Depois do remake de O Rei Leão’, a Disney realmente nos convenceu de que não importa o quão desnecessário o filme seja, ele será produzido para conquistar o topo das bilheterias. Este é o exato caso de ‘Malévola – Dona do Mal’, o qual desperdiça toda proposta de mostrar uma história clássica a partir de sua vilã com uma trama previsível e um roteiro tão cheio de furos que beira o absurdo.

Nesta continuação, Aurora (Elle Fanning) e Phillip (Harris Dickinson) decidem se casar apesar dos protestos de Malévola (Angelina Jolie). Entretanto, a rainha Ingrith (Michelle Pfeiffer) não apenas é contra o casamento como também reprime a proposta de selar paz entre o reino dos Moors e Ulsted, declarando guerra contra os seres encantados dos Moors.

Apesar do elenco ser carregado com um trio feminino forte, apenas Michelle Pfeiffer consegue segurar a trama e criar algum vínculo com o espectador, que nesse caso é de aversão por ser a grande vilã. Por outro lado, o protagonismo é dividido entre Fanning e Jolie, sendo que nenhuma das duas consegue criar empatia ou identificação com o público, situação criada principalmente pela má divisão de tramas no roteiro alternado entre as duas personagens.

VISUAL INCRÍVEL NÃO BASTA

Quanto às dificuldades do roteiro, acredito que a principal adversidade seja a criação de uma história interessante. Furos e clichês se tornam toleráveis na presença de uma trama envolvente, entretanto, o trio de roteiristas – Micah Fitzerman-Blue, Noah Harpster e Linda Woolverton – não consegue tornar isso realidade. Os momentos dramáticos não são bem construídos para se tornarem fortes, os alívios cômicos parecem mal colocados e incômodos e, para compensar tudo isso, o último ato apresenta consecutivos plots twists na tentativa de deixar uma boa impressão para o público ao sair da sala.

No meio de toda esta confusão, a Disney traz seu grande carro-chefe nos filmes live-action: o design de produção. Sim, para o estúdio o visual é tudo, sempre se tornando encantador para adultos e crianças. Neste caso, toda a criação do ecossistema dos Moors é trazida de volta, assim como a construção dos prédios em Ulsted, deixando sempre aparente a diferença entre os dois reinos a partir do visual.

Além do seu visual, a única boa de ‘Dona do Mal’ é que este parece ser o último filme da franquia Malévola nos cinemas. Com tantos erros no currículo somente este ano, quem sabe a estratégia de deixar o melhor para o final funcione para a Disney com a estreia de ‘Frozen 2’.

‘Love Lies Bleeding’: estilo A24 sacrifica boas premissas

Algo cheira mal em “Love Lies Bleeding” e é difícil articular o quê. Não é o cheiro das privadas entupidas que Lou (Kristen Stewart) precisa consertar, nem da atmosfera maciça de suor acre que toma conta da academia que gerencia. É, antes, o cheiro de um estúdio (e...

‘Ghostbusters: Apocalipse de Gelo’: apelo a nostalgia produz aventura burocrática

O primeiro “Os Caça-Fantasmas” é até hoje visto como uma referência na cultura pop. Na minha concepção a reputação de fenômeno cultural que marcou gerações (a qual incluo a minha) se dá mais pelos personagens carismáticos compostos por um dos melhores trio de comédia...

‘Guerra Civil’: um filme sem saber o que dizer  

Todos nós gostamos do Wagner Moura (e seu novo bigode); todos nós gostamos de Kirsten Dunst; e todos nós adoraríamos testemunhar a derrocada dos EUA. Por que então “Guerra Civil” é um saco?  A culpa, claro, é do diretor. Agora, é importante esclarecer que Alex Garland...

‘Matador de Aluguel’: Jake Gyllenhaal salva filme do nocaute técnico

Para uma parte da cinefilia, os remakes são considerados o suprassumo do que existe de pior no mundo cinematográfico. Pessoalmente não sou contra e até compreendo que servem para os estúdios reduzirem os riscos financeiros. Por outro lado, eles deixam o capital...

‘Origin’: narrativa forte em contraste com conceitos acadêmicos

“Origin” toca em dois pontos que me tangenciam: pesquisa acadêmica e a questão de raça. Ava Duvernay, que assina direção e o roteiro, é uma cineasta ambiciosa, rigorosa e que não deixa de ser didática em seus projetos. Entendo que ela toma esse caminho porque discutir...

‘Instinto Materno”: thriller sem brilho joga no seguro

Enquanto a projeção de “Instinto Materno” se desenrolava na sessão de 21h25 de uma segunda-feira na Tijuca, a mente se esforçava para lembrar da trama de “Uma Família Feliz”, visto há menos de sete dias. Os detalhes das reviravoltas rocambolescas já ficaram para trás....

‘Caminhos Tortos’: o cinema pós-Podres de Ricos

Cravar que momento x ou y foi divisor de águas na história do cinema parece um convite à hipérbole. Quando esse acontecimento tem menos de uma década, soa precoce demais. Mas talvez não seja um exagero dizer que Podres de Ricos (2018), de Jon M. Chu, mudou alguma...

‘Saudosa Maloca’: divertida crônica social sobre um artista boêmio

Não deixa de ser interessante que neste início da sua carreira como diretor, Pedro Serrano tenha estabelecido um forte laço afetivo com o icônico sambista paulista, Adoniram Barbosa. Afinal, o sambista deixou a sua marca no samba nacional dos anos 1950 e 1960 ao...

‘Godzilla e Kong – O Novo Império’: clima de fim de feira em filme nada inspirado

No momento em que escrevo esta crítica, caro leitor, ainda não consegui ver Godzilla Minus One, a produção japonesa recente com o monstro mais icônico do cinema, que foi aclamada e até ganhou o Oscar de efeitos visuais. Mas assisti a este Godzilla e Kong: O Novo...

‘Uma Família Feliz’: suspense à procura de ideias firmes

José Eduardo Belmonte ataca novamente. Depois do detetivesco – e fraco – "As Verdades", ele segue se enveredando pelas artimanhas do cinema de gênero – desta vez, o thriller domiciliar.  A trama de "Uma Família Feliz" – dolorosamente óbvio na ironia do seu título –...