweiller também é meio estranha, pois o personagem nem ocupa tanto tempo de tela neste segmento, nem passa por uma mudança importante.
Também vemos Melanie ser a verdadeira heroína do episódio. Mas a emergência em si não nos revela nada de novo nem contribui para desenvolver a personagem de forma significativa. Também tenho problemas com o encontro dela com o Layton: parece inverossímil que Layton, desorientado, simplesmente tope com a administradora do trem no meio de uma emergência catastrófica e a ameace enquanto ela tenta salvar a todos. A segurança do trem estava onde? Não tinha ninguém a acompanhando naquele momento?
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Ainda assim, Melanie faz uma revelação a ele que, com certeza, será explorada em episódios vindouros – será verdade o que ela diz a ele a respeito das gavetas? Quem quiser especular, pode ficar à vontade aí nos comentários…
“De onde menos se espera…” não chega a ser um episódio ruim: o elenco está comprometido com seus personagens e há ótimos efeitos visuais e um clima de aventura. Mas realmente é um episódio que não aproveita todo o seu potencial para drama e desenvolvimento de personagens. De fato, o que ele acaba fazendo de melhor é usar a metáfora da série de modo efetivo. A melhor cena dele é ao seu final, quando vemos Layton e Josie fazendo amor, felizes simplesmente pelo fato de terminarem vivos mais um dia a bordo do Snowpiercer. Por um momento, todos os personagens ficam felizes por enfrentarem a morte e sobreviverem. Os problemas do início e os que vêm se acumulando desde o começo da temporada são esquecidos, ao menos por enquanto. Melanie começa o episódio como vilã e acaba como heroína. Ela se safa, em mais de um nível, dentro da história.
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No fim das contas, essa é uma noção muito humana: uma alegria momentânea, um triunfo específico, é o suficiente para fazer as pessoas esquecerem-se dos grandes problemas. Por um episódio, todos a bordo – e o espectador também – percebem que estão todos juntos nessa, dentro da realidade deles. Todos ficam no mesmo nível. É uma alegoria para o nosso mundo: do lado de cá da tela, nós também estamos juntos num trem que pode descarrilar a qualquer momento. Por mais que nossas divisões nos separem, assim como separam os passageiros do Snowpiercer.