Jonathan Majors, estrela em ascensão, com seu rosto quadrado e grande, tem aquele quê especial que o faz parecer “bigger than life” – se me perdoam a anglofonia. Faz sentido, então, o posto de herói Hollywoodiano que ele assume neste “Irmãos de Honra”. É o papel do mocinho tipicamente americano: másculo, heroico, charmoso – a diferença é que ele é negro. 

Para além disso, seu personagem é baseado em um sujeito real: Jesse Brown, um pioneiro piloto preto da Marinha estadunidense. “Irmãos de Honra” é, portanto, o segundo filme de tema aeronáutico de 2022, após “Top Gun: Maverick“. Essa é a coincidência número um. 

A coincidência número dois é que tanto o veículo de Tom Cruise quanto o filme estrelado por Majors trazem Glen Powell em papéis de destaque. Mas, se no primeiro, Powell é o piloto babaca, rival do mocinho de Miles Teller, aqui ele é o segundo protagonista do filme – talvez até o primeiro, veremos. 

Mocinho ou não, Powell tem o mesmo sorriso de filho da puta que usou em “Top Gun”. Aqui, ele é o piloto recém-transferido à base naval de Rhode Island, onde, após algumas tensões, irá se tornar amigo e confidente do personagem de Majors. Os dois logo estarão voando juntos durante a Guerra da Coreia, a “guerra esquecida”, como nos diz o letreiro inicial (bastante derivativo de “Top Gun”, aliás – coincidência número três). 

NEGRITUDE ESMAGADA

Mas se “Top Gun: Maverick” tem no espetáculo do corpo e do seu esforço sobre-humano – os corpos dos atores sendo esmagados no cockpit pela força G – sua razão de ser e de deslumbrar, “Irmãos de Honra” se contenta em fazer do racismo – sempre acompanhado de jargões publicitários como superação, tolerância e afins – uma muleta dramática. 

No fundo, trata-se de mais uma história em que um mocinho branco descobre como o racismo é ruim – novidade apenas para os brancos que desejam se ver na tela como salvadores, mas têm vergonha de dizer isso em voz alta. 

“Irmãos de Honra” até tenta se esquivar dessa acusação, com alguns personagens dizendo que o Jesse Brown de Majors não precisa da figura do salvador branco de Powell. Mas entre o fazer e o dizer há um grande abismo. 

Ficam, então, a cara grande e expressiva de Majors, e a constatação, uma vez mais, de que Hollywood só se sente verdadeiramente confortável com narrativas pretas se elas são sobre a negritude sendo esmagada de alguma forma.