Em “Imperdoável”, Sandra Bullock interpreta Ruth Slater, uma ex-presidiária condenada por um crime violento que busca reconstruir sua vida após 20 anos na cadeia. Acompanhamos sua história a partir do primeiro dia livre, enquanto é aconselhada por Vincent Cross (Rob Morgan) policial responsável por acompanhá-la durante sua liberdade condicional

É justamente a liberdade o primeiro tema que o filme busca trabalhar. Ela aparece de forma mais clara na soltura de Ruth e nas exigências para que continue fora da prisão como, por exemplo, não se relacionar com outros ex-penitenciários, conseguir um emprego e não procurar a família afetada por seu crime. “Imperdoável” tenta estabelecer a procura por liberdade dentro desse âmbito entre deixar coisas passadas para trás ou buscar resolvê-las.

SEM DELICADEZA

Entretanto, o tom abordado pela obra é cansativo. Um eterno dia nublado em Seattle, rostos de sofrimento que poderiam sensibilizar se fossem acompanhados pelo silêncio, porém aqui estão sempre juntos de diálogos repetitivos sobre tomar uma decisão ou de uma trilha sonora que suplica para criar emoção a qualquer momento.

Trata-se de um filme programado para seus momentos de excesso: o plot twist, o diálogo que une personagens conflitantes, a explosão da protagonista. Tudo arquitetado sem a menor delicadeza que a situação pede. Devido a sua condenação, Ruth perdeu a guarda e a possibilidade de contato com a irmã caçula, de quem ela cuidava desde bebê. Ela é uma mulher que carrega esse peso, e encara todo um mundo de situações que não favorecem em nada sua ressocialização.

PARTICIPAÇÃO DE VIOLA DAVIS SINTETIZA O FILME

O roteiro assinado por Peter Craig, Courtenay Miles, Hillary Seitz até busca passagens que possam trabalhar os desafios de Ruth em sua volta a sociedade, mas sempre a colocando como uma espécie de heroína infalível, alguém que, pelo tempo que teve para repensar sua vida, se tornou impenetrável.

A direção de Nora Fingscheidt ressalta ainda mais essa sensação de personagem heróica, apostando em uma construção que ressalta uma imposição física da personagem, com seu rosto cansado, olhar carrancudo, roupas esfarrapadas, em meio ao caos que ela enfrenta. Não há sofrimento em “Imperdoável”, há apenas uma estética requentada de sofrimento.

Nem mesmo a tentativa frustrada de Sandra Bullock produz algum resultado em dar mais profundidade a história de Ruth. Além disso, o péssimo uso de Viola Davis interpretando Liz Ingram, esposa do advogado que ajuda a protagonista durante a história, destaca bem um filme que de tão genérico não sabe para onde ir.

Davis mal tem 15 minutos de tela, e sua principal cena é um diálogo com Bullock onde temos uma grande revelação, choro e um subtexto bem pobre sobre proteção materna, resultando em um clichê mal planejado e mal executado, reflexo do filme como um todo.

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