Apesar de rodado antes da deflagração da greve do Sindicato dos Atores em Hollywood, “In Camera” ganha um contexto mais profundo por conta dela. O filme britânico, que teve estreia mundial no Festival Internacional de Cinema de Karlovy Vary deste ano, ilustra o lado menos glamouroso da profissão. Mesmo tocando em temas profundos, a narrativa fragmentada sacrifica o grande potencial de conexão entre seus personagens e o público.  

A ação gira em torno de Aden (Nabhaan Rizwan), um jovem ator que vive de pequenos papeis em comerciais e séries de TV enquanto não consegue virar uma estrela. No entanto, esta não é a história do que acontece quando ele chega à fama, mas sim do que acontece antes: dos testes humilhantes, dos emails de rejeição, dos bicos que nada têm a ver com atuação, mas que pagam as contas.  

NARRATIVA COM RITMO DE REDES SOCIAIS 

Esta é a parte da crítica em que algum acontecimento da trama é mencionado para contextualizar o arco narrativo da produção. Porém, “In Camera”, que marca a estreia do cineasta Naqqash Khalid na direção de longas-metragens, deliberadamente evita uma história.  

Ao invés disso, o roteiro, também assinado por Khalid, investe em vinhetas e diferentes variações de cenas similares. O resultado é um estudo de personagem fragmentado, perfeito para a geração criada com os vídeos curtos de redes sociais.  

Estilisticamente, essa é uma decisão corajosa que conversa com a maneira que jovens como Aden veem o mundo. A produção argumenta que, conforme decepções profissionais levam jovens ao desespero e à alienação, a realidade se torna tão indesejável que pouco importa que elementos dela sejam trocados ou permutados. 

Para ilustrar isso, momentos em “In Camera” parecem se repetir, ainda que com diferentes pessoas e em diferentes locais. Porém, como a narrativa não constrói em cima de cenas para dar à história um senso de desenvolvimento, o público tem muito pouco com o que se importar conforme essas variações vão acontecendo.  

MOMENTOS DE DESCONFORTO BRILHANTES 

Aden é uma pessoa embrutecida pela luta por trabalho e pelo racismo casual que sofre nela – mas para além desses fatos tão claros que não podem ser chamados de subtexto, pouco sobre suas emoções internas é revelado. Rizwan, um comediante talentoso em ascensão no Reino Unido, mostra desenvoltura neste papel dramático, mas sem um roteiro que dá direção ao seu personagem, ele tem que se desdobrar para tentar engajar o espectador.  

Em pequenas doses, a produção é poderosa como um soco no estômago. O desastroso teste de cena por volta dos 30 minutos de projeção ou a terrível interação entre Aden e uma mulher que o contrata para interpretar seu filho morto funcionam justamente por não dependerem de maiores contextos para fazerem suas críticas.  

O humor de desconforto demonstrado nestes momentos atualiza a obra de grandes satiristas britânicos, como Chris Morris, para uma nova geração. Eles também sugerem que “In Camera” poderia ser uma série bem-sucedida de esquetes feitos para a internet. No entanto, como um filme de 96 minutos, a produção se mostra exaustiva ao incluir tudo, menos uma caracterização mais profunda de seu protagonista.