Depois do empolgante primeiro episódio da temporada de Lovecraft Country, o segundo tinha a difícil tarefa de sucedê-lo e manter a atenção do espectador. Isso é compreensível. Mas o que não se esperaria era que o segundo episódio fosse tão… cheio de coisas: são muitos acontecimentos, muitas descobertas, muitos desenvolvimentos e tudo acontece muito rápido. Normalmente o espectador escolado de séries de TV poderia até ver isso como algo positivo. Tipo, um episódio completamente sem enrolação, que beleza! Mas… não é o caso aqui.
A sensação de algo errado e fora do tom já começa na primeira cena com Letitia e o tio George dançando enquanto percorrem seus novos quartos na mansão em Ardham. Hoje em dia, já virou tendência mostrar gente dançando em filmes e séries para provocar estranheza no espectador – alguém precisa fazer uma lista de cenas como essa, pois já está virando um clichê. Falando em música, aliás, o episódio é eclético na sua trilha sonora, incluindo canções de Nina Simone e Marilyn Manson, além do poema “Whitey’s On The Moon” (O branco está na lua, em tradução literal), de Gil Scott-Heron, que dá nome ao episódio.
Depois de todas as dancinhas, calha de Atticus, Letitia e George estarem na casa “assombrada”, um lugar estranho cheio de brancos esquisitos que compõem uma sociedade secreta – muitos ecos de Corra! (2017) neste episódio. O líder é Samuel Braithwhite, vivido pelo ator/diretor Tony Goldwyn, de Ghost (1990). Samuel tem uma filha, Christina, interpretada por Abbey Lee, de Mad Max: Estrada da Fúria (2015). E de maneira bem rápida, somos informados de que Atticus é descendente do fundador da cidade, que os velhos homens brancos se divertem fazendo nossos heróis terem alucinações, que eles comem pedaços de fígados (!) e que querem usar Atticus numa experiência para… abrir os portões do Jardim do Éden (?!).
MAIS CALMA NESSA HORA
Tudo bem se a história é essa, mas o roteiro de Misha Green não dá espaço para nenhuma dessas situações respirarem. O episódio é uma correria só, com muito diálogo expositivo e elementos jogados a cada cena. Fica a impressão de que essa situação poderia ser mais bem explorada e/ou desenvolvida ao longo de uns dois episódios, mas foi condensada num só. A direção do veterano da TV Daniel Sackheim nos mantém assistindo, empilhando uma cena maluca atrás da outra: Letitia e Atticus quase transam (numa alucinação); a luta contra a mulher coreana; Atticus mandando os homens brancos saírem do salão; a fuga; o confronto final. Mas a sensação é de um episódio acelerado demais, que parece queimar muita história de uma maneira meio difícil de compreender.
Claro que é um episódio com várias qualidades. O elenco continua carismático, agora com a sempre bem-vinda adição de Michael K. Williams como o pai de Atticus, Montrose. O ator é praticamente uma lenda da HBO, tendo vivido o inesquecível Omar de The Wire: A Escuta, e seu personagem tem tudo para se tornar mais um tipo marcante. E várias cenas individuais do episódio funcionam muito bem. O problema é que o todo parece bagunçado, apressado e, ao final, confuso.
Na crítica do primeiro episódio, escrevi ao final que não fazia ideia de para onde a série estava indo, mas já estava empolgado em acompanhar. Este segundo episódio freia essa empolgação, mas aumenta a sensação de total ignorância a respeito dos rumos que a série possa tomar. Aprecio surpresas tanto quanto qualquer telespectador, mas… dá para construir elas direito, e com um pouquinho de calma?