Realmente parece que cada episódio de Lovecraft Country vai se configurar numa viagem a um lugar maluco e imprevisível. Depois de todas as doidices do episódio anterior, este terceiro, intitulado “Espírito Santo” (Holy Ghost), mantém a pegada maluca do seriado, mas agora de uma maneira melhor construída, o que resulta num segmento divertido e impactante.
Ambientado algumas semanas depois dos eventos do segundo episódio, “Espírito Santo” começa com Tic dando uma força à Hippolyta (Aunjanue Ellis), a esposa do tio George, e morando com seu pai, Montrose. Hippolyta não parece convencida da história completa que eles contaram para explicar a morte de George. Já a Letitia… de repente conseguiu dinheiro para comprar uma casa, a qual ela resolve transformar em pensão para inquilinos negros. Trata-se de uma iniciativa pioneira no bairro, mas, como um texto na abertura indica, ser pioneiro quase sempre é uma droga. Por que… bem, esta casa é assombrada, claro! E rodeada por vizinhos brancos que claramente não querem uma pensão para negros ali, ou seja, duplamente aterrorizante.
CRÍTICA: “Lovecraft Country” 1×01
O aspecto mais curioso deste episódio é o fato de ele ter uma trama principal aparentemente autocontida. Será que Lovecraft Country vai mostrar os protagonistas encarando um horror sobrenatural lovecraftiano diferente a cada semana, estilo Arquivo X? Pessoalmente, eu iria achar muito legal…
IDEIAS NOVAS EM PROFUSÃO
O fato é que a encrenca da casa é apresentada, os personagens lidam com ela e ela parece ser resolvida. Ao longo do episódio, o clima de terror é construído pelo diretor Daniel Sackheim com competência e visuais impactantes: os fantasmas que aparecem durante o episódio são genuinamente perturbadores, e não faltam o porão assombrado, fotos estanhas, um elevador com vontade própria e um doutor Frankenstein racista que fazia experiências em cobaias negras. São os velhos clichês dos contos de casa assombrada trabalhados dentro de um contexto racial.
Esses elementos se concatenam dentro do roteiro de Misha Green de maneira mais natural do que no episódio anterior, que parecia a ponto de explodir com tanta coisa comprimida dentro de uma hora de TV. E é bom que, em meio às confusões da casa, o roteiro ainda encontre espaço para aprofundar os personagens e suas relações: o relacionamento entre Tic e Letitia dá um passo à frente, e a cena entre Montrose e Hippolyta parece prometer uma interessante interação entre os dois. E ainda vemos Letitia arrebentando novamente, o que vem se tornando algo muito legal de se ver durante a série. Mais insuportável que fantasmas, só as buzinas de carros que não param de tocar em frente à pensão, estacionados lá por sujeitos brancos. Vê-la resolver esse problema é uma catarse importante dentro do episódio.
CRÍTICA: “Lovecraft Country” 1×02
E realmente, “Espírito Santo” é bem satisfatório e uma experiência interessante. Claro, a narrativa contínua da série é levada adiante neste episódio. Os momentos finais dele relacionam a casa assombrada aos Filhos de Adão e toda aquela mitologia maluca do episódio anterior, e a Christina Braitwhite retorna, prometendo que esses vilões não vão embora da série tão cedo. Mas, na era dos “filmes de 13 horas” e das narrativas que se estendem por vários episódios, é muito interessante que Lovecraft Country tenha escolhido contar uma pequena história de terror autocontida e com nuances dentro do grande arco da sua temporada.
Um episódio como esse será característico da série ou será um caso isolado? O tempo dirá, mas por enquanto duas coisas estão claras sobre Lovecraft Country: a série parece não ter medo de experimentar, e nem parece sofrer de falta de ideias.